субота, децембар 30
понедељак, децембар 18
четвртак, децембар 14
понедељак, децембар 4
DOIDIVANAS DIST�PICOS: Sobre o estado de s�tio
уторак, новембар 28
среда, новембар 22
não me faça chorar.
A encenação se desdobra segundo um sentimento de vertigem: mise en abyme.
não é sequer difícil escorrer de uma borda a outra.
mas ninguém disse ser possível se alojar nessa clivagem.
combino artifícios e temeridades
para desarmar os esforços de persuação de todo aquele que quer ter a ousadia de crer, ou o desejo de fazer crer em figuras, tropos, deuses, ou qualquer outra sedução do discurso.
среда, новембар 15
Penso num silogismo prático que possa estruturar minhas questões. (Essa comicidade não nasce de um artifício, apenas da paciência de uma impaciÊncia. )
o puro a priore nunca existiu, ou nunca algo existiu que não fosse puro a priore?
O objeto pulsante que persigo escapa todas estas letras. só porque palavra puxa palavra não quer dizer que as coisas se resolvam assim.
Je suis en toi le secret changement
Se me interrogam, respondo que os mortos vão bem, depois da fuga pânica das bestas.
Traço por traço, já que não dispunha de nenhum outro documento que não a memória,
EU O FORMEI, TOQUEI, SUSPENDI, O FIZ E O FIZ CAIR.
desamparo?
é indigno de grandes personas mostrar a perturbação que sentem.Ela deve estar lá, instalada delicadamente, pronta e ao mesmo tempo invisível, como uma queimadura suave
não destruído, mas largado como um detrito.
RASTRO. ( continuo a achar que o amor é uma dança).
onde está o corpo?
Uma flor por um cigarro? Já me acostumei com essas trocas banais. Um mal esse costume, mas sabe como é, não há menor generosidade nessas pétalas do que nas cinzas que acabaram de cair. Meu mal me quer bem me quer, meu bem me quer meu mal me quer. Um mal por um bem e por aí vai, até inverter. O duelo íntimo do amor em um feito bem mais íntimo do que toda essa inconfissão;
ou o que trago em uma flor de amor é tão mais imprudente e sincero com nossos corpos
quanto forte e maligno com a nossa união?
Juntos juntos, tão mais seguro esse espaço de corpos que não se dão conta...
Mas não é da conta de ninguém, mesmo! Mal me quer bem mal me quer. Mais cigarro para eu continuar isso, quero despedaçar essa droga de Margarida por essa sua cor pelo seu cheiro pela sua fé inócua e infértil.
Mais um cigarro porque é preciso exumar tudo em volta, desde o meu acender de cigarro, notem bem!, ao esquecer do tempo estúpido que brinquei de chorar. Catequizar a promessa de um mal me quer volúvel e solitário. Quero pactuar com os anjos trair o diabo gozar em Cristo e foder muito bem fodido até arregaçar e comprometer ao extremo a carne que demanda e subnutre essa fé apenas para ver se arranco dela algum laço bonito que amarre a minha vida. Te farei um presente.
Que me vale a Merda du Monde? Não não não. Três vezes foi negado. Três vezes será renegado. Repetido? Não não não. Não. Pode contar!
(Cuspo para o alto. Bem alto, para fazer meu escarro voar para onde é preciso, mesmo sem a esperança única de conseguir. Esperança, alguém me lembrou dela? Isso é uma luxúria para mim! Uma grande abertura para o meu riso o meu sexo o meu pouco caso salivar. Não me comprometo com o não. Já insultei a minha Fé e difamei todos os meus Pensamentos com essa água maltratada que saiu da minha boca agora agorinha direta assim num jato. Sobe fezinha, sobe!)
A esperança de quem aguarda um final é inquieta pecaminosa vulgar. Sim, ela não é nada, não. Esperança: um sentimento em desidratação, e nossos dias estão tão quentes, Babe, e nada nos determina tanto quanto o absurdo de toda essa nossa prosa, que, Irmão, não te traz e não me leva a lugar algum.
(Aguardo abaixo do céu o meu cuspe. Ele cai sobre os meus olhos e escorrega molhado e bento, em minha face quase renegada, feito lágrima.)
Por isso, um aviso por um milagre, Camarada: não permita que te sequem a boca! Já vi isso antes, e se gosta de parábolas, no reino dos céus adormece um anjo muito feio e triste que, de tanto fumar e despedaçar Margaridas, teve o seu jardim liquidado. Dizem que foi acidente, um incêndio.
Escute! Os meus conselhos são de...
("Você quer mais um copo?", "Claro!, hoje quero beber a angústia do mundo. Essa puta vadia já foi longe demais. Entorne cerveja nesse meu copo, por favor!"; Copos servidos e corpos a postos, escuto ao meu lado o brado feliz de anjos póstumos "TIM TIM!")
уторак, новембар 14
Resta o fôlego.
Eu tinha para mim que essa convicção era a passagem para uma segurança, mas saquei, pelo contrário, que ela está no risco do perigo.
Se ao menos eu tivesse o desespero e a certeza de que tudo está errado, que nada leva a nada, e o mundo não passa de uma tautologia cínica.
Ainda, se não me adoecessem o messias do desastre, à proximidade do fim, enérgico e esperançoso, como um dândi apocalíptico, eu blasfemaria. Se ao menos a paixão pelo erro, pelo fracasso, me asfixiasse, me matasse como algum gás letal, força ou convulsão na garganta... o que eu escreveria aqui?
Pos-Scriptum: Mamãe me falava que sentir ao menos é reclamar por mais. Tentava, materna e mandona, calar a minha boca, roubava-me o choro e o seu fôlego - esôfago. Interminável duelo, de mamãe: a sua natureza contra o meu grito. Ou seria só um suspiro - doce e branco, como os da padaria?
уторак, октобар 31
ouvir um certo
burburinho, um rumor que secreta um corpo: é o som
causado pelo
atrito da ponta do lápis que risca a folha de papel.
(Um traço irrompe.)
Ce qu'on sait n'est pas à soi
Consteladas as vozes, diversas, somos
lançados para o vazio em que se trava a batalha pela
visão da escrita,
no desejo de que uma outra escrita possa surgir: dos
afetos, dos
fulgores, da paisagem.
(Para o corpo que se insinua junto ao meu, espalho um
rastro de
cintilâncias: meu corpo amolece, debruça-se sobre o
outro, vai e volta,
desprende-se de mim e abre-se ao fora de si mesmo:
estofo / caliça /
espumas.)
Mas na hora de voltar à tona já não havia os encantos submarinos e reaparecia a ânsia do afogamento. Você sabe? Você sabe, por acaso? A essa hora onde andará meu amor? A essa hora, onde andarão os meus amores? Meus dois, três amores? Onde andarão a essa hora? Onde está você? Adiós muchachos, compañeros etc. Fome de amor. Por que eles me deixaram sozinho numa hora tão difícil de se entender?
Escrevo nestes cadernos para que, de fato, a
experiência do
tempo possa ser absorvida. Pensei que, um dia, ler
estes
textos, provenientes da minha tensão de esvair-me e
cumular-
me em metamorfoses poderia proporcionar-me indícios do
eterno retorno do mútuo.
leio estes cadernos para sorver o espernear : a imagem
de uma extinção. De um exílio.Eles irão para longe. e
não, não irão voltar;
But that must not lead to a kind of neutralization of differences
To keep the outside out.
é assim: A gente avacalha e depois se esculhamba.
Oh sombra de remedio inconstante,
ser en mí lo mejor lo que no es nada!
O meu caminho, por outro lado:
É um
caminho ainda viável, uma espécie de caminho de ronda
que
ladeia, vigia e, por vezes, duplica o outro caminho,
aquele
onde errar é a tarefa sem fim.
venho a
esta casa com o sentido indagador que lhe
dou. Prescutar e receber
certas dobras quase
gastas e apagadas de acontecimentos históricos. O
livro não
é, para mim, o objeto rápido de uma leitura; dissimula
um
mútuo: uma época e alguém.
é de esperar que alguém se obstine em fazer coisas assim. Mas pra que também essa originalidade toda? Nada interessa?
Principio a recorrer às palavras que anunciam a
realidade.
Por que brincas? Por que não brincas? Porque
brincas
sozinha?
Por necessidade de te conhecer. De conhecer-te
respondo.
Entraste no reino onde sou cão. Pesa a
palavra.
Eu peso.
Desenha a palavra.
Eu desenho.
Pensa a palavra.
Eu penso.
Então entraste no reino onde eu sou cão
concluiu ele.
(Maria Gabriela Llansol,Maurice Blanchot , Stéphane
Mallarmé,
Clarice Lispector, Caetano veloso e eu mesmo)
четвртак, октобар 26
Por que as coisas se repetem para mostrar que nada permanece?
среда, октобар 18
É que temos muito medo de ser parvos.
уторак, октобар 10
-Entre._ o mundo é mesmo essa quimera semi-horrenda.
Nos deixemos cair, ora, num doce abandono no meio desta desordem. Por trás, mais longe.
-O mundo está, para mim, deserto. Quando chegará o momento de estancar essa hemorragia? Minha dor não tem cura.
- há uma espécie de beleza nisso... uma grande farsa... um carnaval nunca vivido... uma catástrofe sem lágrimas... uma súbita aflição basicamente triunfante... deleite, desvio,delírio, desespero, desvario, desaparição.
- eu queria dizer que permaneço bêbada para sorver a sobriedade do mundo. Mas basta dessa vida pela metade. Basta de Eu e Outros.Estes subterfúgios que são as dicotomias eu blasfemo. Estou bêbada e sobria, sou eu e todos os demais. Atravesso a cisão que nunca foi senão o reflexo de uma tênue poça d'água.
- você corre..... Não quer....acho que honestamente evita... Mas leio-te e vejo o mesmo intelectual de sempre. A consciência de todos...Falando em nome do universal. Pescando do abstrato céu a verdade e oferecendo, "generoso" sua determinação possível aos bossais.
- eu posso falar de um único homem, ou de todos os homens. Por que escolher a forma menos dispendiosa, menos aleatória, menos sucetível à escapatórias, à deslizes, aos empurrões?
- não há nada a se compartilhar entre todos os homens.
-Há: a vaidade, o cinismo e a luxúria. Há também o sonho, a bela, inútil mas soberana capacidade de sonhar.
недеља, октобар 8
субота, септембар 30
Ele pôs uma roupa bem bacana, e foi. Era como eu quando comecei a escrever isto. Não sabíamos, nem eu, nem ele, muito bem o que queríamos, onde iríamos, o que nos esperava. Apenas era impossível ficar ali, ele em seu mundo, eu na minha primeira palavra.
Não sei muito bem como nos encontramos. Ambos sem rumo, mas conscientes de que não há nada de especial nisso. Alías, nesses dias, este sentimento é tão vulgar que seres de exceção querem fugir dele. Mas ele ia. Até qualquer coisa que não fosse ele, que não estivesse impregnado de seu cheiro, de suas vontades. Repito que não sei como pudemos nos encontrar. pois meu caminho é reto e simples. Ir até o fim da linha e voltar. E ir de novo. Nâo tinha nada a dizer. Apenas queria arar este espaço tão branco. Ele andava em círculos, em elipses improváveis, rotas desarmônicas, cambaleantes. POr tantas vezes parecia trombar, tropeçar, trapacear. Ele queria tanto escapar de si, e eu sempre tive que inventar. Ele, materialidade pura, tão ferido, tão castigado, tão real. Eu, de primeira, não pude entender. Meu caminho, sempre em linha reta, na verdade sempre fez em si todas as curvas, todas as digressões, todos os destinos. Eu sempre fui bela, éterea, impossível, ficcional. Sempre pude tudo, e aquele moço, tão pouco.
Não sei bem quando foi que nos encontramos. Acho que foi há muito tempo atrás, ou tanto tempo depois. Sua dor é a esperança da minha próxima letra. Seu passado, meu outro futuro; sua ruína, meu monumento. Seu sossego, meu espaço.
Escorre sangue do enlaço que nos une.
-coisa bonita isso... (vê ai a saideira? mais um maço de cigarro!)mas pra quê vocÊ falou isso tudo ?
-POr que as pessoas teimam em dizer que isso tudo não é real?
-pessoas existem?
- Pessoas não existem. Apenas a noite existe. Pessoas... em geral, elas são apenas perda-de-tempo. passa-tempo;
- vejam, o dia... o bar está fechando... não se pode pensar impunemente.
среда, септембар 27
Lago de Narciso
fingem
não vêem que eu nasci pra ser o super bacana.
EU
. Saio da fossa,
dançando
nagô.
Eu sou o samba!
sou o rei do terreiro .
sincero contradizendo-me a cada minuto, desagrado pela plena liberalidade de espírito. Amo como um deus. Te perdôo por te trair.
четвртак, септембар 21
среда, септембар 20
senão deste modo. Enganam-se aqueles que pensam por isso surgir um discurso de caprichos e futilidades. Apenas indico.
Uma fina camada de poeira cobre todo assoalho. Uma espécie de epiderme, cuidadosamente tratada, a fim de proteger os mais frágeis das alterações prodigiosas do devir. è estranho pra você também, isso de perceber que não mais importa?
A cama desarrumada há dias. Roupas e livros formam um conjunto belo de tão desarmônico. O que pode por as coisas em seu lugar? Precisa-se de uma faxineira. Uma faxina que ultrapasse o ôntico. Uma faxina fenomenológica.
Tenho metros e metros de papel-bolha. Estourá-las têm sido a coisa mais útil dos ultimos dias.Pensando bem,
é uma coisa meio estúpida isso de não saber a diferença entre o estranho e o familiar. Na verdade é a estúpidez de uma época, da mesma natureza dessa bobagem que é sentir saudade
que nunca existiu, Quanto pode valer uma hora do meu dia? Como sou livre, defino eu mesmo minha mais-valia. Contabilizo, e espero. Sou um produto que peca na relação custo-benefício.
Espanca quem quer levar.
субота, септембар 16
O que exatamente se sucedeu ontem é assunto para sagazes historiadores das bizarrices culturais.
Eu, distante deste meio tão erudito, me perco em sistemas muito complexos de pensamento, tudo muito chique e inútil.
Nunca consigo saber se é porque já conheço os passos da estrada, ou se é porque quero que você venha comigo.
Acho que é o calor que co-funde tudo.
Também sou um ratinho de laboratório a espera do fetiche do cientista ausente.
E sou também a abóbora que ainda-não virou
carruagem.
não posso curar as escrófulas, mas tenho mãos taumatúrgicas;
vc se esconde.
Ela não vem.
e os outros, são rosto ou fronteira?
ou ainda, apenas um devires?
no fundo, se trata saber o limite entre o irreverente e o ridículo.
e esquecê-lo em seguida,
ou pulá-lo;
às vezes é só uma vontade de férias de si mesmo, para ficar com meus outros eu, em nenhum lugar.
субота, септембар 2
Parece que deus o fez morrer durante cem anos. E ainda não passou mais do que uma parte do dia. Todas as horas pareciam um impostergável deserto chuvoso. And all these things...ele Incluia nessa sensação um amargo projetado nas ausências da noite passada. Refletiu que é lícito sucumbir às fraquezas da carne.
Alguma vez aceitou. Quando passa a exaltação, tudo se reduz ao mais simples. "por que você não veio?" se torna imediatamente uma pergunta intolerável. E ela sabia constatar o insuportável. E nas cartas que envia a seus amigos, o Irreal diz.
Manhã cinzenta e amena. Sofro, por mágoa ou por felicidade. Tive pesadelos. Saiba que estou lhe escondendo alguma coisa.
Ela cozinhava, mas os filhos não viriam comer. Figura deliberativa, continha um furor que desliza. Drene aquilo que é senão uma hemorragia.
Nesses racantos mortos, o som não circula.Pensar é pensar que as coisas não acabam nunca. Por isso ele não pensa. POr muito tempo, como o poeta, pensou ser ausência, falta.Agora já não pensa. Love Is Stronger Than Pride. Ri, ri.
Minutos depois, o ferro em brasa. Onde foi que você deixou sua cabeça? E isso tudo, abuso ou indispensabilidade?
Sabia-se tão viva quanto dependente. Anaisanais e um vestido a-histórico. A madrugada, espremida.
sim, algum dedo toca as teclas,
mas por propedêutica demitiu-se de ser.
уторак, август 29
петак, август 25
uma necessidade que me rasga pelo lado de lá. Não preciso contar-lhe nada. Preciso mesmo e antes inventar uma maneira de você me ouvir.
Ei, presta atenção em mim.
Eu, objeto digno de pesquisa arqueológica e erudita. Mais do que uma antiguidade quantitativa,mais do que um documento de arquivo. Não extraia meu valor do fato de eu ser inserido, mas do fato de representar algo a mais, algo de diverso. Ei,
Vou te contar: da minha cabeça desprende-se elipses negras, e no meu torso, algo tenta aferrar-me enquanto revira, sacode, atira, estripa-me. Jogando.
Já fui de você?
uma vez, agora já não mais.
na verdade tudo procedeu-se de maneira demoníaca. mas você não deve ficar surpreso. Não fica. eu não fico. o mesmo mar e dois sóis. O mesmo sol e muitos horizontes. esse lugar inventado, onde se compartilha apenas o exagero do desencontro, a hipérbole da dessincronia. uma dimensão rarefeita. O foco desta experiência não é mais o instante pontual e inaferrável em fuga ao longo do tempo linear, mas o átimo da decisão autêntica, em que se experimenta não apenas a própria finitude, mas que se projeta além de si no cuidado.Isto não significa que o prazer tenha seu lugar na eternidade.
понедељак, август 21
четвртак, август 17
Papai me dizia isso, como eu ainda lembro escutá-lo me dizer isso, como, como, aquele ar folgado, com o olho direito meio cerrado sobre mim a descobrir me revirar, eu diminuto diante dele e lá, por cima, ele a me visar como quem olha algo pela lente de um microscópio e tenta relatar o que vê em minúcias verbais detalhes que encaixam as palavras para dar o sentido daquela luminosidade vista, papai me encarava assim, como quem estuda um ser minúsculo, em segredo, quase sincero. Penso que papai hoje gostaria de me colocar numa grande mesa com lupas gazes e bisturi ao lado e examinar parte por parte dessa fantasia que me tornei. Será papai?
"Então você saberá de tudo um dia", papai falou.
Será papai?
Bom ser assim.
A felicidade é página em branco.Eu sei. Aliás, eu sei de várias coisas.
Bom ser assim também. Odeio falsa modéstia. Sou sim, assim, desse jeito. Fazer o quê?
Convivo com isso. Quase um fardo. Oh céus.
Doa a quem doer. E se doí em mim? Posso suportar.
Vivo assim tem muito tempo.
Já não posso pedir desculpas por existir. - meu amigo, traz uma cerveja. A dor é grande.
-vai passar?
- se não passa, passa. e se passa, não passa. Quem vai saber?
- quem escreve.
-quem escreve?
Quando a casa está em chamas é inútil querer salvar os movéis.
-como foi de viagem?
уторак, август 15
понедељак, август 7
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo. / Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, / E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá, / Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa." Ainda toca jazz. Anda, tenho que estudar. ainda há um bar aberto? há de ter. há de ter.
петак, август 4
reparou na flor matizada nascida na areia que escorreu entre seus dedos.
Não podia desviar-se.
-Oh se me lembro e quanto. E se não me lembrasse?
Aquela tristeza metafísica era fruto de uma falha de caráter. Era fácil olhar e estar certo. fácil olhar e prever. De resto, cabia apenas a resignação de quem olha as montanhas e sabe que nunca verá o mar.
- poucas vezes é tão doloroso dizer "eu já sabia".
- eu vivi uma história não documental. Sou devedor do meu passado.
- o mais difícil é saber que não tem fim. ou ainda por fim. é muito difícil ter misericórdia.
- não posso te contar porque qualquer redução seria insuportável. senão...
- se não?
- o que?
- a vida toda espero despreender um minuto.
São guerras mudas, filhas de uma indiferença armada. Qualquer coisa tão presente e íntima que ameaça triturar
uma flor, que resiste.
- E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,
unidos pela impossibilidade de desligamento,
acomodados, adversos,
roídos de infernal
curiosidade.
недеља, јул 30
уторак, јул 25
-Repare: não somos tão diferentes assim. Levantando edifícios como quem constroe castelos, na areia.
Veja aquele outro: enfastiado.
- a gente passeia pelo mundo como quem consulta um catálogo:a) carente profissional,b)moça apaixonada, c)divorciada bem sucedida,d) corno,e) mal-amada,f) cobais de deus,g) anjo caído,h) mulata sambista, i)trocador de ônibus,j) fadas,l) vermes,m) cagão,n) cara-de-pau,o) desmiolada,p) precoce,q) ingênuo,r) gatinha de rua, s)filosofo de calçada,t) revolucionário de buteco...
-e nós?
-um vício só não basta. Depois que eu descobri que era triste
As tardes ficaram mais azuis
Eu descobri. Eu sou triste
Depois que eu levei porrada
Que os urubus se mostraram
Depois da ingenuidade
Entrei numa fase estranha;
- Esta melâncolia não lhe parece patética? vc fala como um garotinho perdido dos pais...
- vc não pode adivinhar o que está rolando de novo. Não se trata de estar aqui ou lá.Percorro suas vias. um vício só não basta.
недеља, јул 23
Nunca tive notícia de nada incontornável.
Essa coisa de lugares sem saída é pra gente sem imaginação.
Mas imaginar não é uma levianidade, algo que vc faz por que não tem nada melhor pra fazer. é um inescapável exercício de agrura. Mas com a leveza de quem acordou cedo e foi a feira.
ou recebeu um buquê de flores.
четвртак, јул 13
Retorno. Mas o que me intriga em tudo é que ando tão dispersa, que preciso ensaiar ser alguma coisa antes de ver pessoas. Eu preciso criar meu rastro antes de deixá-lo.
Não tenho nada em mim de espontâneo. O mínimo ato, entrar na cozinha pela manhã, e pegar um café: precisa ser muito bem pensado antes. preciso criar, cada passo, cada gesto, cada palavra a ser dita. Não pela necessidade de ser perfeito, mas pelo risco de não ser nada.
Sinto que abandonada a mim mesmo não levantarei da cama. Ou antes, apenas me dissiparei. Dissipará o resto de coisa concreta que me prende: este corpo. De resto, já desapareci. é só porque já desapareci que apareço, vez ou outra, como uma assombração para meus escolhidos, de uma forma assim, cruelmente irrisória.
- e isso te pertuba?
- Pois.
Fico pensando se pode ser natural não possuir nenhuma natureza.
- na verdade pertuba tanto quanto escolher. Porque na escrita a gente escava e procura e escolhe o segredo ou a dúvida mais bela, ou mais intrigante, e as sobras a gente vai ajeitando e pondo depois ou pra outra hora. na vida tb. Já que o infinit vai pra frente e pra trás, eu nem me preocupo.
четвртак, јул 6
E porque não? é menos importante por ser assim? é menos digno?e o que seria se fosse de outro jeito? não seria apenas outro jeito? o inventado é tão relevante... as coisas mais importantes em minha vida são inventadas. As mais bonitas também. Na verdade, eu nunca consegui distinguir muito bem entre o que é ou não inventado. O não inventado tem o direito de doer e o inventado não?
Apenas sorrio. - eh, você deve ter razão.
porque eu não quero criar um argumento. Se eu quisesse, o faria, e bem. Venceria.Porque eu sei inventar, e quem sabe inventar, sabe ter razão quando bem entende. Mas eu não quero vencer. Um egoísmo. Isso que eu descobri, é só meu. Entrevejo que outros também sabem, mas não me contam.
é uma descoberta triste. feita mais de letras, do que de que carne. é mais incapacidade do que capacidade. é ver os outros, e ficar sem outros. é menos atributo do que defeito.
E,
ainda assim,
tão exigente. requer carinho cuidado atenção. Precisa ser,de tempos em tempos,
re-inventada.
e felizmente, não precisa parecer 'real' para ninguém.
уторак, јул 4
- nada mais.
Todas estas músicas, todos estes tropeços, tantas mágoas, tantos risos, tantos nadas...
- é. nada mais importa.
Penso que estou cansada dessa história de ser mais que fútil, tanto quanto estou cansada de ser só tão fútil.
- a gente toma uma saideira.
Ele me vê. quem me vê? tantos me vêem. Eu nunca vejo.Sinto asco em ser vista. Mas tudo continua.
- só mais uma. carreira.
contínua, continua. tenho raiva, tenho pressa, tenho pena.
- mas só agora vc notou que nós existimos?
- já não importa.
mais uma, mais uma.
Um copo, uma pessoa, um doce, um afeto, um cansaço, um...
-e quem vai pagar por isso?
- quem será capaz de calar-me a dor?
a vida, a vida, a vida.
eu finjo rir.
eu também finjo chorar.
- estamos num mundo onde não sente mais nada.Direita ou esquerda, humanas ou exatas. Estamos no mundo onde.
-mais uma,
- ... e o dia amanhece.
понедељак, јун 26
Por baixo aquilo foi um grande sono. Quando burlava a vigília minha cabeça sonâmbula andava por mundos nunca dantes vistos. Meu dedo desenhava sob a pele alvos-desejo aonde meus dentes fariam o trabalho bruto de aspirá-los. Meu corpo ainda soluçava ao toque tentado enquanto a mão, essa que pega fecha e segura, fraquejava ao insistir agarrar o ar quente brilhante que circulava do quarto da boca de mim. Primeiro bate bate. Tudo eu ganhava quando tudo eu perdia. Desatei a me rasgar naquela colcha de arames cortantes que corta fino e doloroso quando mais eu me batia e debato gritando ai ai ai mais corta cortantes cortes invisíveis pululantes de tão puros de pele quase sangram não confirmo se sangram sinto que escôo deságuo me liquido mas não sei se há um filete de sangue escorrendo e manchando esse lado da parede. Alguém sabe?
Por cima poderiam ser as estrelas. Cada marquinha letrinha palavra frase solta em verso aspas travessão na parede cortinavam-me constelações superiores cintilantes paralelas às minhas costas ao peito à palma da minha mão alheadas ao meu prazer e inspiradas em me vigiar prender enrolar-me e rasgar-me com essa colcha felpuda de arame farpado. A parede branca tinha já o seu reverso em um buraco negro. Quase-preso, sugado para aquele interior, arrisquei: "A perda seria o melhor preço".
"Qual é o preço para gastar isso?" perguntei, "Isso?? Isso é impagável..." a voz rouca respondeu-me, "Ok, quanto?" reafirmei meu desejo de desperdício, "Não tem preço, já lhe disse meu querido" retomou a resposta, "Filhodaputa não estou perguntando se você teria milhão para pagar isso eu lhe pergunto qual é o gasto disso?", "... ... ..."
Protestei furioso à ignorante pobreza do meu vendedor e tomei de assalto o precioso bem que só pedia o meu gasto maldito. Bandido, ainda temo a cadeia por esse meu ato. Subserviente, adotei a lógica do sistema. Sem saber, já caí na prisão.
Meio por meio aquilo era o outro ausente, fetiche. Assombro do que me escapa gasta e cobra do que me compra pede do que eu dou gasto rubro roubo pago cubro sopro vejo rio sozinho sinto que choro mas não choro daquilo que eu reclamo todavia eu não reclamo. Palavrinha por palavrinha meu redemoinho é aquela rachadura na parede cuja volta traz letrinhas cadentes para marcar por onde eu devo olhar. Ah, aquela parade, aquelas palavras, aquele astro no céu pêlos pele sem sangue sujos gozados amassados um sobre o outro, ah, aquelas palavras flutuando na parede... Mas o que era mesmo que estava escrito por lá? Não consigo recordar tudo direito para fazer essa história correta. Acho que li aquilo torto inclinado sobre o meu tronco. Meio por meio quase em silêncio antes de sonhar perguntei às palavras: "Isso dá uma história?". Não nunca deu. Sempre acaba e nunca para. (Quem me respondeu?)
Enquanto o Mundo gira, eu oscilo cambaleante.
субота, јун 24
um me sussura pelas costas promessas de um mundo mágico. Onde vc quer chegar?
Nesse lugar não me reconheço. Seduze-me a estranheza;
Ali,
eu sou outra pessoa.
O outro sou eu.
Mais eu do que eu mesmo. Tão mais do eu mesmo que me faz desdobrar.
Ali, eu sou eu mesma, e mais tudo o que quiser.
Seduz-me porque potência.
Um não me conhece, mas pensa que sim.
outro me conhece plenamente, mas ainda não sabe.
-Eu não estou.
Não precisa escolher. Eu não quero cutucar o que eu sinto. Não se faz autópsia do que não nasceu. MAs, se eu não disser nada, como é que eu vou saber?
четвртак, јун 22
a fiz. Porque resolvi que ali eu deveria ficar só, para escrever
livros. Foi assim que aconteceu. Eu estava sozinha nesta casa.Eu me fechei – eu tive medo também, é claro. E depois eu
amei esta casa. Esta se tornou a casa da escrita.
DURAS, Marguerite
петак, јун 16
Quero que se dane.
Se alguém entender o que eu disser, é porque me expressei mal.
- sim. Só acredito em histórias em que as testemunhas foram degoladas.
среда, јун 14
понедељак, јун 12
Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar u~a hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.
Luís de Camões
четвртак, јун 8
Uma Clareira
sempre
se abre à
minha passagem.
Um grande ectoplasma.
Os meus estojos carrego comigo,
pra quando me pinto
de vermelho,
e tudo em torno
desfalece.
Sou feliz.
Nada (esqueçamos
o invejoso tempo) me devora.
Repertir-me é
o único elo
com a necessidade
da eloquência.
Mas rápido retorno à
minha solidão extática e inexpugnável.
O verdadeiro rei sou eu.
( Ronald Polito)
уторак, јун 6
não.
recuso a medicina que ansia sedativa tratá-la da mesma forma, sob a mesma ferida, onde a vejo, ali sangrada. dói. e dói, pelas mãos de quem não a fez. e dói. loucamente sangra.
mãos perdidas.
mãos? mãos? de onde as mãos? de quem as mãos?
não concluo minha dor. as maõs não me apresentam uma sentença para acalmá-la, curá-la. mãos?
mãos?!
sempre uma mão para tratá-la. mãos? e cicatriza?
que me é doido de uma dor que não se imagina, que foge ao toque. quem tem a cura? para quê? de quem são as mãos? me fazem a cura? me cura e cura?
e essa cura sobre o não-sangrado? o exame que busca o sangue: sangue? onde sangra? que mãos me sangram? por que me sangra?
olham o meu sangue!! sangue? isso é sangue? não... eu que me esvaio, me diluo, me sangro, mas aonde sangra? ainda sangra? mãos? quem tem a cura?
"sim...", diz-me lá, "o sangue é verdadeiro. é vermelho. é corrido. e eu curo."
digo (com poros já melados): " e esse comprometimento com o inverídico?"; quem me diz, sobre aquela história sobre o nunca visto? sangue? quem o quer? me apresente! o meu sangue vermelho que nunca coagulou, que resiste, que fecha, que sobe à cabeça e não passa, a despeito do meu corpo, do vermelho, que extravia a maldita cicatriz?! ah...! a cicatriz, ela prova, ela condena e me empurra o seu olho suas mãos. o seu sangue? para o sangue. da morte? do sangue?
não carrego marcas, quem me põe marcas? não suporto as dores que pesam. quem me dói? quem me pesa? quem me sangra? e quase sangra, e quase fere, e ainda escorre e machuca, e machuca, e pesa, quase mata, mas não mata, quase mata!, e sangra, já vermelho, quase sangra!; mas não-vermelho, sem a cor, fulminante incolor, facilmente limpo.
me pegam o papel, me passam o papel, me tampam com papel. quem traz o papel?
me escondem a ferida de algo que ainda se faria doer de corte, de sangrar, de acabar invisível, vermelho, morto, melado cerrado fechado selado calado final.
понедељак, јун 5
Assim. Viva o colapso da humanidade. Da cultura. Do tempo e do espaço.
O espaço da poesia é o do isolamento e do retraimento. Não o silêncio, mas a interferÊncia surda, que se não se liga pelo bem comum, mas pela crueza de ainda ser algo, cambaleante, inacabado, cafona, mas ainda vivo.
Talvez o único vivente, já sem razão de ser, sem eira nem beira. Porque hoje há que ser cínico, hipócrita ou ingênuo pra acreditar.Três caminhos possíveis, ambos cretinos. O mundo já não comporta mais nenhuma crença que não seja uma cretinice.
Engula o chôro.
Pois, posso ser triste. Mas pior pra os neo-tarzanistas, que são feios e burros e não morrem nunca.
недеља, јун 4
недеља, мај 28
E a noite chega sem que eu saiba bem,
Quero considerar-me e ver aquilo
Que sou, e o que sou o que é que tem.
Olho por todo o meu passado e vejo
Que fui quem foi aquilo em torno meu,
Salvo o que o vago e incógnito desejo
Se ser eu mesmo de meu ser me deu.
Como a páginas já relidas, vergo
Minha atenção sobre quem fui de mim,
E nada de verdade em mim albergo
Salvo uma ânsia sem princípio ou fim.
Como alguém distraído na viagem,
Segui por dois caminhos par a par
Fui com o mundo, parte da paisagem;
Comigo fui, sem ver nem recordar.
Chegado aqui, onde hoje estou, conheço
Que sou diverso no que informe estou.
No meu próprio caminho me atravesso.
Não conheço quem fui no que hoje sou.
Serei eu, porque nada é impossível,
Vários trazidos de outros mundos, e
No mesmo ponto espacial sensível
Que sou eu, sendo eu por `'star aqui ?
Serei eu, porque todo o pensamento
Podendo conceber, bem pode ser,
Um dilatado e múrmuro momento,
De tempos-seres de quem sou o viver ?
Fernando Pessoa
понедељак, мај 22
Paul Klee
понедељак, мај 15
se pudesse falava, enrolava a língua, e sussurrava essa canção para vocês.
mas não me (nos) é possível, o que se há de fazer?
Gosto de sentir a minha lígua roçar
A língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesias está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior
E deixa os portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala mangueira!
Fala!
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim
O
O que pode
Esta língua?
Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas
Sejamos imperialistas
Vamos na velô da dicção choo choo de
Carmen Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da
TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Sejamos o lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em Ã
De coisas como Rã e Imã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon Chevalier
Glauco Matoso e Arrigo Barnabé e maria da
Fé e Arrigo barnabé
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim
O
O que pode
Esta língua?
Incrível
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar
Se
É melhor fazer um canção
Está provado que só é possível
Filosofar em alemão
Blitz quer dizer corísco
Hollyood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o
Recôncavo
Meu medo!
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria: tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta e prosa caótica
Ótica futura
Samba -rap, chic-left com banana
Será que ela está no Pão de Açúcar?
Tá craude brô você e tu lhe amo
Qu’é qu’eu te faço, nego?
Bote ligeiro
Nós canto-falamos como que inveja negros
Que sofrem horrores no gueto do Harlem
Lívros, discos, vídeos à mancheia
E deixe que digam, que pensem e que falem...
(Caetano Veloso)
недеља, мај 14
fico aqui em silêncio.
cansada.
Love for sale,
fita-me...
mas saiba que somos incomunicáveis
eu gozo, peno, rio, desmaio.
pode ser assim?
teimosamente sangrando,
danço sobre as horas cotidianas.
E se vc não puder entender... fica assim:
é por vontade de deus esta ânsia.
um presente de deus esta angústia.
vire-se e retorne ao principado,
que fico aqui, Sem fim e sem sentido.
entenda,
eu não te acompanho mais.
понедељак, мај 8
Rainha de um reino perdido,
desolado, mas muito digno.
Majestoso.
Entendi a falta de clareza dos fenômenos
a indelicadeza do sarcasmo mal embasado
a crueza dos amores não correspondidos e das literaturas de cordel
o laço com cerol que arremata histórias sem contexto.
Vi que os dias de maio ainda são os mais belos. Fotografia perfeita para filme de um diretor ainda-por-vir.Desce um café meio amargo em algumas xícaras de esperança e desilusão.
Somem-se todos os juros de uma dívida imperdoável e cobre com o sangue daquele desejo mais profundo, e indizível.
Sim, eu sou rainha do meu mundo. Inventora dos meus clichês e cafetina do meu corpo. Dona do meu prazer e da minha dor.
Já a cidade e a ruína,
o Pai, o morto, e
ao fundo,
o som das asas das borboletas gigantes azuis,
que sobrevoam a China.
субота, мај 6
se?
mas, nada.
Retiraram a mesa. Agora vagam, estapafúrdios: o café e o sono, o pão e a fome, as flores sem jardim, a tesoura, o veneno, o pão-de-queijo, o ladrão boliviano, as arestas, as neuroses e as encenações.
Agora que não há mais lugar,
tudo na mais perfeita desordem.
Eu, vc e um outro não temos um passado. Somos assaltados pela presença sorrateira um do outro em locais submersos,
irrealizáveis.
среда, мај 3
Sentimo-nos deslizar pelo tempo, isto é, podemos pensar que passamos do futuro para o passado, ou do passado para o futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo: «Detém-te! És tão belo...!», como dizia Goethe. O presente não se detém. Não poderíamos imaginar um presente puro; seria nulo. O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro, e parece que isso é necessário ao tempo.
Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Tempo'
недеља, април 30
Assisto em mim a um desdobrar de planos.
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.
Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.
Murilo Mendes
среда, април 26
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
Cecília Meirelles
понедељак, април 24
Todos sairam de férias
Todas as luas se foram
E as crianças dormem pra sempre
Só sei do meu desencontro
de mim para com o mundo
de mim para com os deuses, que abandonei antes do tempo
de mim para com meu tempo
de meu tempo para com meu espaço
de meus desejos para com meus cansaços
de meus reflexos para com meus reflexos,
e de todo o nada que sobra deles,
que é tudo que não se reduz a eles
e que persiste, insiste, dura e grita o esboço das palavras que já não me querem.
Aquela ruína de pé,gentalha que rebola, que rebola e fede,
lembra orgulhosa das coisas que poderiam ter sido diferentes
e é tão mais bela que a calculadora empenhada, símbolo infesto,
numa mesa de bar.
Choco-me contra o espelho, e o despedaçar nao produz nada além de um belo espetáculo
четвртак, април 20
O azul me escorre por toda manhã.
A configuração dos traços fredianos se enlançou enamorada dos cactos que moram na minha janela.
Eu não sei se os marcadores de texto do meu livro lembram confetes de carnaval ou bandeirolas de festa junina.
Há tb uma questão de indecidível amor pelos socrátes do mundo... pobres escravos...sejam eles de Hegel, de Nietzsche, de Angola, de Atenas, de mim...
Porque eu, meus amigos, queria ser meu pai, minha mãe e meu filho. O Satanás, Deus, e a virgem. Frederico, Salomé,vinícius,Severino, Catarina, Fernando, Ernesto,Luís...e EU.
Mas pensando um pouco melhor, querer é exagero... Já não sei se sou capaz de querer... tomo por hábito e costume esta mania de escrever e copio, copio, roubo e copio, para rir sacudidamente...
sarcastimente...
docemente...
livremente...
posto que,
nada.
четвртак, април 13
Antonin Artaud, in: Position de la chair
среда, април 12
Friedrich Nietzsche, in 'A Gaia Ciência'
недеља, април 9
E essa vontade de permanecer de pé. apesar da fadiga e da fome?
Um buraco, era apenas um buraco,
o destino do livro.
( Um buraco-polvo, a tua obra?
O polvo foi pendurado no teto e os tentáculos começaram a brilhar.)
Era apenas um buraco
na parede,
tão estreito que jamais
pudeste introduzir-se nele
para fugir.
Desconfiai das habitações. Nem sempre são acolhedoras.
Edmond Jabès
уторак, април 4
понедељак, април 3
четвртак, март 30
Do patético espetáculo à bravura vivida
O inavegável
imprevisto,
cansado,
morto.
Levanta. Disforme e díspare.incompleto, inconcluso, impotente.Ressurge. Anda de ressaca do mundo pela vida e da vida pelo mundo. Onde é que faz sentido?
Este atordoamento vazio pululante.Entope. Entorpe. Resseca. Como os cigarros ao corpo em uma ação contínua, independente do ato voluntário, muma autonomia cancerosa, ensadecida.O ultimo cigarro e a ultima cerveja e o unico beijo se foram a várias horas. Mas o cigarro resseca-me e a cerveja ressaca-me.
Somente beijos se perdem em sua efemeridade.
Acho que peguei carona para o lado oposto da vida.
среда, март 29
esse buraco é apertado, meu corpo está esprimido
comprimido na minha queda.
esse buraco não tem luz mas também não é escuro
não vejo nada nele, não sei se ele é, ou será, ou já foi?, vazio
ainda estou em queda, não sei do meu destino
não vejo O Buraco, apenas sinto a vertigem que vem dele que vem de mim que fica em mim que não sai de mim que não sai de mim que nao...
não sei por quê tombei, nem sei se foi um tombo
não sei se estou a cair, não sei qual o meu movimento
se realmente existo, além desse buraco inquieto
que cai fundo invisível
O Redemoinho.
недеља, март 26
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.
É inútil dizer-me que as ações têm conseqüências.
É inútil eu saber que as ações usam conseqüências.
É inútil tudo, é inútil tudo, é inútil tudo.
Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.
Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.
Não vem com a tarde oportunidade nenhuma.
A.C
среда, март 22
Qual a diferença real entre suicídio e homicídio?
Dois. Não. Único. Tudo. Exceção.
Na janela, a espreitar o corpo, o desejo, o vício, o mal, o costume e a doença, estava não. Não estava ninguém também naquela mesma noite ainda na janela. Ainda não. Foi somente por um acaso que o corpo pediu o escuro do cigarro que não é luz que não quer iluminar. Não foi acaso. Não? Do outro lado o desejo do cigarro não era o mesmo desejo do olhar, da luz, e da sua falta. Não havia cigarro lá. Nem luz. Não havia nada, até então. De um lado cigarro do outro não, eles se olhavam, mas se recusavam a ser vistos.
Essa cena se repetiu uma duas três quatro cinco seis vezes: janela noite luz sua falta cigarro boca fumaça desejo.
Ele te conhece. Não: ele conhece ele você.
Você o quer? Não. Ele te quer? Não: ele quer ele você.
Ele pode? Não. Mas ele não espera, não aguarda; ele avança sobre você, ele olha para você. Ele só sabe ele você. E você? Não.
Uma noite sem você. Sem ele você. Sem dúvida, você já não é você, nem ele, nem ele você. Não. Você ele. Você aparece. Seu corpo já traga o cigarro, já sente o desejo que queima a garganta. Aquele é ele. Não. Aquele é você ele. A janela é desejo, o cigarro é escuridão, a fumaça é noite, a boca é luz.
Dia após dia. Não. Seu encontro é noturno, às escuras, com o cigarro (ora, não seja covarde! com quem?). Noite após noite seu encontro era com ele. Não era. De fato, seu encontro era com você ele. E o dele? Não: com ele você. Com quem afinal? Quando vocês, os dois e seus múltiplos, permitiriam, finalmente, um encontro de todos com ninguém? Não? Essa era a sua pergunta. Não, era a sua angústia. Seria a dele? Não.
Na décima quarta noite, após o primeiro olhar, ele você não suportou mais tanto esperar. Queria seguir, avançar, como ele sempre avançara, sempre. Não: você também deve confessar que passou a ir ao encontro dele. Foi chamado para olhar o corpo, a janela, ele. Mas ele não suportava mais tanta vontade, tanto guardar, não resistia mais a ele você. E mesmo que sentimento semelhante não rondasse sua cabeça, ainda que você quissesse ser somente não, você e você ele, talvez, por quê não?, ainda que seu corpo fosse feito de vício e de olhar, matéria desejo e desgaste, ainda assim, você nada poderia ter feito naquela noite, naquela sua décima quarta e última noite. Sua? Não. Dele? Não.
O vidro estilhaça: agora cacos no chão você irremediável. O disparo acertou seu peito em cheio manchando de sangue o corpo viciado caindo caído não sei aonde segura, não... Você rosna, somos dois animais tão inimigos, sou eu sozinho tudo o que ninguém jamais poderá transpor o corpo profanado pela própria merda puído pela vontade de quem vem e passa antes de chegar em algum lugar morrer morrer morrer é a minha vontade desde que olhei você, ao fim você ele, não ele você, não não não agora ele apenas você miseravelmente morto, não ainda vivo, você não se liga a ele e na sua apocalíptica hora de dor e morte você se despede de tudo quanto é possível oferecendo a sua morte a ele com o brinde de quem bebe o próprio sangue em luto e na ressurreição. Ele morreu. Não. Você. Não. Quem morreu?
"É triste já ter traçado diante dos olhos a daninha esperança de coisa nenhuma", você lia, ou será que lamentava, antecipadamente, sobre o futuro dele?
уторак, март 21
Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com u te dou o meu
com uma condição: não nos compreender
Pablo Neruda (Últimos Poemas)
недеља, март 19
ele leviano levando suas frivolidades na bolsa.
o outro não compreendendo porque está de pé.
ela escondendo do nada que é si mesma.
A presença esquiva dança perante a indiferença subjetiva do universo emaranhado,
estruturalmente vazio, conjunturalmente escroto, essencialmente fútil...
posso tecer teorias sobre todos os destinos e,
ainda assim,
ainda é assim
a ânsia humana não passa de um sonho histérico.
четвртак, март 16
Um dia quando eu não menstruar mais
vou ter saudade desse bicho sangrador mensal
que inda sou
que mata os homens de mistério
Vou ter saudade desse lindo aparente impropério
desse império de gerações absorvidas
Desse desperdício de vidas
que me escorre agora mês de maio.
Ensaio:
Nesse dia vou querer a vida
com pressa
menos intervalo entre uma frase e outra
menos res-piração entre um fato e outro
menos intervalos entre um impulso e outro
menos lacunas entre a ação e sua causa
e se Deus não entender, rezarei:
Menos pausa, meu Deus
menos pausa.
Elisa Lucinda
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
недеља, март 12
субота, март 11
Perdi de vista ao longe, esta coisa que a gente chama de horizonte.Não consigo escrever com verdade. Me falaram que aquele que conta uma história é o único sobrevivente dela. Por isso não conto histórias, acho. Eu não vou chegar até o final. Estes rastros que deixam são as pistas pra algum dia, alguém contar que numa manhã de novembro nasceu uma menina, e que ela simplesmente não conseguiu entender o porque de tudo isso.
петак, март 10
Só por um momento.
Mas não.
"Vc não tem amor no coração."
Não importa, não pode escolher.
Não se adapta, não confere, não crê.
Meu apoio é uma prancha bamba num oceano que nunca existiu.
E a vida foram os olhos vermelhos que escondi de todos atrás de
um gracioso sorriso.
уторак, март 7
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.
O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Álvaro de Campos
недеља, март 5
Virginia Woolf, in "Orlando".
петак, март 3
pontualmente me lembro de tudo.
Não me alcanço.
Meu corpo pesa toda essa realidade. Às 4 da manha... O espelho reflete o ardor dos meus olhos. Me espalho pela poltrona vermelha.
Ainda sinto a naúsea do último cigarro. A tv fala sozinha danças irrepreensíveis. A luz acesa, apagada, acesa, apagada... que diferença faz?
POr que que todo o tédio nunca termina bem?
Por que não fui buscar?
Por que c. buarque faz as vesgas ficarem lindas?
Hoje fui trabalhar e tomei muita chuva. Minha cabeça dói. Comprei livros e renovei o vermelho das unhas.
vi meu eu lírico discordar do eu poético, e o particular des-coincidir com o geral.Sei que não tenho forças, e transtornada, aceito mais um gole do meu próprio veneno.
Não, não é tristeza. Apenas febre e (...).
четвртак, март 2
"... talvez eu também tivesse de escrever a minha história com giz na calçada e me sentar ao lado para ouvir o que as pessoas dizem. Ao menos nos olharíamos um pouco de frente. Mas talvez ninguém prestasse atenção e tudo se apagasse de tanto pisarem em cima."
четвртак, фебруар 23
Mas, estou só também.
Choco-me de encontro a tudo isso, e ao mais que não se reduz. Que resulta? fragmentos que percorrem os arredores irregulares da minha mais sincera emoção.Tudo misturado, causando a naúsea típica de quem em seu interior fundiu o "de novo" e "ainda".
Que é meu tempo? Que tempo é esse que varia em mim? Eu vario nele?
уторак, фебруар 21
(Acho esquisito.)
Não me cabe saber.
Como exigir de outros meu apreço pela contemplação de abismos?
Ele vê o nada abissal, e ainda que sem asas,
vôa.
понедељак, фебруар 20
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar
Florbela Espanca
субота, фебруар 18
четвртак, фебруар 16
De filmes que me façam rir ou crescer
Não quero cervejas, nem butecos
Tanto faz o Sol, ou a cortina
A simplicidade dos pássaros
O dançar das árvores
A brisa que acaricia
Meu cachorro amigo e carente
Não os quero
Quero a introspecção da tristeza
A quietude desesperada de esperar nada
O calor dos dias quentes sem ventiladores
Todo abafo, toda a impossibilidade de escapar
Quero noticias de guerras
Estratagemas políticos
Seca, enchente, furacões
O podre dos homens
Pois a cada felicidade
Posso pensar em ser feliz sem você
Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.
Álvaro de Campos
уторак, фебруар 14
AQUELE CACTO lembrava os gestos desesperados; da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste; carnaubais, caatingas...
Era enorme; mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bonde, automóveis, carroças.
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
privou a cidade de iluminação e energia:
- Era belo, áspero, intratável.
(Manuel Bandeira Petrópolis, 1925)
петак, фебруар 10
-Traz mais uma, por favor.
5 de fevereiro de 1972
pela primeira vez resolvi entregar-me a alguém. não me parecia uma boa hora para hesitações. tudo já estava marcado. como o final do livro, marcado. o cenário lindo e perfeito. nenhum dessarranjo sem flores, nenhumas das damas sem honra, nenhuma das preces sem amém. o dia era meu, mais que de qualquer outra pessoa.
21 de outubro de 1976
acho que algo me tocou hoje, de maneira diferente. mamãe veio me visitar, trouxe pudim de pão com leite da roça. perguntou como estava. "Está ótimo!", respondi. não, não é o pudim. merda de pudim! agora estou horrível. perdi o toque. devorei o pudim com culpa.
15 de maio de 1981
só as mães são felizes. o bate bate lá fora nem parece perceber que nesse quarto sou mais... faço mais. um. dois. três. mamãe me lembra esses números. cortina. cera líquida. TV Phillips. esconde-esconde que nem percebo. esconde-esconde. ora, esconde-esconde! hoje tudo parece muito mais oculto. cortina. cera líquida. TV Phillips. sempre esconde-esconde. nos últimos tempos, tudo me conspira um segredo.
29 de novembro de 1987
o dinheiro não dá para nada. 10 mil cruzados na mão e o Sr. Sarney a nos ajudar com mais um plano de milagre. tudo comprometido. preciso de carne, leite, pão, salão e Lojas Americanas. uma família feliz, como todas as outras. apesar do Sr. Sarney. se fosse o Tancredo...
26 de setembro de 1994
encontrei estes escritos! não sabia que os tinha feito! trapaça do tempo! era outra antes de lê-los! sou outra quando os leio! devo ser outra quando queimá-los! vai embora passado!!!!! desgraça de escrita!!!!!!
15 de fevereiro de 2006
encontrei alguns papéis queimados. rabiscos em uma caderneta pequena e envermelhada do ano de 1971. telefone. feriados. fuso horário e a assinatura da minha mãe. agora começo a me lembrar do que ela sempre quis esquecer. decerto papai não teria um diário. mas se tivesse, e o encontrasse, leria precipitadamente, sem tomar nota de que, neste momento, quem o escreve serei sempre eu.
четвртак, фебруар 9
понедељак, фебруар 6
Falta espaço. Falta tempo.Falta destino.Falta.
Enquanto caminho pelas letras e linhas na praça da maior da ilusão da (humanidade: outra ilusão) penso: se eu realmente for transcendental a minha vida? Escapulia assim, tanto da dependÊncia de ser-para-o-outro quanto do problema de ser-para-mim;
Será que existe um limite pra tudo?
Acho q esbarrei em mim mesmo e agora estou voltando pra trás em mim. Multiplicação ainda, mas não produtiva. Cancerosa, destruidora. Fatal?
Desejo, pois, a abstinência séria e graciosa dos problemas banais, ônticos;
Eu me canso disso tudo, dessa coleção de coisas insignificantes.
Na vida qeu se vive não há poesia.A realidade é o massacre da poesia.(Sim, eu compreendo plenamente o suicídio. Apenas não me acho boa o suficiente para abrir mão do paradoxo.)
A vida viva se poetiza ao não (mais)nos pertencer.Nada que se vive é belo. A beleza nasce da morte, seja no tempo,seja no espaço. É na perda o lugar do sentido.
Gosto de andar pelas ruas, todas as ruas, subúrbios e zonas suls. Me agrada a possibilidade de só olhar os pequenos dramas, e não me importar com eles, não ter e nem poder fazer nada por eles, destilar deles a mais pura poesia do vivido.
недеља, фебруар 5
Voltou-me. Nada do que via lhe pertencia. Estranha no único lugar que seria seu. Sorriu-se amargamente de tanta liberdade.Entendeu que não precisva ir a lugar algum,e ao mesmo tempo que poderia tê-los todos.O que a desobrigava a ficar não a obrigava a ir. E era este estado intermediário, este hiato, que ela havia buscado (inconsciemente?). Eu estava em sua cama. Ela me via? Acendi um cigarro e esperei longos minutos.Bebia um bom vinho e a taça estava cheia o suficiente.
Voltei a fitar aquela mulher, desnuda e um tanto descabelada. Compreendi que a solidão é um estado de excesso de ser por dentro, de modo tal que nada sobra para fora.
Há anos conhecia-a, "enfermiça da vida", aquela alegria fútil de quem nunca perdeu nada, uma irritante e banal felicidade inabalável, que a conferia uma fealdade impossível de descrever. Tive preguiça quando ela se ofereceu esta noite, confesso.
Era ela a mulher que agora borbulhava, sem se dar conta, de si , de mim, do mundo. Atingia uma espécie de nirvana naquele silêncio angustioso, doído. Uma beleza incomunicável irradiava-se por toda sala.Alguma coisa estava falecendo naquele momento, com aquele silêncio.Ela agora fumava, como se conformada com a extinção. As lágrimas que vertia era tão invisivéis como eram inauditas suas palavras. Era como se quisesse guardar algo pra si, algo que fosse somente seu.
Encheu-me o copo, e eu dei um gole generoso. É preciso estar bêbado para assistir a certos nascimentos e mortes. Por um minuto ela concentrou-se em meus olhos.Lancei-lhe um olhar de discórdia, para deixar claro que ela estava certa, terminei o vinho que restava num único gole, levantei-me e sai sem fechar a porta.
петак, фебруар 3
-acho que elas apenas te perseguem. Assim cheguei até aqui.
Realmente não há nenhum motivo para irromper o fim da tarde. O vapor quente das ruas chamusca. Eu tive um dia tão longo. Tão vazio. Tão confortante. Tão tedioso.
Ele definitivamente só poderia acabar assim, nessa conversa que é sempre a mesma, um prazeroso andar em círculo, que leva, evidentemente, ao lugar nenhum.
Na mesa ao lado um lourinho lindo fazia de tudo pra chamar atenção do cara moreno, feio e esmirrado, sentado a sua frente:"Daniel, ainda não somos casados pra eu ser obrigado a te ver tomando café e ler jornal. Eu vim conversar com você".O evidente silêncio entre o casal infelizmente não encontrava respaldo no local. Um grupo saltitante de psicólogas desfinhavam ninharias sobre filosofia e homens inteligentes.Gostei de ver como uma citação de Platão e o conselho do alternativa saúde se completavam perfeitamente para ensinar como lidar com o homem ideal.
-A humanidade é uma idéia fracassada. O Homem é um projeto falido.Pra que insitir nisso? Resta a nós escolher entre um fanatismo esclarecido ou um esclarecimento despótico...
-nos resta cancelar o café e a proposta de sobriedade. O mundo é vasto, mas indigerível fora do domínio etílico.
среда, фебруар 1
недеља, јануар 29
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.
O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê,
pra quê.
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém, ninguém sabe nem saberá.
Carlos Drummond de Andrade
петак, јануар 27
уторак, јануар 24
A água ainda não tinha gelado o suficiente, mas mesmo assim tomou-a de um gole só, voltando a despejar mais água no copo vazio. Não se lembrava a que horas pegara no sono. Se foi durante a noite, se fora durante o dia, se o que pensava era matéria dos sonhos, ou se sonhara que sonhou que tudo aquilo era um sonho. O discernimento precário, fragilizado pela sonolência e o cansaço, não facilitava muito o alinhamento dos fatos, dos pensamentos, das sensações, dos sonhos. Continuava a beber água, dessa vez com o cigarro na mão. Não sabia mais se tinha esquecido todas as coisas e entrado numa realidade virtual, infinitamente subjetiva, estrangeira a qualquer signo comum, ou se, ao invés da virtualidade, aquele momento era pura realidade, descordada, sem linha de esquecimento, de memória, de nomeação. Pendeu a cabeça para o lado, num relaxamento incerto. Visou.
Substantivo: palavra que nomeia um ser ou um objeto; uma ação, qualidade, estado considerados separados dos seres ou objetos a que pertencem; nome. Não, isso não tinha muita relevância naquela hora. Não era substantivo o seu problema.
Adjetivo: palavra que modifica o substantivo, indicando qualidade, caráter, modo de ser ou estado. Eureka! Sim, parecia que começava a entender sua gramática.
Genérico e vascilante lançou que a determinação do nome oscilava diante da imprevisibilidade do estado, do modo de ser. Mas não se convenceu muito disso (talvez pela generalidade do pensamento). Tampouco se deu por vencido. Procurou e encontrou várias gramáticas portuguesas, brasileiras ora pois, da época do colégio das aulas da professora Ademarci, para certificar que as informações sobre os substantivos e os adjetivos eram dignas de atenção. Substantivo. Adjetivo. Lia e relia as infinitas variações das definições da língua. Réquiem.
Passou pelos pronomes com desastrada curiosidade, visto que ainda não buscava nada por ali. Tinha em mente que sua caça era maior, ia além. Estava no mundo, no ambiente do quarto perdido, em algum hiato que separou suas frases de uma conclusão. Desoração.
Percebeu, passado muito tempo depois, que todo seu pensamento fora tomado pelas inésimas gramáticas que percorrera, folheara, inquirira a respeito do seu estado nos últimos tempos. A ausência do quarto era quase uma reminescência. Lânquida. Sua linguagem replicava tudo aquilo que lera esvairadamente nos livros que já não saiam do seu alcance. Mas isso não era um problema para ele, certamente. Comprava gramáticas, várias e de autores diferentes. Não acreditava totalmente em nenhuma delas, mas sempre se interessava pela intriga que parecia se assomar da leitura incessante entre todas elas juntas.
"Seu troco. R$0,25." Pensou em parar de fumar, mas agora não era a hora. Estava atolado até o pescoço com os acontecimentos dos últimos tempos para poder se livrar do cigarro, sem que isso afetasse seu humor ou concentração na tarefa de busca. Mas tudo era também uma questão de estilo. Acabava-se ao pensar que tinha que parar. Incessante, excessivo, mas vazia, sempre vazia tinha sido sua busca. Não podia se larga de nada, mesmo que nada tivesse até hoje.
"Não encontrava mais o quê?"
Ao entrar no quarto, percebeu que o cigarro transformava o ambiente de ar puro e fresco em jaula de fumaça desagradável e espessa. 'Imperfume", soltou em voz inesperada. No quarto não mais fumaria. Mas antes passara os olhos sobre alguma expressão sobre o dicionário. Não lembrava o que era, mas estava lá, aberto, visível, sempre a mostra. Íntimo.
Dirigiu-se para a sala e notou que a sala estava diferente. Estranhou aquele ambiente, não reconhecia sua sala ali. "O que sucedera?". Foi ao quarto, reuniu as gramáticas, os dicionários, os livros de ortografia, sinônimo, antônimo, manuais de escrita, redação e oralidade que comprara e iniciou sua busca no chão do desconhecido. Dessa vez chamou-lhe a atenção o pronome: vocábulo que pode substituir um substantivo ou sintagma nominal. A substituição sugeria a existência e a inexistência do próprio nome, na sua gramática a essa altura já alucinada por tantos desvãoes, espelhos. Pensou nas desistências, nas resistências, nos deslocamentos, nos arranjos, nas liações... Pensou no fim de tudo. Temeu que o pretérito mais-que-perfeito fosse sua radicalidade. "Eles se foram"... percebeu a resignação por trás da oração. Mas encontrou uma definição que não cancelava o fim das coisas, pelo menos o fim eterno, metafísico. Estava ali sua busca. Seu fim e no entanto apenas o seu começo.
Pronome recíproco: pronome átono que indica que a ação expressa pelo verbo implica uma relação mútua de causa e efeito entre os agentes indicados no sujeito. Causa?, efeito?, agente? Confuso, resolveu investigar.
(Cf. para os verbetes gramaticais o Dicionário da língua portuguesa, Aurélio)
Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo."
Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "
( (Carol minha amiga) ama essa autora, e há tempos queria lembrar de colocar este texto por aqui.Eu também gosto, principalmente gosto de ver pronunciar seu nome...mas gosto discordando,aliás como é minha forma mais presente de gostar de alguma coisa.Consigo discordar de absolutamente tudo dito sobre l´amour,e ainda assim gostar dela, por acha-la bela. Mas é absolutamente incabível em todos seus aspectos. Talvez, inclusive, o segredo desta beleza esteja aí, na sua irrealidade, irrealização, desejo para sempre inconcluso de unicidade. Pois nada pode ser mais verdade do que a própria mentira , e nada pode ser vivido que não seja múltiplo.L´amour est fou)
петак, јануар 20
Pois tudo o que será já foi?
Não sei, as favas contadas e as águas passadas se destilam na minha mente,junto ao perfumado líquido com bolhinhas que despejo, por incompetência ou demência, e tudo fica muito fácil e muito obscuro ao mesmo tempo.
Tem um lugar e um tempo do qual a gente não escapa.
Esta música é muito alta e nada mais é do que uma cópia da cópia da cópía, lixo cultural.
Não, não vou te beijar. Passe-me o prato.
Um herói não se declara, por isso não posso dizer a vocÊs de como me sinto glórioso em minha marcha, fúnebre e ridícula.
Nenhum amor é menos ridículo do que o outro.
Eu sei, eu sei, pois, que ao amor corresponde o amável, e este é inexplicável.
Não sei se trata de amor...antes talvez, apenas de uma coincidência singular entre o trágico e o cômico.
O que faremos, já que é impossível dormir?
( )
:...!?
??
!
.
...
( )
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
уторак, јануар 17
Finado, fenestro, fundo, embasbacado. Por fim, apenas o fim?
fio desvelado, devorado, árduo, seco.
pra que fim?
Se findo recomeço, se morto-vivo, se calado grito, chorando rio, atenta adormeço sonhos inalcançavéis.
Perdendo eu ganho.
Certo que há um fim?
inodor, asséptico, suficiente, preciso, racional, prático, clean e funcional.
Posto que sim?
desvio, sonego, desprezo, atravesso, destrato, desdenho.Sujo, feio, barulhento, confuso,arrogante,
marcado pra morrer.
Traio minha própria finalidade.
No dia seguinte acordo e percebo que Ela dorme ao meu lado, ainda descoberta, nua, maliciosa. Aquela perna... Atordoado, sem saber o que sucedera, acordei-A num gesto demente, descrente, incerto. O sol já deixava o dia quente e a previsão do dia anterior sobre as chuvas pareciam ter sido falsas. No meu quarto o cheiro de suor, sexo, colcha suja e cigarro denunciava o excessivo que sucedera à minha negação da noite anterior. Naquele momento eu me percebia só com Ela, aturdido, sim, mas só eu e Ela. Obviamente que sabia que todos estavam lá fora, o barulho me esparava para pagar as contas, ajeitar a casa, relativizar o puro caso. Percebi que o exagero da nossa intimidade desconcertou a descontrução que me civilizara na rua (civilização sugerida apenas, me lembrava disso, pela minha passada por aquele estranho naquele momento). Ela acordara sussurrando: "mais mais...!" num ritmo e sugestão que rapidamente revelaram as marcas do meu corpo. Pospor. Ouvir esse pedido e essa excitação escapando surpreendia os meus sentidos, irritados e sem tino. O corpo tem fúria. Desesperadamente, porém, eu já me via ocupado por aquele estranho, Ela, eu, nossas mãos, a rua, o buraco, as prestações, a intimidade, os R$10,00 e a hora em que sai do bar: 05:47 da manhã. Minha atitude foi talvez a mais áspera que me lembro ter tomado até hoje. Novamente Ela me fez mais uma pergunta que outra vez, desvairado, disparei (não poderia chamar aquilo de resposta) num arrazoado "Vai!".
Sentei-me na mesa, resolvi escrever. O sol batia forte. Nua e vulgarmente conhecida, me assustava a boca que me chegava fundo e a cobiça com que eu tomava o seu corpo. Uma surreal vontade poder. "O que sucedera?" Não era dia com sol e não havia Ela.
недеља, јануар 15
(sua periferia tem asfalto, prédio, adminstrador, criança, bar, resina: é quente, sem ser natural.)
("para quem são os adeuses?" messagio premido no próprio gesto, mail limado no apelo, na intenção, perdido, calado. )
(o Armazém me lembra uma casa antiga, pichada, despintada, rasurada, de cheiro forte e úmido, esquecida quase mesmo pelo grave barulho do mar. aquilo deixa tudo muito triste e melancólico. alguma Identidade entre o Lugar e Eu parece ter me perturbado. "por quê estar assim?", é a pergunta que faço ao Porto, ou que o Porto faz para mim. (...) uma imensa saudade de um futuro melhor separa a cidade da minha, daquela ausência. )}
субота, јануар 14
do Lat. exhaustiore
s. f.,
exaustação;
extremo cansaço
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
(A. de cAmpos)