четвртак, фебруар 23

Neste pedacinho de mundo que recortei agora, sou. VocÊ, meu par. Dançamos madrugada a dentro, para sempre. Viro-me de lado, e escapo. Já não sou mais quem dança. Sou aquela que chora, no quarto escuro, sem luz nem vela.Esperando um tempo que nunca virá. Presto atenção e percebo, estou num bar, ébria, cercada de gente, conversas, risos, vidas. Já me esqueço de tudo. Sou agora no silêncio escondido de uma biblioteca, prazer secreto, palpitante. Pois que novamente escorrego, ando pelas ruas, o sol me derrete, encontro conforto na esperança da sombra que nunca vêm. Uma brisa e já converso, na intimidade artificial e efêmera, posições filosóficas e destinos pro mundo, delineo-me ali; mas, pisco e estou, na festa, linda, dançando. Você ainda meu meu par.
Mas, estou só também.
Choco-me de encontro a tudo isso, e ao mais que não se reduz. Que resulta? fragmentos que percorrem os arredores irregulares da minha mais sincera emoção.Tudo misturado, causando a naúsea típica de quem em seu interior fundiu o "de novo" e "ainda".
Que é meu tempo? Que tempo é esse que varia em mim? Eu vario nele?

уторак, фебруар 21

Ele tem os olhos fixos no ventilador de teto.Sua mente gira com ele. Entorpece para ver o mundo girar mais devagar. Não entendendo pra que sorver a vida com tanta atenção. Pra que preencher os espaços vazios com espessos sentimentos irrealizáveis?
(Acho esquisito.)
Não me cabe saber.
Como exigir de outros meu apreço pela contemplação de abismos?
Ele vê o nada abissal, e ainda que sem asas,
vôa.

понедељак, фебруар 20

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar

Florbela Espanca

субота, фебруар 18

четвртак, фебруар 16

Não quero saber de grandes rodas de amigos
De filmes que me façam rir ou crescer
Não quero cervejas, nem butecos
Tanto faz o Sol, ou a cortina
A simplicidade dos pássaros
O dançar das árvores
A brisa que acaricia
Meu cachorro amigo e carente
Não os quero
Quero a introspecção da tristeza
A quietude desesperada de esperar nada
O calor dos dias quentes sem ventiladores
Todo abafo, toda a impossibilidade de escapar
Quero noticias de guerras
Estratagemas políticos
Seca, enchente, furacões
O podre dos homens
Pois a cada felicidade
Posso pensar em ser feliz sem você
Mas Eu

Mas eu, em cuja alma se refletem
As forças todas do universo,
Em cuja reflexão emotiva e sacudida
Minuto a minuto, emoção a emoção,
Coisas antagônicas e absurdas se sucedem —
Eu o foco inútil de todas as realidades,
Eu o fantasma nascido de todas as sensações,
Eu o abstrato, eu o projetado no écran,
Eu a mulher legítima e triste do Conjunto
Eu sofro ser eu através disto tudo como ter sede sem ser de água.

Álvaro de Campos

уторак, фебруар 14

O CACTO


AQUELE CACTO lembrava os gestos desesperados; da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste; carnaubais, caatingas...
Era enorme; mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bonde, automóveis, carroças.
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas
privou a cidade de iluminação e energia:
- Era belo, áspero, intratável.


(Manuel Bandeira Petrópolis, 1925)

петак, фебруар 10

Então. A cabeça girando a milhões. Aqui é fresco demais, não consigo trabalhar. O telefona toca, enxurrada de problemas.Ah, que eu quero fazer? Tomar sorvete, ganhar na loteria, ser freira,tomar um porre de gin, fugir para a bolívia, gostar de doces,estudar derrida, Cozinhar para minha mãe,engravidar, ganhar flores, arrumar um emprego,roubar um banco, comprar uma geladeira usada,fazer vestibular, pular de um prédio,casar com você, dormir para sempre. Eh, me artirculo de modo sarcásticamente claro,pra disfarçar o enorme vazio. Não tenho chão.O jeito é ir vivendo um dia, depois outro, e outro.Comigo tb é assim. Não posso sonhar. Me levaram o futuro.Essa situação analoga nos coloca diante do seguinte impasse: a potência diminui acompanhada pela redução de todas as possibilidades, ou diante do nada as possibilidades se multiplicam e e há um aumento de potência? Esse é um problema resolvido de várias formas, pois ele é aberto o sifciente para se adequar a várias lógicas.Como os bons problemas.E no fim, não há solução.Assim, triste, desse jeito.
-Traz mais uma, por favor.

5 de fevereiro de 1972

pela primeira vez resolvi entregar-me a alguém. não me parecia uma boa hora para hesitações. tudo já estava marcado. como o final do livro, marcado. o cenário lindo e perfeito. nenhum dessarranjo sem flores, nenhumas das damas sem honra, nenhuma das preces sem amém. o dia era meu, mais que de qualquer outra pessoa.

21 de outubro de 1976

acho que algo me tocou hoje, de maneira diferente. mamãe veio me visitar, trouxe pudim de pão com leite da roça. perguntou como estava. "Está ótimo!", respondi. não, não é o pudim. merda de pudim! agora estou horrível. perdi o toque. devorei o pudim com culpa.

15 de maio de 1981

só as mães são felizes. o bate bate lá fora nem parece perceber que nesse quarto sou mais... faço mais. um. dois. três. mamãe me lembra esses números. cortina. cera líquida. TV Phillips. esconde-esconde que nem percebo. esconde-esconde. ora, esconde-esconde! hoje tudo parece muito mais oculto. cortina. cera líquida. TV Phillips. sempre esconde-esconde. nos últimos tempos, tudo me conspira um segredo.

29 de novembro de 1987

o dinheiro não dá para nada. 10 mil cruzados na mão e o Sr. Sarney a nos ajudar com mais um plano de milagre. tudo comprometido. preciso de carne, leite, pão, salão e Lojas Americanas. uma família feliz, como todas as outras. apesar do Sr. Sarney. se fosse o Tancredo...

26 de setembro de 1994

encontrei estes escritos! não sabia que os tinha feito! trapaça do tempo! era outra antes de lê-los! sou outra quando os leio! devo ser outra quando queimá-los! vai embora passado!!!!! desgraça de escrita!!!!!!

15 de fevereiro de 2006

encontrei alguns papéis queimados. rabiscos em uma caderneta pequena e envermelhada do ano de 1971. telefone. feriados. fuso horário e a assinatura da minha mãe. agora começo a me lembrar do que ela sempre quis esquecer. decerto papai não teria um diário. mas se tivesse, e o encontrasse, leria precipitadamente, sem tomar nota de que, neste momento, quem o escreve serei sempre eu.

четвртак, фебруар 9

понедељак, фебруар 6

Pássaro preso. Voz rouca.
Falta espaço. Falta tempo.Falta destino.Falta.
Enquanto caminho pelas letras e linhas na praça da maior da ilusão da (humanidade: outra ilusão) penso: se eu realmente for transcendental a minha vida? Escapulia assim, tanto da dependÊncia de ser-para-o-outro quanto do problema de ser-para-mim;
Será que existe um limite pra tudo?
Acho q esbarrei em mim mesmo e agora estou voltando pra trás em mim. Multiplicação ainda, mas não produtiva. Cancerosa, destruidora. Fatal?
Desejo, pois, a abstinência séria e graciosa dos problemas banais, ônticos;
Eu me canso disso tudo, dessa coleção de coisas insignificantes.
Na vida qeu se vive não há poesia.A realidade é o massacre da poesia.(Sim, eu compreendo plenamente o suicídio. Apenas não me acho boa o suficiente para abrir mão do paradoxo.)
A vida viva se poetiza ao não (mais)nos pertencer.Nada que se vive é belo. A beleza nasce da morte, seja no tempo,seja no espaço. É na perda o lugar do sentido.


Gosto de andar pelas ruas, todas as ruas, subúrbios e zonas suls. Me agrada a possibilidade de só olhar os pequenos dramas, e não me importar com eles, não ter e nem poder fazer nada por eles, destilar deles a mais pura poesia do vivido.

недеља, фебруар 5

Abriu a porta e não era ninguém.
Voltou-me. Nada do que via lhe pertencia. Estranha no único lugar que seria seu. Sorriu-se amargamente de tanta liberdade.Entendeu que não precisva ir a lugar algum,e ao mesmo tempo que poderia tê-los todos.O que a desobrigava a ficar não a obrigava a ir. E era este estado intermediário, este hiato, que ela havia buscado (inconsciemente?). Eu estava em sua cama. Ela me via? Acendi um cigarro e esperei longos minutos.Bebia um bom vinho e a taça estava cheia o suficiente.
Voltei a fitar aquela mulher, desnuda e um tanto descabelada. Compreendi que a solidão é um estado de excesso de ser por dentro, de modo tal que nada sobra para fora.
Há anos conhecia-a, "enfermiça da vida", aquela alegria fútil de quem nunca perdeu nada, uma irritante e banal felicidade inabalável, que a conferia uma fealdade impossível de descrever. Tive preguiça quando ela se ofereceu esta noite, confesso.
Era ela a mulher que agora borbulhava, sem se dar conta, de si , de mim, do mundo. Atingia uma espécie de nirvana naquele silêncio angustioso, doído. Uma beleza incomunicável irradiava-se por toda sala.Alguma coisa estava falecendo naquele momento, com aquele silêncio.Ela agora fumava, como se conformada com a extinção. As lágrimas que vertia era tão invisivéis como eram inauditas suas palavras. Era como se quisesse guardar algo pra si, algo que fosse somente seu.
Encheu-me o copo, e eu dei um gole generoso. É preciso estar bêbado para assistir a certos nascimentos e mortes. Por um minuto ela concentrou-se em meus olhos.Lancei-lhe um olhar de discórdia, para deixar claro que ela estava certa, terminei o vinho que restava num único gole, levantei-me e sai sem fechar a porta.

петак, фебруар 3

-ainda bem que você passou por aqui. AS bizarrices são mais triviais no verão.
-acho que elas apenas te perseguem. Assim cheguei até aqui.
Realmente não há nenhum motivo para irromper o fim da tarde. O vapor quente das ruas chamusca. Eu tive um dia tão longo. Tão vazio. Tão confortante. Tão tedioso.
Ele definitivamente só poderia acabar assim, nessa conversa que é sempre a mesma, um prazeroso andar em círculo, que leva, evidentemente, ao lugar nenhum.
Na mesa ao lado um lourinho lindo fazia de tudo pra chamar atenção do cara moreno, feio e esmirrado, sentado a sua frente:"Daniel, ainda não somos casados pra eu ser obrigado a te ver tomando café e ler jornal. Eu vim conversar com você".O evidente silêncio entre o casal infelizmente não encontrava respaldo no local. Um grupo saltitante de psicólogas desfinhavam ninharias sobre filosofia e homens inteligentes.Gostei de ver como uma citação de Platão e o conselho do alternativa saúde se completavam perfeitamente para ensinar como lidar com o homem ideal.
-A humanidade é uma idéia fracassada. O Homem é um projeto falido.Pra que insitir nisso? Resta a nós escolher entre um fanatismo esclarecido ou um esclarecimento despótico...
-nos resta cancelar o café e a proposta de sobriedade. O mundo é vasto, mas indigerível fora do domínio etílico.

среда, фебруар 1

"A pior forma de desigualdade é tentar fazer duas coisas diferentes iguais."

Aristóteles