уторак, јануар 17

R$ 10,00. Despedi de lance de mão. Simples adeus, para quem não suporta muito a cordialidade. Na esquina percebi que a rua não era tão longa quanto o caminho me sugeria. Hora de ir para a casa. No meio dela, no entanto, tudo se alongara. Por má sorte, deparei-me com uma Mulher, da qual já tinha uso, e a Ela, poucas vezes, me referi. Apesar de aparentemente não me interessar muito, Ela me sugeria uma conversa. "Por quê...", pensei hesitante e acautelado, deixando que minha intimidade fosse inundada por uma vontade de corpo, buraco, suor e riso. Ainda um cigarro na mão, na outra, Ela e toda a imaginação do mundo a nos afirmar. Sua fala me seduzia, pelos "s" forçados, o acento abreviado, o fim, nosso, repetidamente quase assim a escapar. Tensão e prazer, sentia Ela, me imaginava Nela e tinha uma leve irritação, decerto estava muito excitado, quando antecipava Ela, eu. Súbito. Aterrorizado por alguém que passou na rua, inopinado. "Quem era?" "Eu não posso!" "Tenho prestações, compromissos, fidelidades..." "Eu não...", toda uma série de pensamentos rápidos e judiciosos passaram por mim, naquela hora. Um turbilhão de interrogações que desfizeram minha intimidade. Agora eu era só aparência. Homem de jeans e camisa preta, cueca e sapato. Tudo me tampava, impedia, respeitava. Ela voltou a me perguntar algo que, devido o meu constrangimento com aquela situação já tramada, não ouvi direito e surdamente respondi, em tom áspero de um desatar. "Não!".

No dia seguinte acordo e percebo que Ela dorme ao meu lado, ainda descoberta, nua, maliciosa. Aquela perna... Atordoado, sem saber o que sucedera, acordei-A num gesto demente, descrente, incerto. O sol já deixava o dia quente e a previsão do dia anterior sobre as chuvas pareciam ter sido falsas. No meu quarto o cheiro de suor, sexo, colcha suja e cigarro denunciava o excessivo que sucedera à minha negação da noite anterior. Naquele momento eu me percebia só com Ela, aturdido, sim, mas só eu e Ela. Obviamente que sabia que todos estavam lá fora, o barulho me esparava para pagar as contas, ajeitar a casa, relativizar o puro caso. Percebi que o exagero da nossa intimidade desconcertou a descontrução que me civilizara na rua (civilização sugerida apenas, me lembrava disso, pela minha passada por aquele estranho naquele momento). Ela acordara sussurrando: "mais mais...!" num ritmo e sugestão que rapidamente revelaram as marcas do meu corpo. Pospor. Ouvir esse pedido e essa excitação escapando surpreendia os meus sentidos, irritados e sem tino. O corpo tem fúria. Desesperadamente, porém, eu já me via ocupado por aquele estranho, Ela, eu, nossas mãos, a rua, o buraco, as prestações, a intimidade, os R$10,00 e a hora em que sai do bar: 05:47 da manhã. Minha atitude foi talvez a mais áspera que me lembro ter tomado até hoje. Novamente Ela me fez mais uma pergunta que outra vez, desvairado, disparei (não poderia chamar aquilo de resposta) num arrazoado "Vai!".

Sentei-me na mesa, resolvi escrever. O sol batia forte. Nua e vulgarmente conhecida, me assustava a boca que me chegava fundo e a cobiça com que eu tomava o seu corpo. Uma surreal vontade poder. "O que sucedera?" Não era dia com sol e não havia Ela.

2 коментара:

manfredo је рекао...

cronista visionário?

Marcelo је рекао...

manfredo, como saber se aquilo foi uma visão ou se tudo que narrei era real? posso afirmar que sim assim como poderia supor o contrário. tudo muito inviável e possível. como decidir?

(sobressai - real ou inventado?! - o lugar do indecidível derridiano nesta hora)