четвртак, септембар 30

( Pessoas,
caso sintam falta do nome da Yara aqui do lado, não se preocupem! Eu a convidei de novo por que ela esqueceu a senha e não teve como recupera-la...bjos!)
acorda, quase meio dia, quase aula, sai correndo, ladeira abaixo, calçada de santana, português do armazém, moço, um bolhinho, mas a menina só como bolos, é? é não seu virgílio, só de manhã. pois. metrô com sono pi, pi, pi, outro lado da cidade, avenida liberdade, escola, carteira, senta, ouve, escreve. literatura, teoria, os apaixonados devem aprender literatura nos próprios corações, leve questionamento sobre o que estou fazendo aqui, esqueço o questionamento, um cigarro para pensar em nada, qualquer angústia, outras ansiedade, três ou onze alegrias, estudo, desaprendo, despercebo, percebo outra coisa, volto para casa esfumaçada, está tarde, seis e meia, avental, tenis, trabalho, gente, imperial, cerveja preta, dois bifes à portuguesa e duas colas, faz favor, tanta gente, amigas novas, até as três da manhã, arruma o bar, fecha o bar, um álcool qualquer e cigarro no caminho de casa, ladeira acima devagar, lua, ninguém na rua, casa, sonho.

um beijo em cada um, cotidianamente.

среда, септембар 29

Da ociosidadè.
" retirei-me há tempos para as minhas terras, resolvido, na medida do possível, a não me ser o repouso, e viver na solidão os dias que restam. Parecia-me que não podia dar maior satisfação a meu espírito senão a ociosidade, para que me concentrasse em mim mesmo, à vontade, o que esperava pudesse ocorrer, porquanto, com o tempo, adquirira mais peso e maturidade. mas percebo que : na ociosidade meu espírito se dispersa em mil pensamentos diversos; e, que ao contrário do que imaginava, caracolando como um cavalo em liberdade, cria ele cem vezes maiores preocupações do que quando tinha um alvo preciso fora de si mesmo. E engendra tantas quimeras e idéias estranhas, sem ordem nem propósito, que para perceber-lhe melhor a inépcia e o aburdo as vou consignando por escrito, na esperança de, com o correr do tempo..."
MOntaigne.

уторак, септембар 28

Ando, por capricho, desaparecido. Ao fim do dia, desdobro-me em vários bêbados e mendigos que atravessam um mundo imundo.
Um dia horroroso numa cidade infeliz, num dia dolorido e quente. Um dia em que ousei ter lembranças, e fui como todos, ridículo. Queria escrever para que ela tecesse para mim um novelo furta-cor. Como não posso, escrevo a vcs mesmos, para que riam ou se compadeçam de mim.




À (...)

Não sei por que, mas precisava te dizer algo. Alias “não sei” é a frase que melhor posso te dizer. Não sei se te incomodo, ou se te agrado, se te assusto ou se me assusto. Não sei se você não tem tempo, ou se não tem vontade, não sei, se já insisti de mais ou de menos. Não sei nem, se você devia saber disso. Ate outro dia eu mao sabia se acreditava que você existia. (no fundo ainda me pergunto)
Sinceramente, não gostaria que esta “carta” mudasse qualquer coisa ou idea já existente, tampouco gostaria que fosse ela vista como qualquer tipo de pressão ou cobrança (longe disso)(Alias mais um motivo para não saber dela o propósito). Se te escrevo é..., sei lá, talvez por que quando estou à sua frente eu não me reconheço. Falo feito um louco, quando só queria escutar, penso duas vezes antes de agir (ato incomum a mim), e arrependo depois. Fico tão bobo só de te olhar nos olhos, que nem reconheço o cara metido a sabichão, que se julga inabalável, e que gaba-se por não tremer nem frente a mulheres nem a platéias. Esta personagem que me criei sendo, de alguma maneira misteriosa, não se monta à sua frente. E me faz pensar se sou uma personagem, ou se há mais um mistério*.
Exageros à parte. O que sei é que você me assusta tanto quanto me atrai. Ia adorar também se eu conseguisse falar sempre com essa sua simplicidade, derramar suave de coisas que são, afinal, tão simples (com você parece que eu complico as coisas “não sei”).
Continuo, como já estava. Sem saber nem esperar por nada, é por hora a melhor forma de manter a segurança.
Quero-te. Quero saber se me quer.Não vai ser difícil me dar uma resposta, que espero não seja o silencio, apesar do silencio ser também uma resposta.

субота, септембар 25

A tensão que me perpassa assemelha-se ao vento que alimenta a lareira. Devora como fogo o que lhe consome. Fulgaz. Nada me prende a atenção por mais tempo do que uma noite. Nada que me sustenta aparece mais eterno do que a fulgacidade de um gole. A chama que consome a lenha consome-se a si mesmo. Ainda que entre as cinzas escute-se por muito tempo o murmúrio daquilo que nunca foi, lamentos solitários que se sedimentam lentamente em relatórios multifacetados, repletos de uma beleza profunda tecida de camadas finas e quase transparentes.
Por fim, enviamos os velhos aos sanatórios, hospitais, e cemitérios.
Todos os dias parecem me desafiar com a improcedência das experiências. Há um absurdo que jorra, inquieto, de tudo aquilo que é experiência vivida.
Se não precisassemos de dizer à ninguém...
Clarea-se a solidão de todos, somos senão um retirar-se.

четвртак, септембар 23

"Más alta que la realidade está la posibilidad"

уторак, септембар 21

Ultima carta de Marcus Vinicius


Melhor viver metade de uma vida inteira a uma vida inteira pela metade.

A aqueles que fiz mal, que se levantem e aprendam algo. A aqueles que fiz bem, que não se esqueçam de como é bom isto e que procurem fazer o mesmo pelos outros.

Em cem anos todos nós morremos mesmo. Uns vão antes, outros depois. Faça o bem por achar bom e não por ter medo que algo de ruim lhe aconteça depois. De outra forma, faça o mal se gostar disto, mas assuma as consequências e não vá a missa todo domingo pedir perdão.

Alguns trazem algo de bom, outros de ruim. Os fracos são corrompidos e os fortes corrompem. A natureza do homem é ser ruim.

Que Deus me perdoe por não negar minha natureza.

Que Deus perdoe vocês por negarem a sua.

*Ultima homenagem de seu breve amigo Bruno, que queria acreditar em Deus só por hoje*

недеља, септембар 19

RECEITA DE DOMINGO

Paulo Mendes Campos

Ter na véspera o cuidado de escancarar a janela. Despertar com a primeira luz cantando e ver dentro da moldura da janela a mocidade do universo, límpido incêndio a debruar de vermelho quase frio as nuvens espessas. A brisa alta, que se levanta, agitar docemente as grinaldas das janelas fronteiras. Uma gaivota madrugadora cruzar o retângulo. Um galo desenhar na hora a parábola de seu canto. Então, dormir de novo, devagar, como se dessa vez fosse para retornar à terra só ao som da trombeta do arcanjo.
Café e jornais devem estar à nossa espera no momento preciso no qual violentamos a ausência do sono e voltamos à tona. Esse milagre doméstico tem de ser. Da área subir uma dissonância festiva de instrumentos de percussão - caçarolas, panelas, frigideiras, cristais anunciando que a química e a ternura do almoço mais farto e saboroso não foram esquecidas. Jorre a água do tanque e, perto deste, a galinha que vai entrar na faca saia de seu mutismo e cacareje como em domingos de antigamente. Também o canário belga do vizinho descobrir deslumbrado que faz domingo.
Enquanto tomamos café, lembrar que é dia de um grande jogo de futebol. Vestir um short, zanzar pela casa, lutar no chão com o caçula, receber dele um soco que nos deixe doloridos e orgulhosos. A mulher precisa dizer, fingindo-se muito zangada, que estamos a fazer uma bagunça terrível e somos mais crianças do que as crianças.
Só depois de chatear suficientemente a todos, sair em bando familiar em direção à praia, naturalmente com a barraca mais desbotada e desmilingüida de toda a redondeza.
Se a Aeronáutica não se dispuser esta manhã a divertir a infância com os seus mergulhos acrobáticos, torna-se indispensável a passagem de sócios da Hípica, em corcéis ainda mais kar do que os próprios cavaleiros.
Comprar para a meninada tudo que o médico e o regime doméstico desaconselham: sorvetes mil, uvas cristalizadas, pirulitos, algodão doce, refrigerantes, balões em forma de pingüim, macaquinhos de pano, papaventos. Fingir-se de distraído no momento em que o terrível caçula, armado, aproximar-se da barraca onde dorme o imenso alemão para desferir nas costas gordas do tedesco uma vigorosa paulada. A pedagogia recomenda não contrariar demais as crianças.
No instante em que a meninada já comece a "encher", a mulher deve resolver ir cuidar do almoço e deixar-nos sós. Notar, portanto, que as moças estão em flor, e o nosso envelhecimento não é uma regra geral. Depois, fechar os olhos, torrar no sol até que a pele adquira uma vida própria, esperar que os insetos da areia nos despertem do meio-sono.
A caminho de casa, é de bom alvitre encontrar, também de calção, um amigo motorizado, que a gente não via há muito tempo. Com ele ir às ostras na Barra da Tijuca, beber chope ou vinho branco.
O banho, o espaçado almoço, o sol transpassando o dia. Desistir à última hora de ver o futebol, pois o nosso time não está em jogo. Ir à casa de um amigo, recusar o uísque que este nos oferece, dizer bobagens, brigar com os filhos dele em várias partidas de pingue-pongue.
Novamente em casa, conversar com a família. Contar uma história meio macabra aos meninos. Enquanto estes são postos em sossego, abrir um livro. Sentir que a noite desceu e as luzes distantes melancolizam. Se a solidão assaltar-nos, subjugá-la; se o sentimento de insegurança chegar, usar o telefone; se for a saudade, abrigá-la com reservas; se for a poesia, possui-la; se for o corvo arranhando o caixilho da janela, gritar-lhe alto e bom som: never more.
Noite pesada. À luz da lâmpada, viajamos. O livro precisa dizer-nos que o mundo está errado, que o mundo devia, mas não é composto de domingos. Então, como uma espada, surgir da nossa felicidade burguesa e particular uma dor viril e irritada, de lado a lado. Para que os dias da semana entrante não nos repartam em uma existência de egoísmos.
Do livro 'O Cego de Ipanema' - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960

петак, септембар 17

Serafim era um belo e vistoso peixinho dourado laranja. Já ao nascer sua curiosidade destacava-se entre sua dezena de irmãos gêmeos. Serafim havia nascido para ser explorador! Foi ele o primeiro a sair da barriga de sua mãe peixe, como foi ele também o primeiro a quase ser engolido por seu pai. Pais peixes não distinguem muito bem quem é de quem não é seu filhote, talvez por isto comam todos os pequeninos que aparecem a sua frente. Aliás, depois de dar beijinhos na água, comer é a coisa que peixes mais gostam de fazer, comem tudo que pareça comestível, inclusive peixinhos menores.
Outra particularidade de Serafim é que sua memória, como dos outros peixinhos dourados, dura apenas cinco segundos. Ele pensa uma coisa e caso demore mais que cinco segundos ele nem sabe no que estava pensado. É provavelmente por isto peixinhos dourados não pensem muito.
Voltando então a falar nas primeiras experiências de Serafim, foi ele o primeiro a ver sua mãe, como foi também o primeiro a esquece-la. Nem era triste para Serafim não ter mãe, ele não se lembrava de ter tido uma algum dia. Foi Serafim certamente o primeiro a passear entre as rochas de seixos, que nesta época pareciam montanhas, como foi ele o primeiro a mordiscar a alga verde musgo brilhante. Na certa esta alga parecia ter algo de especial aos olhos de nosso peixinho, pois o tempo máximo que o vi afastado dela foi de cinco segundos, para em seguida distraidamente vê-la e nadar a toda velocidade para mordisca-la novamente e reprovar o quanto não é saboroso o plástico musgo verde.
Além do plástico musgo verde mordiscado, do mergulhador que soltava imensas bolhas de ar o que Serafim mais gostava era de brincar de siga o mestre. Um irmão peixinho ia para um lugar e todos iam atrás dele. E todos iam atrás de todos no final. Parecia que eles não conseguiam inventar nenhuma brincadeira melhor do que aquela, porque todos os dias eles faziam a mesma coisa. Ou será que Serafim lembrava da brincadeira? De fato Serafim não chorou visivelmente quando foi o primeiro a entrar em uma novíssima rede branca para capturar peixinhos do aquário. Ele só se lembra de ter ficado sem ar por cinco segundos. Mesmo assim só lembrou cinco segundos.


Magnificat

Álvaro de Campos



Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que dispertarei de estar accordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossivel de fitar.
As estrellas pestanejam frio,
Impossiveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossivel de escutar.
Quando é que passará este drama sem theatro,
Ou este theatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
Quem tens lá no fundo?
É Esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu accordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!



Álvaro de Campos
(07 de Novembro de 1933)
Habita-me um labirinto que me excluí, desvirtua. há um cansaço que vai além de cansaço; canso de elaborar, elaboro a não vontade de elaborar-me.Elaboro-me embrutencendo-me. Sento ao analista sem nada dizer, para que eu entenda que me há silêncios, coisas que simplesmente não quero entender. Para que eu entenda não existir eu. Para que entenda a impossibilidade de entender. Que ao não entender seja eu aberto as infinitudes de sentidos. E finalemtne possa estar aqui e lá. Tomar do mundo todas as sensações. Ter em mim todas as viagens, guardar todas as estrelas, ter todos os amores. Sendo nada posso ser tudo.Ter tudo. Sentir tudo.
O silêncio brota do não reconhecimento; estranhesa que desalenta e alimenta dias e noites de insônia.
Entre apareceres e desaparições.
Dizer é apenas fazer pausa.

уторак, септембар 14

olha, entao aqui vai o protesto. onde é que foi parar o pessoal desse blog? cadê a poesia nossa de cada dia? está cada um no seu casulo, é? desistiram da borboleta? pois, protesto.
me incluo entre os escritores mudos e convoco a todos, e a mim própria, a frequentarem mais esse espaço.

salve.

уторак, септембар 7

"A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado.
Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado."
Arnaldo Antunes
Ouvi dizer: -Melhor cair das nuvens,
do que do terceiro andar.

субота, септембар 4

Ah! Como cambaleava... Quão difícil foi subir de lado. Quão belo o rodopiar de um pé só. A cambalhota para trás. O duplo movimento para lugar nenhum. O breve interlúdio para ser marciano. Uma preparação gloriosa. Um respirar profundo com leve movimento de mãos. Distância abaixo. Em linha reta. Rodopia ao vento. Para quem sabe ser o chão um céu.
Sentimento este bêbado inconseqüente.



петак, септембар 3

«Lisboa, entende,e uma quermesse de provincia, um circo ambulante montado junto ao rio, uma invençao de azulejos que se repetem, aproximam e repelem, desbotando as suas cores indecisas, em retangulos geometricos, nos passeios, nao, a serio, moramos numa terra que nao existe, esta la um olho redondo, um nome, e nao e ela (...). »

os cus de judas _ antonio lobo antunes
Agravo-me.
Esbaldo-me.
Mas não gozo.
Estar ao lado de uma infinidade de afetos.
E estar só.
Não me importa em qual forma se despeja o cimento: ele é apenas enrijecer.
Vou viver de qualquer maneira:
-dê-me mais uma dose.
Não vou morrer de tédio.
A única urgência que me habita é não estar ciente de que só posso estar aqui.
Petulante: não vou perguntar se posso passar.Quanto tempo é tempo ainda:
quanto tempo há: resta.
Como se tempo fosse ainda, como se houvesse tempo passado.
Tempo apenas mal apoiado. Há vários lagos que se afogam em mim.
Todo tempo nosso corpo esfria; como se tempo ao se falar ainda o fosse: como se só não se falasse daquilo que não é.
Fala-se somente memória ou sonho; apenas o que é não pode ser dito.
Quem sabe, ainda seja tempo das lembranças todas serem sonhos; e os sonhos apetitosos e intensos como toda lembranças.