уторак, децембар 28

saudades das gerais.
um beijo.
volto já.

e para o ano novo, desejo.

Desejos

Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.



cda.

Esta é uma das melhores semanas do ano.NAda se compara as possibilidades que ela carrega. Andar nas ruas por esses dias é quase pescar aindas potencialmente repletos.Não importa a perpectiva: Um ano ainda não começou ( dá tempo, dá tempo...), o outro não terminou (haverá tempo...)o tempo do ainda se dá aos ansiosos e aos nostalgicos, aos céticos e aos utópicos.
Tempo de sair com roupas esvoaçantes e aproveitar o vento e os olhares que me cercam. Descobrir que sair a noite sem lente traz de presente várias luas, cheias e sobrepostas, formando uma enorme rosa branca contornada de azul.
Tantos beijos adormecidos...
Quantas levezas insustentáveis... e deliciosas.
Tantos sonhos. Embriagados. improváveis.Perfumados.Intensos. Coloridos. Agudos. Enfeitiçados.Transbordantes. Safados. Ingênuos.
O passar dos anos já não provoca medo. Não tem sentido. São vapores.Esplêndido espetáculo. beleza e horror.

петак, децембар 24

Jorge sentou praça na cavalaria
eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham maõs e não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés e não me alcacem
Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejao
E nem mesmo o pensamento eles possam ter para me fazeram mal
Armas de fogomeu corpo não alcançarão
Facas e espadas se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e corentes se arrebentem sem o meu corpo amarrar pois eu estou vestido com as roupas e as armas de jorge
Jorge é de capadócia.

amor que protege, para o ano todo.

уторак, децембар 21

.

Magritte
tenho cigarros, um conhaque barato. uma vista que me permite contemplar a chuva, fina, ininterrupta, a afogar lentamente esse mundo metido a besta.
ouço o som do apartamento ao lado.
De tudo, restará apenas o cinismo.
E aquilo que,
imparcialmente, se deixa comprar por dinheiro.

понедељак, децембар 20

A pessoa tinha um cú
Era uma doença acentuosa

B. Vorcaro
Eu sei, vida vivida causa feridas no estômago.Embora, de vez enquanto, a gente seja premiado na vida com certos encantos.
Fim de semana que merece deixar um rastro:
Sexta:Salmão com ervas e salada de camarão. Penny com tomate seco e queijo. Poesia música cerveja e amigos. um luxo!
Sábado: despedida, os italianos se vão...fica gosto estranho, de coisa que ficou por ser...
depois... Comprar aleatórios,subir as escadas de um puteiro e dançar, inquieta, na chuva.
Um sorriso, de tão maduro, quase me fez cair.
(...)
Há uma falta além das de sempre, um rasgo que tem nome. Ao que parece, se torna apenas mais um.
Domingo: tradições e modernidades acelerações e contrações e o último trabalho, último empecilho que me separa das férias. Alguma angústia.
Amanhã sai o resultado da bolsa.Ai.
NAda importa. Here comes The Sun. Os escravos da alegria trocam dinheiro por paixão.it´s all right.

петак, децембар 17

motivo dessa alegria?

FÉRIAS!!

acabou o semestre, meus queridos. coloquei aquela livraiada toda numa mala - que vou deixar em casa - e agora vou fazer passeios. !! ótimo, não?

levo vcs todos comigo.

um beijo de ginja.

среда, децембар 15

mãos e pés frios em descontrole.

de um livro que a joana me mandou.

carol carol
presença fios luminosos com tres extremindades: a b c
vc está on line?
beijo beijo beijo
"O cacto é cheio de raiva com os dedos todos retorcidos e é impossível acarinhá-lo. Ele te odeia em cada espinho espetado porque dói-lhe no corpo esse mesmo espinho cuja primeira espetada foi na sua própria grossa carne. Mas pode-se cortá-lo em pedaços e chupar-lhe a áspera seiva: leite de mãe severa."

Ela, sempre. Clarice.
PS: Os últimos dias dias tem sido emocionalmente exaustivos. Beijo com gosto de capucino italiano. certeza intranquila de dever cumprido. Incertezas e pressões.Em mim.No reflexo. Muita cerveja. Pouco dinheiro. Face escura reativada.Explosão. Explosão. Silêncio e comida chinesa. Mais silêncio. As chuvas de fim de ano fazem a gente pensar que tudo podia ser pior.

уторак, децембар 14

então?

por enumeração?
:

.: hoje me veio um cheirinho de pão de queijo lá de buenos aires.
..: estou euforicamente exausta. sabem como? pois.
...:última semana de aula. - !!! ótimo, não?
....:estamos próximos do natal, ano novo, janeiro!
......: estou escrevendo porque estou com saudade.
........: disco do amelie poulin faz muito bem.
.........:já tá. não adianta. o grito não cala.

um beijo em cada um.

понедељак, децембар 13

(estava andando pela cidade quase-morta.
luminosidades
sem-saída e sem-entradas.
vendo como a chuva reflete o belo sobre o feio.
buscando entender a razão de todas as coisas em uma só, num iuntervalo,
senti meus pés arrastando, por debaixo, o asfalto suado
e meus ouvidos me surdando)

Walk -- in silence
Don't walk away -- in silence
See the danger -- always danger
Endless talking -- life rebuilding
Don't walk away

Walk -- in silence
Don't turn away -- in silence
Your confusion -- my illusion
Worn like a maskof self-hate
Confronts and then dies
Don't walk away

People like you -- find it easy
Aching to see -- walking on air
Hunting by rivers, through the streets,
every corner abandoned to soon
Set down with due care
Don't walk away -- in silence -- Don't walk away

(Atmosphere, Ian Curtis)

недеља, децембар 12


Flor da idade




A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a família
A armadilha
A mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filha
Ela vive parada no sucesso do rádio de pilha
Que maravilha
Ai, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor


Vê passar ela, como dança, balança, avança e recua
A gente sua
A roupa suja da cuja se lava no meio da rua
Despudorada, dada, à danada agrada andar seminua
E continua
Ai, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor


Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo
Que amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava Dora
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava
a filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

Chico Buarque/1973
Para o filme Vai trabalhar vagabundo e para a peça Gota d´água de Chico Buarque e Paulo Pontes

субота, децембар 11

Ao caminhar pela cidade e ver as luzes de natal percebo o tanto que a vida é patética.

недеља, децембар 5

Finalmente um domingo azulado. Embora o gosto em minha boca e o cheiro em minha roupa não permita que eu perceba o dito frescor da manhã. Apenas parece uma noite invertida. Do meu lugar, esta cadeira num bar imundo, vou permanecer. Uma mulher estranha tagarela me diz que os círculos concêntricos se dividem em bolhas de sabão. Me divirto pensando nas maneiras possíveis de fazê-la calar.
Tenho aprendido que venderia minhas roupas para beber.O chão de um sóbrio é impisável.
Coloco-me, entre dialogos com a escória que entra e sai ( pela qual sinto uma mistura suave de repulsa e gozo), questões verticais ao horizonte.

субота, децембар 4

ânsia de perplexidade
Dialogos de mutações vazias, desvelar vacilante, confuso, não sei se belo ou apenas estranho. Falas atordoadas. Deslocadas talvez. A minha intraquilidade não permite que eu durma. então embriago-me com as doçuras das vidas que não me pertencem, com seus desníveis e descompassos. Me permito brincar, me perseguir e nunca me encontrar.Tenho perguntas.Tenho raivas guardadas como presentes. Sensibilidade que escolhe e violenta.Acolhe, por vezes furiosamente.Olha, às vezes a gente não sabe por que faz o que tá fazendo.Desce cerveja.As coisas ficam muito misturadas quando o discurso é verossímel demais, mas pouco plausível ao se enunciar, assim, ali, como qualquer coisa que só por acaso acontece. Por que todas as coisas são acasos e os acasos com cara de acaso só usam uma máscara a mais.Verdades e mentiras prismas de um mesmo nada, percebo que tenho um tratamento estético para com elas.
E então, fechamos os olhos e voamos. Ou apenas olhamos em volta e percebemos que não há nada de especial nisso.

"Há uma dura luta de coisas que apesar de corroídas se mantém de pé, e nas cores mais densas há uma lividez daquilo que mesmo torto está de pé." Clarice Lispector

четвртак, децембар 2

"...a essas crenças não ansiosas chamamos fatos."

"Sim, eu sei,que nos atolamos de novo. Se sentir deslizar sob os pés o firme terreno dos preconceitos é exaltante, é necessário preparar-se para qualquer vingança."

DANÇA COMIGO?

Choro
não sei por quê
e nem quero entender.

(Estranhamente não é dor.)

A lágrima de sentimento novo
não tem motivo
mas lava
e leva
alguma imperceptível máscara
que ainda me pesava.

Há cada vez mais vida em minha vida
simples
onde havia a busca estagnada
da inatingível perfeição.

Fabio Rocha

среда, децембар 1

"Não me assente o senhor por beócio. Uma coisa é por idéias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... Tanta gente - dá susto se saber - e nenhum se sossega: todos nascendo, crescendo, se casando, querendo colocação de emprego, comida, saúde, riqueza, ser importante, querendo chuva e bons negócios... De sorte que carece de se escolher:ou a gente se tece de viver no safado comum, ou cuida só de religião só"
Guimarães Rosa

недеља, новембар 28

Escrevo num caderno velho que achei no meio fio. Vivo também uma vida achada entre as outras que poderia viver. Da mesma forma que ninguém me lê, ninguém me assiste. E isso garante a perpetuação de uma pretensa harmonia universal.
E se o trágico é tão odioso quanto fascinante, por que não disfarça-lo... Assim conferimos algumas raízes pr´aquilo que só tem contigência. Cativar e ser cativado é apenas contruir máscaras, para suportar o insuportável.
Há uma imensa sede que sacio com o sangue dos viandantes que observo, à distância. Deleite triste como essa manhã cinza, e todos os sonhos realizáveis em meditações abstratas e danças à sós, apenas.

четвртак, новембар 25

Vida: Descartes pela manhã, apenas uma certeza crua. Algum rodar, alguma perda, coisa que a gente não vê. Depois, Comer compartilhando sorriso e espera e amizade: profunda, explosiva,linda. Livros, livros, e avontade de te-los. Mais tarde: carinho ganhado:gramatologia de presente.E a pos modernidade e todos os sentidos e nenhum sentido. carinho inesperado, de todos os lados. cervejas e cervejas... tanta coisa. Beleza inesperada. Dança de todos os ritmos.

среда, новембар 24

Vai levando

Caetano Veloso - Chico Buarque
1975

Mesmo com toda a fama
Com toda a brahma
Com toda a cama
Com toda a lama
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando essa chama

Mesmo com todo o emblema
Todo o problema
Todo o sistema
Toda Ipanema
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando essa gema

Mesmo com o nada feito
Com a sala escura
Com um nó no peito
Com a cara dura
Não tem mais jeito
A gente não tem cura

Mesmo com o todavia
Com todo dia
Com todo ia
Todo não ia
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando
A gente vai levando essa guia

уторак, новембар 23



aline, querida.
de longe, tão perto, um abraço sorridente, explosão de carinho. compartilhamos a casa, como no outro ano, para a festa do encontro. alegrias, minha querida, todas.

понедељак, новембар 22

Fim de ano. Tanta coisa. Tanta chuva.Tanto encontro. Tanto desencontro. Pêndulo oscilante, intermitencia, instabilidade.Falta de tempo. Falta tempo para tantos tempos...Mais um ano. Apenas mais um.Menos um. De 23. Since 1981. Muito tempo ou Pouco tempo.Muito pouco tempo. Muito e pouco tempo.

петак, новембар 19

VISÕES DO TEJO

No alto de Santa Catarina, bem diante da estátua do Gigante Adamastor, Cida La Lampe observa o Tejo e diz: "O Tejo está tão bonito que dá até vontade de namorá-lo".


.: o kafka sumiu em lisboa. deixou rastros no sítio, no site.

среда, новембар 17

escuto novos baianos.
em portugal faz frio com sol. semana que vem, grau zero. hoje digo no trabalho que só fico por lá até o fim do mês. depois tem as provas finais do semestre, umas mil. tento fazer.
depois vou morar em avião. morar no ar, mor ar.
continuo escutando novos baianos.
de repente, um sentimento intenso diferente. hora de voltar. vamos por caminhos tortos, melhor ir pela curva. e chegar. voltar devagar. e abraçar. amar.

уторак, новембар 16

From the ice-age to the dole-age
There is but one concern
and I have just discovered:

Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girl's mothers are bigger than
Other girl's mothers
Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girl's mothers are bigger than
Other girl's mothers

As Anthony said to Cleopatra
As he opened a crate of ale (Oh, I say):

Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girl's mothers are bigger than
Other girl's mothers
Some girls are bigger than others
Some girls are bigger than others
Some girl's mothers are bigger than
Other girl's mothers

(Send me the pillow...
The one that you dream on...
Send me the pillow...
The one that you dream on...
And I'll send you mine.)

(Morrisey)
Nu, tímido, selvagem se ocultava
O troglodita nas cavernas;
O nômade nos campos pervagava
A devastá-los sem cessar;
O caçador com sua lança e flechas.
Terrível, as florestas percorria;
Desgraça para os náufragos lançados
Pelas ondas naquela praia inóspita.
Das alturas do Olimpo, Ceres
Desce, à procura de Prosérpina,
Ao seu amor arrebatada;
A seus olhos o mundo é todo horror.
Nenhum asilo, nem mesmo oferendas
À deusa são apresentadas.
Aqui não se conhece culto aos deuses,
Nem templos há para adorá-los.
Os frutos do pomar, as uvas doces
Não alegram nenhum festim;
Só os restos das vítimas fumegam
Sobre as aras ensangüentadas.
E em vão de Ceres vaga o triste olhar;
Por toda parte avista o homem
Numa profunda humilhação.

(Dmítri Fiódorovitch)

понедељак, новембар 15

недеља, новембар 14

A noite de ontem me reservou o raro prazer de beber com uma mulher que me olhava nos olhos. Completamente despida. Despudorada, e quase vulgar na defesa infantil de seus valores insensatos. Algumas doses e ela me entreteram por toda uma madrugada.Tantos amores e amantes...
Pessoas cheias de verdades e lógicas carregam uma ingenuidade fresca. A deixei em casa, e ela me deixou um gosto agri-doce nos lábios.


MASCARADA


Você me conhece?
(Frase dos mascarados de antigamente)


- Você me conhece?
- Não conheço não.
- Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
que a paixão dos homens
(estranha paixão!)
Fazia maiores...
Fazia infinitos.
Diz: não me conheces?
- Não conheço não.


- Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
à tua visão!
Tu não me escutavas:
Perdido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia...
Era a minha fala
Canto e persuasão...
Pois não me conheces?
- Não conheço não.
- Choraste em meus braços
- Não me lembro não.


- Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!


Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?


- Não conheço não.
Conheço que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço que a vida,
A vida é traição.


Manuel Bandeira
Negocio, eu e os outros, alguns pontos ( odiamos,todos, os domingos:poucas coisas são tão detestáveis, afinal). Clarice Lispector é a tangência. Vejamos:

-Se tudo existe é porque sou. Mas por que esse mal estar? É porque não estou vivendo do único modo que existe para cada um de se viver e nem sei qual é. Desconfortável. Não me sinto bem. Não sei o que é que há. Mas alguma coisa está errada e dá mal estar. No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza. O que há então? Só sei que não quero a impostura. Recuso-me. Eu me aprofundei mas não acredito em mim porque meu pensamento é inventado.

-Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: Quero é uma verdade inventada.

-Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

-Flores envenenadas na jarra. Roxas azuis, encarnadas, atapetam o ar. Que riqueza de hospital. Nunca vi mais belas e mais perigosas. É assim então o teu segredo. Teu segredo é tão parecido contigo que nada me revela além do que já sei. E sei tão pouco como se o teu enigma fosse eu. Assim como tu és o meu.

четвртак, новембар 11

среда, новембар 10

como é que coloca imagem?
como é que faz com saudade?

Não sou deus. Apenas tenho uma pretensão à divindade. Escapo, com alguma destreza, a todo engajamentoe ultrapasso o outro enquanto toda situação. Antes que um objeto me roube o mundo, Atravesso o outro e armo uma fuga invisível de todo universo para mim. Provoco um deslizamento, melhor dito, o mundo parece que tem um escoadouro para o meio do meu ser, e esse liquido, ambíguo, escorre perpetuamente para dentro de mim, através desse orifício. Todo o outro, ainda que isso provoque-me um profundo fastío,deve ser vivido por mim para estar em meus olhos. Meu corpo, se movimento, é movimento em direção ao mundo e o mundo é um ponto de apoio, (débil) para meu corpo.
Ah...que se delineia no horizonte que vivencio...Um enorme teatro de bizarrices, circo de vários palcos, espetáculo do grotesco e absurdo sem-fim...
Efetivo é apenas o meu olhar para o mundo, porque senão, os olhares se quebrariam ao se cruzar.

недеља, новембар 7

Não mais escrevo poesias
Agora sou ser do mundo
Risível, descartável, opcionalmente odiavel

Redundante papagaio

Terei de sofrer mais para saber o sofrimento que tenho
De viver mais para ser o que nunca quis

Ridicularizando-me nego qualquer possibilidade de progressão
Satisfaço-me em ser pequeno
Minha única função é definhar
E provar que meus sonhos são merda suja e delirante

Onde está o amor que tive?

Certamente no mesmo lugar do amor que tenho
Não há amor além do egoísmo
Não há porco maior que o enlameado de sonhos

Faço sofrer e tenho prazer
Torpe foi alguma esperança de ser homem

Estava certo o da mansargada
Nunca deixei de ser o eu pequeno
Que se embriagou de poeta
Que se elogiou de poesia

Antes não tê-la tido
Antes não ter esperança de volta
Antes ter sempre estado limpo

Mas agora não dá

É hora do lamento
Do saborear a amargura
De ser o feio
O burro

Saborear toda dor como real
E saber que nem mesmo a dor é real

Não há futuro em mim
Nem passado que me caiba

O outro é eterno inútil
Caco ridículo de um espelho sem imagem

Nada existe cheio

Abdico da poesia
Para de espontânea vontade
Ser o que nunca quis

Que eu deixe ódio
Sabendo que nem ele perdurará mais que um pensamento
...( a vida é uma sequencia de páginas, escrever-ler, impulso insaciável, pouco consistente por que intrépido, salta de linha em linha, dançando, assoviando, cantarolando. Cada letra alarga ranhuras e intertíscios, embebidos na boa e gelada cerveja, esfumaçado pelo clássico imperdível e amado ns cigarros, que alivia alimenta as angústias e ilusões de uma gente que se perde na margem do meio e em todas as outras margens da academia. )
e então
SOLENEMENTE SURRUPIADO E DEVIDAMENTE APROPRIADO...apresento:

O INCÊNDIO VESPERTINO NAS PISCINAS DOS SUBÚRBIOS

Quando lecionava escrita criativa na Iowa University, John Cheever propunha três exercícios a seus alunos:

1] A escritura de um diário por ao menos uma semana, um diário onde aparecesse tudo: sentimentos, sonhos, orgasmos, todo tipo de sensações, desde as mais íntimas até a descrição da cor de garrafas vazias ou prestes a serem entornadas;

2 ] O segundo passo consistia na composição dum conto onde sete personagens ou paisagens que aparentemente não tivessem nada a ver surgissem inevitável e profundamente relacionados entre si;

3 ] O terceiro passo -- e esta era a sua lição favorita -- era redigir uma carta de amor como se estivesse escrevendo num edifício em chamas -- "Um exercício que nunca falha", dizia.

por Joca Reiners Terron, e
depois, de um dos emissários do qual esqueci de olhar o nome...

петак, новембар 5

carta do brasil. aline. letra da bia. postal, portal para congonhas, para minas, para a prova dos nove da alegria. carta da aline. euforia em lilás, carinho na letra.
obrigada, queridas, amo vocês.
????

olha isso!

http://br.news.yahoo.com/041103/5/oowg.html


среда, новембар 3

Sei que ando desnorteada. Eu me percebo, apesar de tudo.
Tão cinza, por vezes, tão pálida.
outras, tons dramáticos, púrpuras em várias nuances.
A minha sombra, tons pastéis.
Ao meio dia, amarelo outro.
Ao entardecer,
rosa-chá.
cair da noite: verde-hortelã.
Domingos a noite
um azul profundo, inabitável.
( um dia ainda perco o medo e começo a me pintar)

Todos os dias travo debates banais e insuportavelmente imperdíveis.
Tudo é um estar só. Um tropeço.
são sorrisos de olhos.
Aquele "beijo" que não veio.
(récuo da trama).

уторак, новембар 2

Ângulo

Aonde irei neste sem-fim perdido,
Neste mar oco de certezas mortas? -
Fingidas, afinal, todas as portas
Que no dique julguei ter construído...Chegaram à baía os galeões
Com as sete Princesas que morreram.
Regatas de luar não se correram...
As bandeiras velaram-se, orações...

Detive-me na ponte, debruçado,
Mas a ponte era falsa - e derradeira.
Segui no cais. O cais era abaulado,
Cais fingido sem mar à sua beira...

- Por sobre o que Eu não sou há grandes pontes
Que um outro, só metade, quer passar
Em miragens de falsos horizontes -
Um outro que eu não posso acorrentar...

Mário de Sá Carneiro

субота, октобар 30

Mundo grande


Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)


Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?



CDA


Ainda que mal

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entendas,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda, assim, pergunto:
me amas?
E me queimando em teu seio,
me salvo e me dano...
... de amor.

CDA
Em uma quinta feira, lutando num bar, resignada, contra o desencanto e o alcoolismo, percebo, nuvem nos olhos, a frieza e a doçura do outro. Fui torpe, magoei e fiz sofrer. E no entanto, apenas vivi. Paralisada, no escuro, apenas escuto o tricotar de fios que me enrolam até o quase-sufocar. Já não faz mais diferença escolher. A festa acabou.
Parece que perdi a cena em que poderia ter feito tudo ser nada. Atendo caprichos. Tenho preguiça.
Só quero voltar a dormir.
de surpresa, hoje não trabalhas. talvez uma caipirinha. e talvez teatro.

talvez camões, já que é portugal. já que é camões. lusíadas, talvez, representado. não, melhor, reinventado. mágica, sim, e então agora somos camelos. e mulheres. e árabes. e deuses. e luz, navio, pronto, terra. e letra. tudo é mar.

talvez camões vai amanhã para o brasil, digo, a mulher, brasília.

tanto mar, amar.

четвртак, октобар 28

e então, caros brasileiros! (diz da portuguesa ao lado, vos apresento, emília)

vamos por enumeração:

.ora pois, fim de aula, divagações do moço que, como diz o outro, jogou a verdade para fora da caverna. no final, cigarro e café e a constatação de que a vida pode, por tempo indeterminado, se concentrar em viagem.

.e a rapariga me lembra do esteves sem metafísica. convite aos chocolates.

.planos: dormir. quero dizer, sonhar.

.dança é música dos corpos.

.um brinde.

.penso no encontro de poesia no bar dos pescadores. cerveja, skol, faz favor. - rapariga ao lado não compreende mas sei que gostaria. e uma rodinha de samba no fundo (letra de emília mostrando que entendeu tudo.)

.hum. pra já e tudo.

.me despeço com um cigarro apagado nos lábios. - (tabacaria?)

понедељак, октобар 25

Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes. A sua vida humana é cheia de tudo quanto constituiria uma série de angústias para uma sensibilidad verdadeira. Mas, como a sua verdadeira vida é vegetativa, o que sofrem passa por eles sem lhes tocar na alma, e vivem uma vida que se pode comparar somente a de um homem com dor de dentes que houvesse recebido uma fortuna - a forma autêntica de estar vivendo sem dar por isso, o maior dom que os deuses concedem , por que é o dom de lhes ser semelhante, superior como eles (ainda que de outro modo) à alegria e à dor.

Por isso, contudo, os amo a todos. Meus queridos vegetais!
Domingos e suas estranhesas. Comprar cigarros e jornal. Ver a cidade. As pessoas. Monumentos.Indiferença. Desejo. Dor. Sadismos mil. Observo as supostas belezas da vida. Percebo, amiúde, que tudo o que chamam belo não é senão uma insensibilidade, ou um orgulho, ou um desespero, ou um parricídio.

недеља, октобар 24

Down em Mim



Eu não sei o que meu corpo abriga
Nessas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto
Vão assistir comigo a versão nova de uma velha história
E quando o sol vier tocar a minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou me esquecer
Pois nessas horas pega mal sofrer
Eu não sei o que meu corpo abriga

Nessas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, te gritar
Te rebocar do bar
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar sorrindo que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Down, eu ando tão down
Down, down, down
Down, down, down

(Cazuza)

субота, октобар 23

"De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando;
...A certeza de que é preciso continuar;
...E a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro!"

Fernando Sabino
"O Encontro Marcado - 1956"

петак, октобар 22

Carol:
uma saudade, urgente, me assalta!
Preciso ver-te ver...
Quero te encontrar on line, e entendo a beleza do inesperado, mas há também muita beleza nos artifícios...
Beijos muitos.
Aline.

четвртак, октобар 21

Disse-me exaltado:
- O bar é a única república possível.
Claro, pensei com desprezo. Mais um idiota que não entende absolutamente nada do que se possa conceituar como república.
- A palavra que vale não necessariamente é a mais convincente.
Continuou o estorvo.
- Mais vale um papo furado entre o tom normal e o exaltado.
Só faltava rimar mesmo.
- E o carisma também é essencial.
Nunca vi mais cara de pau.
- Mas, principalmente o que vale é o conchavo. Um agradinho aqui, um ceder de palco ali, um apoio pra já.
E cadê a república meus Deus?
- Brahma, por favor!
Um breve debate. Dois contra, um a favor, uma abstenção.
Bebemos Skol.


среда, октобар 20

Tudo no tempo, todo o tempo: largatas e borboletas...
Ainda nas esquinas extremamente ásperas, há um sorriso sem
dentes à espera do significado da palavra amor.
da greve

como na maioria dos países ocidentais, o governo corta gastos na educação, afirmando, em contradição absoluta, que é preciso investir em programas sociais. aqui em portugal uma greve estudantil começou em coimbra, escorreu ao porto e se propôs agora em lisboa. como no brasil, dia de manifesto, muitos estudantes entre cartazes na porta, tantos panfletos, outros microfones. cheguei na faculdade e descobri que a única sala do prédio que tinha aula era justamente a que eu deveria estar. resolvi ir para dizer que não iria. e lá cheguei. para minha surpresa alegre, etelvina, nossa professora, tentava com rosto corado e suor nas mãos, explicar aos alunos que eles não deveriam estar ali. Greve, ora, é greve. éramos três ou quatro que distribuíamos argumentos políticos atravessados por pura vontade de nada menos que um mundo mais justo e outros dez ou doze que diziam da ilusão de tudo isso. acabou-se o tempo da aula, uns foram embora porque o ônibus passava naquele horário, outros saíram convencidos de que greve é luxo de uma esquerda burguesa, e outros foram se juntar à maioria grevista. “cada um que tome seu rumo, mas que pensem, absolutamente, qual será o vosso”.

Feito pra mim.
Bom pra você!
Deixa mudar e confundir.
Deixa de lado o que se diz.
Tem no mercado,
é só pedir!
Me faz chorar e é feito pra rir.
poucos são os dias de prazer e trabalhos. mas hoje fui obrigado a fazer um conto para a fae... (me senti melhor do que fosse ator de filme pornô)



Sua mãe o havia recomendado manter distância dos outros, pois os outros são imprevisíveis, podem nos fazer perder o rumo ou o prumo quando nos encontramos estáticos. Por aqueles dias, portanto, esperava não precisar fazer amigos, preferindo a companhia das recém plantadas palmeiras (reais?). As árvores são realmente mais necessárias aos homens que eles próprios, pensava. Elas nos permitem reflexão acritica, ao menos, até aquele instante, nenhuma árvore que ele havia conhecido o fizera mudar de opinião ou refletir para além de suas raízes.
O ambiente asséptico de longos corredores brancos, as janelas acima da linha da visão, o aquário onde via os outros lancharem, tudo perfeitamente planejado para se concentrar nas aulas e somente nelas, seu objetivo. Já no primeiro dia havia entendido a genialidade dos projetistas, a gloria da educação, a grandeza dos anos da humanidade. Realmente convenceu-se que não era inútil a história, a tradição ou as futuras leituras sobre o que é ser educador e educado. Toda aquela soberba só poderia ser fruto de grandes mentes, atentas ao conhecimento, fixas no iluminar os pobres sem-luz (a-lunos). Estava realmente satisfeito em seu ensimesmamento.
Não fossem seus hormônios continuaria sua fantástica catarse rumo a alma do conhecimento, mas, eis que inquietantemente surge ela. Não mais havia graça em observar as pessoas comendo no aquário, não mais se detinha em sonhar com o dia que as catracas só abririam depois de se passar um cartão onde não haveriam nomes, só números. Deu-se conta que era ele provido de um corpo e como tal não podia se isentar das paixões (ou tesões). Revolucionário dia em que lhe apareceu ela.
Prudentemente observou sua musa, dissecando seu corpo, acompanhando suas mãos, sugando-lhe o cheiro e principalmente estava atento a seu intelecto. Certo dia em meio acalorada discussão ouviu proferido pelos mais carnudos lábios possíveis (os dela) o nome Piaget. Bastou-lhe para ler qualquer pé de página que pudesse conter o mesmo nome. Livros, mais livros, mais livros. Conquistaria-a pelo conhecimento.
Ao fim parecia pronto para confrontá-la e declarar com toda altivez seu amor. Todo problema estava em como abordá-la, pessoas de sua estirpe estavam acostumadas a relacionar-se com árvores, que ao máximo aceitam, mudas, o que lhes é imposto. Decidiu por esperar o momento propicio em meio às aulas, o que não tardou a acontecer. Novamente Piaget foi proferido, mas, desta vez, pela boca da mestra, o que lhe dava no mesmo, pois o que desejava era se mostrar. E se mostrou... Dominava cada virgula já escrita sobre Piaget, cada virgula escrita por Piaget... Assim pensava. Ao término de sua exposição vertiginosa escutou: - Meio confuso, não? Pareciam ter-lhe arrancado o rosto, deixado-o nu.
Mas, eis que no eterno momento entre a fracasso e o choro, surge outra “ela”, diria que nunca vista por ele até o momento, defendendo-o, explicando por A + B que era plausível seu discurso. E ela, sua defensora, parecia ter razão. Parecia tanto que misteriosamente ele conseguiu forças para juntar-se a ela e convencer mais um ou dois de sua turma, incluindo a educadora. Era a glória. O ápice. Sentia que ambos, juntos, era imbatíveis. Melhor que isto, sentia que a “outra ela” multiplicava-o.
Ao saírem da sala ainda salientavam acalorados sobre Piaget, que a esta altura já se havia transformado no mundo. Conversaram muito, até os pés doerem. Como não havia sequer um banco, nem caixote, nem pedra, nem nada do gênero em todo o complexo, exceto no aquário. Foi para lá que a “outra ela” o convidou. Por capricho do destino ele não tinha um tostão furado, por vergonha recusou sorrindo.
A primeira ela não foi mais lembrada e a segunda só com os olhos foi tocada. E Piaget? Bem... Piaget foi só conversa fiada.

уторак, октобар 19

Pouco me importa.
Pouco me importa o que? Não sei: pouco me importa.

A. Caeiro
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a ação humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias.

Alberto Caeiro

недеља, октобар 17

Domingo de manha. Verifica-se alguns pontos, cartesianamente.
Por suposto:
- todas as coisas que vejo são falsas.
- não há nenhum sentido.
-Creio que o corpo, a figura, a extensão, o movimento, e o lugar são apenas fixões do meu espírito.
- O que poderá ser considerado verdadeiro...
talvez nenhuma outra coisa a não ser que nada há no mundo de certo.
O artista é o criador de coisas maravilhosas.
Revelar a arte, esconder o artista é a meta da arte.
O crítico é aquele capaz de traduzir para uma outra maneira, ou para um novo material, sua impressão das coisas maravilhosas.
Tanto a forma mais elevada como a forma mais baixa de crítica é um modo de autobiografia.
Os que descobrem significados feios nas coisas maravilhosas são corruptos deselegantes. Isto é um erro.
Os que descobrem significados maravilhosos em coisas maravilhosas são os ilustrados. Para estes, há esperança.
São os eleitos, para quem as coisas maravilhosas significam apenas beleza.
Não existe isto de livros morais ou imorais. Livros são coisas bem escritas ou mal escritas. É só.
A antipatia do século dezenove pelo realismo é a fúria de Caliban vendo seu rosto no espelho.
A antipatia do século dezenove pelo romantismo é a fúria de Caliban não vendo seu rosto no espelho.
A vida moral do homem faz parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito.
Nenhum artista deseja provar coisa alguma. Até mesmo as coisas verdadeiras podem ser provadas.
Nenhum artista possui simpatias éticas. Num artista, a simpatia é um maneirismo de estilo, imperdoável.
Não há artista mórbido. O artista pode expressar qualquer coisa.
O pensamento e a língua são, para o artista, instrumentos de uma arte.
O vício e a virtude são, para o artista, matéria de uma arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é a arte do músico. Sob o ponto de vista da sensação, o ofício de ator é o tipo.
Toda arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo.
Os que descem além da superfície, fazem-no a seu próprio risco.
Os que lêem o símbolo, fazem-no a seu próprio risco.
É o espectador, e não a vida, que a arte, na verdade, espelha.
A diversidade de opinião, a respeito de uma obra, mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos discordam, o artista está em acordo consigo mesmo.
Podemos perdoar um homem por fazer uma coisa útil, desde que ele não a admire. A única desculpa para se fazer uma coisa inútil é que a admiremos com intensidade.
Toda arte é demasiado inútil.

петак, октобар 15

inimigo prolixo
que azar o meu
vois sois tantos
e eu sou só eu!

уторак, октобар 12

Busco-me e não me encontro. Às vezes sou diferente e tenho lágrimas. Não entendo exatamente por que isso me acontece.Os traçados percorridos, bêbados, inutéis, complexos, belos, assombrosos e ousados, entorpecentes;
Tragos aliviam a angústia de existir.
Por que tudo me suga: impressões, sensações, visões...nada parece escapar, ou me deixar transbordar. Contudo, Com absurdamente tudo, são dores; cambaleantes. Sou um misto de boêmio com canalha.
Nas margens de um sorriso duvidoso, o poente belo anuncia, sensibildiade desperta, a impossibilidade breve de um dia de céu azul.

недеља, октобар 10

Sexta-feira à noite
por: Marina Colasanti

Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.


Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.


Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.

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субота, октобар 9

Aparece-se sonhos...
Apetece-me pequenos sons e movimentos inquietos, destacados emigrantes profundos. Há quem tenha sonhos triangulares, outros em mosaico. Há ainda sonhos desmaios, desses que a gente incorpora como um lapso entre o sonhando-acordado e o sonhando-dormindo.Há o sonho tombo que nos levam de uma vida a outra, na diferença do mesmo. Há os circulares, que nos levam a pensar, por um momento, que tudo faz sentido(...) Há Sonhar,e o não sonhar também. Por que sempre haverão aqueles que preferem um dia cinza à um azul úmido colorindo o céu.O sonhar não é dado a todos, e exige um esforço de alma quase doloroso, uma falta de ar, princípio de afogamento, um desassossego qualquer.
Fio externo de afetos,
Eco e abismo, estado íntimo e postiço, prolixo e indefinido. Alado.
(...)
Gozo impressões que não me pertencem.
Preciso de violências súbitas, obscuras, estonteantes, explosivas. É preciso que nada permaneça. A mesmice impregna tudo ...A monotonia do mundo é uma monotonia de mim... o cotidiano tantas vezes me sufoca! A realidade e sua fábrica de verdades achata-me, impunemente.
Faço feitiços todos os dias. PEquenas bolhas de sabão, fractais, tão frágeis, tão poderosas,. Armo-me todos os dias, lápis de cor e acessos de ira, para enfrentar a grande tristeza feita de tédio que mora em mim. Duelo travado ao som do silêncio da minha rotina.
A imaginação contorce-se entre o fingimento e a ingenuidade.

петак, октобар 8

porque hoje o inverno começou a tirar o cheiro de armário dos casacos, porque a chuva começou fininha e se encorpou, porque o vento desesperava tudo, porque o céu de lisboa parece entristecer, acordei miúda e toquei um chorinho.

cartas de amor e encontros inesperados e incrivelmente desejados inspiraram uma primavera oscilante.

um beijinho, bia, obrigada pelo carinho.
outros para você, meu amor, tantos.

четвртак, октобар 7

De "V Internacional" - Vladimir Maiakovsky

( Tradução: Augusto de Campos)

Eu
À poesia
Só permito uma forma:
Concisão
Precisão das fórmulas
Matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
Eu ainda falo versos e não fatos.
Porém,
Se eu falo "A"
Este "A"
E uma trombeta-alarma para a Humanidade
Se eu falo "B"
É uma nova bomba na batalha
Do homem.

недеља, октобар 3

Coração Vagabundo

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meu sonho
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

Caetano Veloso

петак, октобар 1

Bem... muito antes de entrar na rede de pegar peixinhos, Serafim, como todo peixinho de sua idade apaixonou-se por uma bela peixinha dourada laranja. Laranja não, aliás, laranja e azul. Aquela combinação de cores parecia hipnotizar Serafim mais do que a alga verde musgo sem gosto. Ele nunca havia visto cores tão diferentes no mesmo peixe, nenhum peixe ou peixinho dali havia visto, ou se lembrava ter visto um peixe com aquelas belas cores. Na verdade os outros peixes e peixinhos pareciam não gostar muito das cores da peixinha, pois cada vez que a viam se moviam para outro canto do aquário. Mas, ao contrário dos demais, não se passaram cinco segundos sequer que Serafim não estivesse a seu lado.
Infelizmente para nosso peixinho ela nem parecia se importar com ele. Só parecia que não se importava, pois tudo se mostrou um grande engano de memórias. A memória da peixinha dava cinco segundos logo quando Serafim chegava a seu lado, então, sem se lembrar que ele estava ali, saía nadando para perto dos demais peixinhos, para no fim ser desprezada novamente. Serafim então, que tinha a memória dois segundos mais atrasada que a da peixinha laranja-azul sempre ficava lá abandonado e apaixonado.
Serafim não se lembrava porque, mas sentia-se deprimido por aquela época. Então, num dia qualquer, depois de ser mais uma vez desprezado pela peixinha laranja-azulado, quis nadar o mais rápido possível. Nadou, nadou e nadou muito rápido, nadou para cima! Ai... Serafim voou... Por pouco tempo é claro,mas voou. Caiu no chão e ficou ali. Pulando de um lado para o outro sem sair muito do lugar. Nadadeiras não são boas no tapete. Sorte dele que eu estava ali do lado olhando e berrei até vir o gigante e ajuda-lo. E se alguém tem alguma dúvida sobre a memória curta dos peixes não precisa ter mais. Cinco segundos depois de ser colocado no aquário, lá estava ele voando para fora da água em direção ao tapete.
Mas isto foi só por um tempo, parecia que Serafim havia esquecido da idéia de voar tão repentinamente quanto a teve. Mesmo assim só andava cabisbaixo, no fundo do aquário, perto das pedras redondinhas. Nem via o mergulhador, nem se interessava nas bolhas, não achava novidade os irmãos, nem brincava de siga o mestre. Se peixe chorasse Serafim choraria, tamanha sua tristeza por ser menosprezado pela peixinha. Mas como peixe não chora, Serafim saiu por todo aquário beijando a água. Beijou tanto que um dia, distraído, beijou uma linda peixinha azul-alaranjada bem na boca. O melhor é que ela também andava distraída beijando a água por aí, triste, triste, por ser desprezada pelos outros peixinhos. Então quando as duas bocas beijoqueiras e tristes se tocaram o cronômetro da memória resetou totalmente. Só se lembravam do beijinho molhado e da cara um do outro. Ficaram assim o dia todo, um olhando para o outro. Não se distraíram nem por cinco segundos.

четвртак, септембар 30

( Pessoas,
caso sintam falta do nome da Yara aqui do lado, não se preocupem! Eu a convidei de novo por que ela esqueceu a senha e não teve como recupera-la...bjos!)
acorda, quase meio dia, quase aula, sai correndo, ladeira abaixo, calçada de santana, português do armazém, moço, um bolhinho, mas a menina só como bolos, é? é não seu virgílio, só de manhã. pois. metrô com sono pi, pi, pi, outro lado da cidade, avenida liberdade, escola, carteira, senta, ouve, escreve. literatura, teoria, os apaixonados devem aprender literatura nos próprios corações, leve questionamento sobre o que estou fazendo aqui, esqueço o questionamento, um cigarro para pensar em nada, qualquer angústia, outras ansiedade, três ou onze alegrias, estudo, desaprendo, despercebo, percebo outra coisa, volto para casa esfumaçada, está tarde, seis e meia, avental, tenis, trabalho, gente, imperial, cerveja preta, dois bifes à portuguesa e duas colas, faz favor, tanta gente, amigas novas, até as três da manhã, arruma o bar, fecha o bar, um álcool qualquer e cigarro no caminho de casa, ladeira acima devagar, lua, ninguém na rua, casa, sonho.

um beijo em cada um, cotidianamente.

среда, септембар 29

Da ociosidadè.
" retirei-me há tempos para as minhas terras, resolvido, na medida do possível, a não me ser o repouso, e viver na solidão os dias que restam. Parecia-me que não podia dar maior satisfação a meu espírito senão a ociosidade, para que me concentrasse em mim mesmo, à vontade, o que esperava pudesse ocorrer, porquanto, com o tempo, adquirira mais peso e maturidade. mas percebo que : na ociosidade meu espírito se dispersa em mil pensamentos diversos; e, que ao contrário do que imaginava, caracolando como um cavalo em liberdade, cria ele cem vezes maiores preocupações do que quando tinha um alvo preciso fora de si mesmo. E engendra tantas quimeras e idéias estranhas, sem ordem nem propósito, que para perceber-lhe melhor a inépcia e o aburdo as vou consignando por escrito, na esperança de, com o correr do tempo..."
MOntaigne.

уторак, септембар 28

Ando, por capricho, desaparecido. Ao fim do dia, desdobro-me em vários bêbados e mendigos que atravessam um mundo imundo.
Um dia horroroso numa cidade infeliz, num dia dolorido e quente. Um dia em que ousei ter lembranças, e fui como todos, ridículo. Queria escrever para que ela tecesse para mim um novelo furta-cor. Como não posso, escrevo a vcs mesmos, para que riam ou se compadeçam de mim.




À (...)

Não sei por que, mas precisava te dizer algo. Alias “não sei” é a frase que melhor posso te dizer. Não sei se te incomodo, ou se te agrado, se te assusto ou se me assusto. Não sei se você não tem tempo, ou se não tem vontade, não sei, se já insisti de mais ou de menos. Não sei nem, se você devia saber disso. Ate outro dia eu mao sabia se acreditava que você existia. (no fundo ainda me pergunto)
Sinceramente, não gostaria que esta “carta” mudasse qualquer coisa ou idea já existente, tampouco gostaria que fosse ela vista como qualquer tipo de pressão ou cobrança (longe disso)(Alias mais um motivo para não saber dela o propósito). Se te escrevo é..., sei lá, talvez por que quando estou à sua frente eu não me reconheço. Falo feito um louco, quando só queria escutar, penso duas vezes antes de agir (ato incomum a mim), e arrependo depois. Fico tão bobo só de te olhar nos olhos, que nem reconheço o cara metido a sabichão, que se julga inabalável, e que gaba-se por não tremer nem frente a mulheres nem a platéias. Esta personagem que me criei sendo, de alguma maneira misteriosa, não se monta à sua frente. E me faz pensar se sou uma personagem, ou se há mais um mistério*.
Exageros à parte. O que sei é que você me assusta tanto quanto me atrai. Ia adorar também se eu conseguisse falar sempre com essa sua simplicidade, derramar suave de coisas que são, afinal, tão simples (com você parece que eu complico as coisas “não sei”).
Continuo, como já estava. Sem saber nem esperar por nada, é por hora a melhor forma de manter a segurança.
Quero-te. Quero saber se me quer.Não vai ser difícil me dar uma resposta, que espero não seja o silencio, apesar do silencio ser também uma resposta.

субота, септембар 25

A tensão que me perpassa assemelha-se ao vento que alimenta a lareira. Devora como fogo o que lhe consome. Fulgaz. Nada me prende a atenção por mais tempo do que uma noite. Nada que me sustenta aparece mais eterno do que a fulgacidade de um gole. A chama que consome a lenha consome-se a si mesmo. Ainda que entre as cinzas escute-se por muito tempo o murmúrio daquilo que nunca foi, lamentos solitários que se sedimentam lentamente em relatórios multifacetados, repletos de uma beleza profunda tecida de camadas finas e quase transparentes.
Por fim, enviamos os velhos aos sanatórios, hospitais, e cemitérios.
Todos os dias parecem me desafiar com a improcedência das experiências. Há um absurdo que jorra, inquieto, de tudo aquilo que é experiência vivida.
Se não precisassemos de dizer à ninguém...
Clarea-se a solidão de todos, somos senão um retirar-se.

четвртак, септембар 23

"Más alta que la realidade está la posibilidad"

уторак, септембар 21

Ultima carta de Marcus Vinicius


Melhor viver metade de uma vida inteira a uma vida inteira pela metade.

A aqueles que fiz mal, que se levantem e aprendam algo. A aqueles que fiz bem, que não se esqueçam de como é bom isto e que procurem fazer o mesmo pelos outros.

Em cem anos todos nós morremos mesmo. Uns vão antes, outros depois. Faça o bem por achar bom e não por ter medo que algo de ruim lhe aconteça depois. De outra forma, faça o mal se gostar disto, mas assuma as consequências e não vá a missa todo domingo pedir perdão.

Alguns trazem algo de bom, outros de ruim. Os fracos são corrompidos e os fortes corrompem. A natureza do homem é ser ruim.

Que Deus me perdoe por não negar minha natureza.

Que Deus perdoe vocês por negarem a sua.

*Ultima homenagem de seu breve amigo Bruno, que queria acreditar em Deus só por hoje*

недеља, септембар 19

RECEITA DE DOMINGO

Paulo Mendes Campos

Ter na véspera o cuidado de escancarar a janela. Despertar com a primeira luz cantando e ver dentro da moldura da janela a mocidade do universo, límpido incêndio a debruar de vermelho quase frio as nuvens espessas. A brisa alta, que se levanta, agitar docemente as grinaldas das janelas fronteiras. Uma gaivota madrugadora cruzar o retângulo. Um galo desenhar na hora a parábola de seu canto. Então, dormir de novo, devagar, como se dessa vez fosse para retornar à terra só ao som da trombeta do arcanjo.
Café e jornais devem estar à nossa espera no momento preciso no qual violentamos a ausência do sono e voltamos à tona. Esse milagre doméstico tem de ser. Da área subir uma dissonância festiva de instrumentos de percussão - caçarolas, panelas, frigideiras, cristais anunciando que a química e a ternura do almoço mais farto e saboroso não foram esquecidas. Jorre a água do tanque e, perto deste, a galinha que vai entrar na faca saia de seu mutismo e cacareje como em domingos de antigamente. Também o canário belga do vizinho descobrir deslumbrado que faz domingo.
Enquanto tomamos café, lembrar que é dia de um grande jogo de futebol. Vestir um short, zanzar pela casa, lutar no chão com o caçula, receber dele um soco que nos deixe doloridos e orgulhosos. A mulher precisa dizer, fingindo-se muito zangada, que estamos a fazer uma bagunça terrível e somos mais crianças do que as crianças.
Só depois de chatear suficientemente a todos, sair em bando familiar em direção à praia, naturalmente com a barraca mais desbotada e desmilingüida de toda a redondeza.
Se a Aeronáutica não se dispuser esta manhã a divertir a infância com os seus mergulhos acrobáticos, torna-se indispensável a passagem de sócios da Hípica, em corcéis ainda mais kar do que os próprios cavaleiros.
Comprar para a meninada tudo que o médico e o regime doméstico desaconselham: sorvetes mil, uvas cristalizadas, pirulitos, algodão doce, refrigerantes, balões em forma de pingüim, macaquinhos de pano, papaventos. Fingir-se de distraído no momento em que o terrível caçula, armado, aproximar-se da barraca onde dorme o imenso alemão para desferir nas costas gordas do tedesco uma vigorosa paulada. A pedagogia recomenda não contrariar demais as crianças.
No instante em que a meninada já comece a "encher", a mulher deve resolver ir cuidar do almoço e deixar-nos sós. Notar, portanto, que as moças estão em flor, e o nosso envelhecimento não é uma regra geral. Depois, fechar os olhos, torrar no sol até que a pele adquira uma vida própria, esperar que os insetos da areia nos despertem do meio-sono.
A caminho de casa, é de bom alvitre encontrar, também de calção, um amigo motorizado, que a gente não via há muito tempo. Com ele ir às ostras na Barra da Tijuca, beber chope ou vinho branco.
O banho, o espaçado almoço, o sol transpassando o dia. Desistir à última hora de ver o futebol, pois o nosso time não está em jogo. Ir à casa de um amigo, recusar o uísque que este nos oferece, dizer bobagens, brigar com os filhos dele em várias partidas de pingue-pongue.
Novamente em casa, conversar com a família. Contar uma história meio macabra aos meninos. Enquanto estes são postos em sossego, abrir um livro. Sentir que a noite desceu e as luzes distantes melancolizam. Se a solidão assaltar-nos, subjugá-la; se o sentimento de insegurança chegar, usar o telefone; se for a saudade, abrigá-la com reservas; se for a poesia, possui-la; se for o corvo arranhando o caixilho da janela, gritar-lhe alto e bom som: never more.
Noite pesada. À luz da lâmpada, viajamos. O livro precisa dizer-nos que o mundo está errado, que o mundo devia, mas não é composto de domingos. Então, como uma espada, surgir da nossa felicidade burguesa e particular uma dor viril e irritada, de lado a lado. Para que os dias da semana entrante não nos repartam em uma existência de egoísmos.
Do livro 'O Cego de Ipanema' - Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960

петак, септембар 17

Serafim era um belo e vistoso peixinho dourado laranja. Já ao nascer sua curiosidade destacava-se entre sua dezena de irmãos gêmeos. Serafim havia nascido para ser explorador! Foi ele o primeiro a sair da barriga de sua mãe peixe, como foi ele também o primeiro a quase ser engolido por seu pai. Pais peixes não distinguem muito bem quem é de quem não é seu filhote, talvez por isto comam todos os pequeninos que aparecem a sua frente. Aliás, depois de dar beijinhos na água, comer é a coisa que peixes mais gostam de fazer, comem tudo que pareça comestível, inclusive peixinhos menores.
Outra particularidade de Serafim é que sua memória, como dos outros peixinhos dourados, dura apenas cinco segundos. Ele pensa uma coisa e caso demore mais que cinco segundos ele nem sabe no que estava pensado. É provavelmente por isto peixinhos dourados não pensem muito.
Voltando então a falar nas primeiras experiências de Serafim, foi ele o primeiro a ver sua mãe, como foi também o primeiro a esquece-la. Nem era triste para Serafim não ter mãe, ele não se lembrava de ter tido uma algum dia. Foi Serafim certamente o primeiro a passear entre as rochas de seixos, que nesta época pareciam montanhas, como foi ele o primeiro a mordiscar a alga verde musgo brilhante. Na certa esta alga parecia ter algo de especial aos olhos de nosso peixinho, pois o tempo máximo que o vi afastado dela foi de cinco segundos, para em seguida distraidamente vê-la e nadar a toda velocidade para mordisca-la novamente e reprovar o quanto não é saboroso o plástico musgo verde.
Além do plástico musgo verde mordiscado, do mergulhador que soltava imensas bolhas de ar o que Serafim mais gostava era de brincar de siga o mestre. Um irmão peixinho ia para um lugar e todos iam atrás dele. E todos iam atrás de todos no final. Parecia que eles não conseguiam inventar nenhuma brincadeira melhor do que aquela, porque todos os dias eles faziam a mesma coisa. Ou será que Serafim lembrava da brincadeira? De fato Serafim não chorou visivelmente quando foi o primeiro a entrar em uma novíssima rede branca para capturar peixinhos do aquário. Ele só se lembra de ter ficado sem ar por cinco segundos. Mesmo assim só lembrou cinco segundos.


Magnificat

Álvaro de Campos



Quando é que passará esta noite interna, o universo,
E eu, a minha alma, terei o meu dia?
Quando é que dispertarei de estar accordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossivel de fitar.
As estrellas pestanejam frio,
Impossiveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossivel de escutar.
Quando é que passará este drama sem theatro,
Ou este theatro sem drama,
E recolherei a casa?
Onde? Como? Quando?
Gato que me fitas com olhos de vida,
Quem tens lá no fundo?
É Esse! É esse!
Esse mandará como Josué parar o sol e eu accordarei;
E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma: será dia!



Álvaro de Campos
(07 de Novembro de 1933)
Habita-me um labirinto que me excluí, desvirtua. há um cansaço que vai além de cansaço; canso de elaborar, elaboro a não vontade de elaborar-me.Elaboro-me embrutencendo-me. Sento ao analista sem nada dizer, para que eu entenda que me há silêncios, coisas que simplesmente não quero entender. Para que eu entenda não existir eu. Para que entenda a impossibilidade de entender. Que ao não entender seja eu aberto as infinitudes de sentidos. E finalemtne possa estar aqui e lá. Tomar do mundo todas as sensações. Ter em mim todas as viagens, guardar todas as estrelas, ter todos os amores. Sendo nada posso ser tudo.Ter tudo. Sentir tudo.
O silêncio brota do não reconhecimento; estranhesa que desalenta e alimenta dias e noites de insônia.
Entre apareceres e desaparições.
Dizer é apenas fazer pausa.

уторак, септембар 14

olha, entao aqui vai o protesto. onde é que foi parar o pessoal desse blog? cadê a poesia nossa de cada dia? está cada um no seu casulo, é? desistiram da borboleta? pois, protesto.
me incluo entre os escritores mudos e convoco a todos, e a mim própria, a frequentarem mais esse espaço.

salve.

уторак, септембар 7

"A manifestação do que chamamos de poesia hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma possível infância da linguagem, antes que a representação rompesse seu cordão umbilical, gerando essas duas metades — significante e significado.
Houve esse tempo? Quando não havia poesia porque a poesia estava em tudo o que se dizia? Quando o nome da coisa era algo que fazia parte dela, assim como sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os laços entre os sentidos ainda não se haviam desfeito, então música, poesia, pensamento, dança, imagem, cheiro, sabor, consistência se conjugavam em experiências integrais, associadas a utilidades práticas, mágicas, curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas suposições tenham algo de utópico, projetado sobre um passado pré-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tempo, cada novo poema do futuro que o presente alcança cria, com sua ocorrência, um pouco desse passado."
Arnaldo Antunes
Ouvi dizer: -Melhor cair das nuvens,
do que do terceiro andar.

субота, септембар 4

Ah! Como cambaleava... Quão difícil foi subir de lado. Quão belo o rodopiar de um pé só. A cambalhota para trás. O duplo movimento para lugar nenhum. O breve interlúdio para ser marciano. Uma preparação gloriosa. Um respirar profundo com leve movimento de mãos. Distância abaixo. Em linha reta. Rodopia ao vento. Para quem sabe ser o chão um céu.
Sentimento este bêbado inconseqüente.



петак, септембар 3

«Lisboa, entende,e uma quermesse de provincia, um circo ambulante montado junto ao rio, uma invençao de azulejos que se repetem, aproximam e repelem, desbotando as suas cores indecisas, em retangulos geometricos, nos passeios, nao, a serio, moramos numa terra que nao existe, esta la um olho redondo, um nome, e nao e ela (...). »

os cus de judas _ antonio lobo antunes
Agravo-me.
Esbaldo-me.
Mas não gozo.
Estar ao lado de uma infinidade de afetos.
E estar só.
Não me importa em qual forma se despeja o cimento: ele é apenas enrijecer.
Vou viver de qualquer maneira:
-dê-me mais uma dose.
Não vou morrer de tédio.
A única urgência que me habita é não estar ciente de que só posso estar aqui.
Petulante: não vou perguntar se posso passar.Quanto tempo é tempo ainda:
quanto tempo há: resta.
Como se tempo fosse ainda, como se houvesse tempo passado.
Tempo apenas mal apoiado. Há vários lagos que se afogam em mim.
Todo tempo nosso corpo esfria; como se tempo ao se falar ainda o fosse: como se só não se falasse daquilo que não é.
Fala-se somente memória ou sonho; apenas o que é não pode ser dito.
Quem sabe, ainda seja tempo das lembranças todas serem sonhos; e os sonhos apetitosos e intensos como toda lembranças.

понедељак, август 30

Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira.
Cecília Meireles

четвртак, август 26

Queridos!
Visitem visitem visitem!

http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm

среда, август 25

queridos,

escrevo para deixar meu telefone novo. agora em portugal:.00351965607404.
espero telefonemas, rapidinhos, so uns carinhos.

escrevo depois.

beijinhos.


понедељак, август 23

POesia
um soco no estômago: repentino,
abusado, descuidado.
Apaixonante.


Ser

O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.

As vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apoia em meu ombro
seu ombro nenhum.

Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?

Lá onde eu jazia,
responde-me o hálito,
não me percebeste,
contudo chamava-te
como ainda te chamo
(além do amor)
onde nada, tudo
aspira a criar-se.

O filho que não fiz
faz-se por si mesmo.

CDA
PAsseio pelo zoológico das soberbas humanas, perseguindo um caminho que é somente desvio e atalho: rastro.
As imagens são punhais que atravessam lentamente minhas vísceras. Os dialogos são atropelamentos incontroláveis, incontornáveis.MEus pensamentos, irados e sem modéstia.
Penso na vida daqueles pra quem viver é uma acumulação de sacrifícios; pensei que minha apatia e alcoolismo talvez me tornem uma pessoa mais feliz que a média...bem, como se isso fosse relevante...mas não: sou apático e centrado em mim. Nada me toca, nada me comove.
E tudo tanto faz, amargo ou doce; forte ou fraco; seco ou molhado... as diferenças se perdem na trans-aparência de meus dias.

недеља, август 22

Deixo-me invadir por uma enorme preguiça.
Poucas coisas restam. Repouso o olhar na imensidão que me povoa, ameaçadora, fascinante. A vida sendo às vezes causa tanto encanto que bastaria ver. Aninho-me. Vôo também. Irrompem-me explosões intercaladas por silêncios e perplexidades.

петак, август 20

Com meu espírito longe
minha imagem no espelho tange
reflito o nada
do nada que sou
que despretendo ser
não havendo nada no nada
além de nada
que não carrega rancores nem felicidades
que não pesa nada
que não diz nada
que não pretende nada
que não manda nada
podendo ser tudo num dia de nada
Em algum momento de um dialogo da era pré-informática...

(...)
!...?
?...
...,...

Na idade da pedra Carlos já sabia do que falávamos.

четвртак, август 19

понедељак, август 16

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Se




se

nasce

morre nasce

morre nasce morre

renasce remorre renasce

remorre renasce

remorre

re

re

desnasce

desmorre desnasce

desmorre desnasce desmorre

nascemorrenasce

morrenasce

morre

se



Haroldo de Campos
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субота, август 14

ai que lindo o meu brasil!


de barcelona, saudade na paisagem, vermelha, grande - e serena.
da vontade de voltar nao - e isso quem diz e nos dois aqui. entenderam? nos dois a dois centimetros.

enfim, praga e viena, la longe, e agora nao e hora de retospectivas - talvez nunca seja hora dessa lenga-lenga de sintese - e paris e entao barcelona.

paris, toda girassol, a gente cozinhou, dormiu, sorriu e comeu e quase nao alcancamos o filme de nove e meia. mas tudo bem, toma-se uma cerveja e vai-se dancar.

no mais, saibam que a gente mudou de nome. chamem a gente agora de anne de jolie e jacques blefaux. vcs verao em tela grande.

alias, e verao. da janela, barcelona. na mesa, bacalhau.

ci vediamo dopo.


Gargalhada


Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...


O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.


Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...


Escuta bem:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

cecidilha meireles

петак, август 13

As mãos estão sempre nuas.
Dançam nas bordas no corpo.Regem, recriam,recuperam. Futilidades e desassossegos. Carícias, afagos, dor , estrago.
Moldam o mundo as mãos.
Toque:desperta,
dispersa.
Conduz aos labirintos inauditos
do outro,
do outro.

ursa maior


andarilho de estrelas vasto
como um átomo humano e
coisa indefinida habitante
do mistério e da luz
vou destruindo muros aos
murros e ouvindo
berros de alegria e cansaço
nos cardumes do
aleatório
vivo

Lau Siqueira


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среда, август 11

Fazia-a parecer louca. Em alto tom de voz proibiam o destino de cada um. Você não vai ali, não pode ir sei lá onde. Não isto, não aquilo, não. Um desentender sem fim.Comportamento típico de quem se conhece e não se distingue da mediocridade geral.
A discussão aumenta os decibéis, a música ambiente incentiva as gargantas. A sala se torna pequena. A televisão imprime imagens sem sons as vezes observadas por ele. Ela quase chora, ele aumenta o tom. Ela se recompõe, ele aumenta o tom. O amigo do sofá começa a ver tv sem som. Monólogos, monólogos...
Ela só quer ir aonde quer que ele vá. Ele só quer ir sozinho. Ela só quer que ele vá com ela. Ele só não quer ir. Ela ameaça sair e flertar com outros. Não com palavras claras, mas com entonação. Ele aumenta ainda mais a voz. Por fim decide que cada um deve fazer o que entender. Ela diz que fará novamente com aquela entonação de voz. Ele se irrita, explode, diz que se ela sair no carro de algum idiota qualquer, parecido com ele, que não volte mais. Repete a frase com maior impacto ainda. Ela se cala. O amigo do sofá se cala. Ele se cala. A televisão fala. Uma desculpa qualquer os acalma. Despedem-se e o amigo do sofá pensa em ligar para ele dizendo que ela estava certa, mas é desviado pelo seqüestro relâmpago seguido de morte da tv.
O amor só pode ser descoberto após a fatídica conclusão, obvia por sinal, de que se pode perder a pessoa amada a qualquer momento. Pode-se mais corriqueiramente ainda perder o amor. Pareceu-lhe um argumento um tanto quanto banal, no entanto lembrou-se que banalidades como distorções. E é exatamente a possibilidade constante que move, mais ou menos como uma partícula subatômica ricocheteando em impossíveis. Incontrolando o mundo.

недеља, август 8

Amanheci.Percebi que já estava feito. De nada adiantaria lágrimas ou suspiros. Nenhum sol aquece ou ilumina urdiduras mal feitas na escuridão. Acendam-se os cigarros.
Restava somente um vazio, ânsia de querer ir só mais uma vez...
Restava somente um vazio, que simulteamente angustia-alivia porque nos sussura de relance: tudo poderia ter sido diferente. Mas não.A noite acabou há horas e ainda não encontrei razão pra
voltar
pra casa.
: rastros imperfeitos que, infindavelmente espelham-se uns nos outros,farsantes que são de si mesmos.
De tempos em tempos nos tranformamos em espinhos.
Que se perceba a beleza da gota de sangue que escorre disso...
Não sou razoável.
Pois bem.
O que vejo não é razoável.
O que escuto não é razoável.
o que toco não é razoável.
A vida,enfim, não me parece em nada razoável.

Apenas.
Estou em plena harmonia com o que me cerca.

субота, август 7

queridos,

espero mais noticias da viagem para ouro preto. troquei de e-mail, o novo cabe mais letra, mas o afeto ainda transborda. e o e-mail velho esta constantemente no msn la em roma e ainda por cima comecou a espalhar virus por ai. agora fui para o yahoo.

uma praga de beijos


O Azul
desfez-se em volúpias,
intensidades transcendentais,
fervilhantes vitalidades
que esmagam horizontes
de Alquimia - visíveis com
olhos emprestados de anjo-bébé.
Os partos-de-Essência
acontecem provocados
pela vontade desmedida da
cosmicidade do Azul-infinito
que não existe nas coisas-do-mundo
nem neste vosso-observável Céu.
O que advém da Luz,
sem ser visto por Nós,
seres com medo do Medo do
nada e do escuro,
oculta-se no
Azul-absoluto-total
e é o enigma que existe
nos sonhos-azuis-irradiantes dos
místicos e dos para-deus.

Angelo Rodrigues

четвртак, август 5

Mas há ainda muito por fazer.
Há copos a serem esvaziados. Bares por fechar.Comida por fazer. Corpos a se tocar.
Sim. Muito caminho há entre ( ) e ( ). Entre um termo e outro: diferenças inomináveis, ainda que frias e estúpidas. Diferenças mesmas, enclausuradas, sedentas, jogadas. Há novidades por todos os cantos, em todas as esquinas, becos, calçadas.
A mesmidade da vida se acumula quando se caminha num sentido único.
Eu, por minha vez, transformei-me num sábio colecionador de faltas- de-sentidos.
De cada um sei seu pesadelo. Conheço de todos ânsias e angústias...vivem em mim: domesticadas como devem ser. Adormeço desejos e paixões com uma cantiga de ninar desafinada e tristonha,entoada há muitos séculos pelos semi-deuses que desceram a terra.

среда, август 4

pequeno tratado dos dias em cascata de palavras que o pensamento vem igual suspiro:

roma, puft (ribao cai em roma), piazza, paza, pasta. piazzo, porre, pina, paz, putz.
viena, cafe, capuccino, cult, cardapio, claro, carinho.
praga. ainda nao ganhou uma letra. segundo dia, o outro so foi noite. e agora a gente foi num museu de sexo, todo vermelho. cafica, ca fica, kafka, numa casa amarela, a rua e estreita e ele pensando amplidoes.

estamos bem, vcs tb, vero?


UPOZORNENI!

novo e-mail: cfenati@yahoo.com

entao ta.

уторак, август 3

Sombras, ruídos, olhares, gestos, acenos.Pedras que sobem e descem em traços quadrados e cores e sons e cheiros e ...
Não adianta correr.
Nada irrompe a lentidão das ladeiras incrustadas em nós.
Observada e observadora,dona dos passos que a percorrem.Ouro Preto é uma provocação ou uma ingenuidade...
Ah,não saber...
Afinal,toda afirmação deliberada só pode ser deliberadamente uma invenção: bordar de coisas que somente nós vemos.
Frio.Casaco.Mala.Cachecol azul e algum corre-corre.Rodoviária.café.Patriota.Passas.Grana.Ivana.Juiz de fora: quasena hora ou fora de hora...Encontros vários.Surpresas mornas.Comunicação...voz esganiçada.espataculares micropoderes sobem cabeças de ventos.Cantinas são todas iguais... Adeus anpuh! Rua Halfred.São Jorge Hotel: alta rotatividade por apenas R$10.Festival de música colonial ou jazz esquisito, rssss. Beirute incrementado: chop,chop,chop. Rodízio de Fondue só para os olhos. Café descolado!Muzik:Jazz e conversa fiada.Vodka e cerveja. Cigarros e cigarros.Madrugada na cidade de luzes-bolas flutuantes. Hotel sem janela nem cozinha.Acordar cedo: preguiça e muito frio.Sono.Chá.Ubá Ressaquinha Barbacena Lafaite...Ouro branco...Lavras Novas...
hunmmm: Ouro Preto se oferece dourado e leve, quase sorridente:sorte e sol:Bozo e pé-de-pano:amizade ganha num bater de porta... pequenas histórias.

понедељак, август 2

nao sabia que o amor vai longe assim.


понедељак, јул 26

Um amador, um pouco ingênuo, perguntou um dia para Victor Hugo.
-         Mestre, é muito difícil fazer versos?
-         Não, respondeu o poeta com doçura, é muito fácil ou impossível.
Subir até o azul,
descer até o inferno,
são coisas simples
que no fundo, eu queroIr, sem ir. Ficar,
passando. Passar assim,
como quem passa,
amando.A viagem que não fiz
doi dentro de mim
assim como a raiz
de uma árvore sem fim.

Leminski

недеља, јул 25

Espero que ela me ligue...horas,dias,semanas,meses até.
Então: ouço sua voz aguda, afiada como arma branca.Me contenho,me sustento, me atenho.
COntinuo seguro.E seco.
E sigo.
E falo do alto experiência que,se tive,não me importa. COnto dos sonhos que desprovi de emoção para viver melhor. Conto dos contos, de tudo que um dia sempre quis escutar e ninguém me falou,ou ainda de tudo que sempre quiseram dizer-me e nunca fui disposto a escutar.
Até rio um pouco disto tudo.
Então desligamos:não disse o que deveria,sei bem.
Nada mudou. E de alguma forma,
isso é a melhor coisa que tem acontecido.
O Florir

O florir do encontro casual
Dos que hão sempre de ficar estranhos...
O único olhar sem interesse recebido no acaso
Da estrangeira rápida ...
O olhar de interesse da criança trazida pela mão
Da mãe distraída...
As palavras de episódio trocadas
Com o viajante episódico
Na episódica viagem ...
Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados...
Caminho sem fim...

Álvaro de Campos
Rapte-me Camaleoa

Rapte-me camaleoa
Adapte-me a uma cama boa
Capte-me uma mensagem à-toa
De um quasar pulsando loa
Interestelar canoa
Leitos perfeitos
Seus peitos direitos me olham assim
Fino menino me inclino pro lado do sim

Rapte-me, adapte-me, capte-me
It’s up to me
Coração
Ser querer, ser merecer, ser um camaleão
Rapte-me camaleoa
Adapte-me ao seu
Ne me quitte pas l

Caetano Veloso

четвртак, јул 22

Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar,
amar,sempre, e
até de olhos vidrados, amar?
 
Carlos Drummond de Andrade
 
 
flores, sorrisos, desejos, saudades, vontades, sonhos...

среда, јул 21

Cavalo dos Sonhos

Desnecessário, me olhando nos espelhos,
com um gosto de semanas, de biógrafos, de papeis
arranco do meu coração o capitão inferno,
estabeleço clausulas indiferentemente tristes.
Vago de um ponto a outro, absorvo ilusões,
converso com os alfaiates nos seus ninhos:
eles, freqüentemente, com voz fatal e fria
cantam e os males espantam.

Neruda
Mais do nunca é preciso estar distraído.
Antes de tudo é preciso esquecer.
MAS: o olhar adentra desperta sufoca enrola enlaça disfarça: caça. E não sossega. E me apetece a falta...Embora aja indícios de que também transbordo em presenças verdes que boiam,desavisadas, nas gavetas mais profundas e embriagadas...
Ah...
desafio constante é errar todo tempo.
infinitamente,intensamente,imensamente: quase labuta diária: esforço pra não me perder num rosto imutável, numa alegria que aquiete.
habitam-me uma convulsão de afetos; invento: traçados,cores,sombras,horizontes e desertos,fugas,explosões,janelas e bares,cortinas, diamantes, estradas,viagens e sucessos.

уторак, јул 20

por que nao consigo postar imagens?
 

 
http://www.eecs.umich.edu/~magerko/images/klimt-girlfriends.jpg">
bruno?
vc ainda esta aqui?
Soberbo Golias eunuco
Tua língua é teu Davi
Soubeste tu a imensa a feiura que vejo
Pararia com todo o gracejo
Não te contentas em existir
Tagarelas o que ninguém quer ouvir
Entediante serpente branca
Nem ao menos tem o gracejo nas ancas
Me estorce versos forçados
Mas diante de robusta ignorância
Não poderia um critico ficar calado
 
 
 
Rocha Mattos
 
 
Mefistófeles de fartos seios
Ludibria meus pares
Consterna o alheio
A mim não tocas
Não podes tocar
Neste peito coração não há
 
Vendi-o,
(dei-o ao primeiro cão vadio)
pois melhor não ter peito
do que te-lo vazio
 
 
Rocha Mattos

понедељак, јул 19

aline,
 
saudade, sim, tanta.
 
uma flor.
 
 

недеља, јул 18

Carol on line:saudade.Aparece
sem falas...
mas com letrinhas coloridas...
beijos.
Às Vezes

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...

Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos

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picasso


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picasso
a palavra e minha quarta dimensao.
 
lispector
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Clarice Lispector

oi, queridos.
 
voltei de viagem -  viagem dentro da viagem. o sul e lindo, diverso, vasto. e tinha sol, tanto, tanto.
 
um beijo ensolarado em cada um de vcs. 
 

субота, јул 17

Na Batucada da Vida

No dia em que eu apareci no mundo
Juntou uma porção de vagabundo
Da orgia
De noite, teve samba e batucada
Que acabou de madrugada
Em grossa pancadaria
Depois do meu batismo de fumaça
Mamei um litro e meio de cachaça
Bem puxado
E fui adormecer como um despacho
Deitadinha no capacho na porta dos enjeitados
Cresci olhando a vida sem malícia
Quando um cabo de polícia
Despertou meu coração
E como eu fui pra ele muito boa
Me soltou na rua à toa
Desprezada como um cão
E hoje que eu sou mesmo da virada
E que eu não tenho nada, nada
E por Deus fui esquecida
Irei cada vez mais me esmulambando
Seguirei sempre cantando
Na batucada da vida...

Ary Barroso
Hoje eu acordei sem Ter dormido. Sinta-se imprestável e veja:
Imprestável para tudo. Não tive vontade de viver. Então fiquei por aqui mesmo.
Não estar em nenhum dos lados.
Quero abortar e começar de novo. Meu corpo comporta dores indizíveis:a mente vai além do cerebro. Às vezes penso que em meu estômago está minha maior expressão de sensibilidade:lá moram meu nojo e minha angústia.
E em minhas veias corre qualquer coisa sem cor.Faz-me contorcer,em convulsão, transtornado.Cheio de naúsea e horror.
... (sou uma lâmpada que já veio queimada.)
è o nada. Apenas nada faz sentido: incapaz que estou de inventar
deixo que o nada se mostre sem máscaras.
Ìmpetos que se resumem a
deixar de querer o que nunca se tocou.
A preguiça sempre maior do que eu mesmo.
Imenso mundo de escombros
coisas pitorescas e medonhas
AS mais belas ruínas estão em construção
faz muito tempo...
apenas poucos olhos olhos percebem
toda espécie de terremoto
a estalar trincar alicerces mais rijos
poucos ouvidos sentem o som do fluído líquido
a diluir íntimas paredes
algumas peles apenas
tateam o que lentamente se aloja nos vãos,nas margens,
nas sutilezas e nos ardis.
Estão em ruínas as cidades povoadas por ingênuas canduras e
falta de profundidade.
Ao redor de tudo que putrefa
habitam seres com asas.

уторак, јул 13

Tu inútil séqüito da náusea
Se não serve ao mundo
Se não serve a ti
Se não pretendes servir
Serve a mim
Inspira-me ao ódio cotidiano
Transpira-me de pesar
Faz me ver o débil

Depois de respirar tu
Dormirei em paz com minhas mazelas


Rocha Mattos

..................................

a continuar... da utilidade dos imbecis
Em vão meus passos contornam a cidade submersa na mesmice. Roupas, sorrisos jornais bebidas. Há todas as noites festas em que se celebram este nada absurdo.
A vida é simplesmente trocar 6 por meia duzia.
Todo o resto é desnecessário e supérfluo em um mundo de abundante escassez.
E viva o império da necessidade.
Desejos
Desejo a você
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

CDA
Nâo pondero, blasfemo: o ar parado que rodeia conversas pálidas torna a respiração difícil. Suspiros.
O fastío expressa-se em assuntos dos quais não se extraem risadas.

понедељак, јул 12



polignano

o mar, quando quebra na praia, e bonito...
Quasímodo

Ah... corcunda de olhos baixos!
Débil Atlas desesperado por seu trabalho invisível.
O peso de teu mundo é novelo de Penélope.
Se pensas ser trabalho herculano.
Olho para ti sem engano.
Es curvo de medo não de peso.


Rocha Matos

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para quem se souber debil
e para quem sabe dos debeis
Ao amigo investigador solene das coisas fúteis...

No espelho


Às vezes quando me olho no espelho
Sinto medo. Medo de mim.
Eu não me conheço
Sou esquisito, sou humano
Uso óculos, como, bebo, fumo
Defeco
Mijo
Olho-me no espelho
E esse dá-me de volta quem sou.
Eu rio. Alto.

Assustado e engraçado
Duas longas coisas saindo do corpo:
São braços, pêlos, peles, nariz pontiagudo
Duas orelhas presas na cabeça
Olho os dedos.

Meus olhos me assustam
Falo, sinto emoções e tomo cerveja
Ridícula coisa ali em pé frente ao espelho
Eu me vejo de fora.
Faço abstração mental de que eu nunca vi
Um ser humano e me vejo.

É esquisito.
É realmente esquisito.

Procuro-me no espelho
E não me acho. Só vejo aquilo ali.
Parado. Um monte de carnes equilibradas
por ossos duros que me mantêm em pé.
Ali.
No espelho. Eu sei que não sou aquilo
E o que eu sou, o espelho não pode
me mostrar...

AINDA... eu não brilho...
Ainda...


Raul Seixas

недеља, јул 11

Então: chuva. céu vermelho borgonha. Sonoridade estranha, singular, específica: som de chuva.
Gotas esquecidas do retorno necessário, que perdem-se nos trajetos que levam do azul ao verde, e do laranja ao vinho: tonalidades são fluxos de intensidade: flutuações de humor.
Nada mais precisa ser dito:
A chuva é o céu transbordando.
Amo uma moça de felicidade curta, repentina, sem perdão.Passos leves de bailarina. É agradável, não transpira. Sua fala é tão dolorosa...sua sensualidade é uma lasciva melancolia: tão vigorosa, tão terrível, tão seca. o que a aborrece, abate com a espada. Dona de um otimismo infame, mas sereno. Gosto corrompido, inalcansável.Incansável. Tudo que sai de seus lábios me conduz rapidamente ao abismo. Risada picante de cascável. Ah! Não é pouco seu talento na arte de chamar à vida os semi-mortos.

петак, јул 9

queridos,

vou amanha de manha para a praia. aqui ta um calor, a gente derrete, meio dia faz 500 graus no metro.

e vou para uma cidade que acho que e pequena, no sul. volto no outro sabado e entao conto.

no mais, gerais.

chega de saudade. o amor dara o ar das suas graças.


um beijo em cada um

четвртак, јул 8

Tu Tens um Medo
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno.

cecília Meirelles
Para minha amiga pós moderna

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cada coisa está em outra
de sua própria maneira
e de maneira distinta
de como está em si mesma

Ferreira Gular

(trecho do poema sujo)

среда, јул 7

me tem surgido poesia quinzenais... agora so de sentimento, como esta, que se não tem forma e rima desesaveis, ultrapassa desaejos no sentir...


Ali
Onde o tempo não anda
(Meio a amenidades maiores que vidas)
Tenho saudades do sorriso franco
Da conversa branca
Tenho saudade da menina
Que lá pelas tantas
Fez o tempo que passou
Nunca passar de mim

(A Vanessa)


Costa Ávila

Tá aí um bom texto a ser visitado em tempos de fim de semestre...


É muito breve a vida dos ocupados [...]
A vida divide-se em três períodos: o que foi, o que é e o que há de ser. Destes, o que vivemos é breve; o que havemos de viver, duvidoso; o que já vivemos, certo. [...]Eis o que escapa aos ocupados, pois eles não têm, tempo de reconsiderar o passado, e, mesmo se o tivessem, ser-lhes-ia desagradável a recordação de uma coisa da qual se arrependem. [...] É próprio de uma mente segura de si e sossegada poder percorrer todas as épocas de sua vida; mas o espírito dos ocupados, tal como se estivesse subjugado, não pode voltar sobre si mesmo e se examinar. Portanto sua vida se precipita num abismo[...]. É extremamente breve a vida dos que esquecem o passado, negligenciam o presente e receiam o futuro; quando chegam ao termo de suas existências compreendem tardiamente que estiveram ocupados em nada fazer.


Portanto anseiam por uma ocupação qualquer, e todo intervalo de tempo entre duas ocupações lhes é um fardo. [...] A espera de qualquer coisa por que anseiam lhes é penosa, mas aquele instante que lhes é grato corre breve e rápido e torna-se muito mais breve por sua própria culpa, pois passam de um prazer a outro e não podem permanecer fixos num só desejo[...]. Perdem o dia na espera da noite, a noite, de medo da aurora.[...] Em meio a grandes labutas, conseguem o que desejam e ansiosos conservam o que conseguiram; entretanto não têm consciência de que o tempo nunca mais há de voltar. Novas ocupações seguem-se às antigas , a esperança suscita esperança; a ambição, ambição. Não procuram um fim às misérias, mas mudam de assunto.
Tendo aquele obtido os cargos com que tanto sonhava, deseja abandoná-los e repete incessantemente: “Quando este ano passará?”

( Sêneca, Da brevidade da vida )