понедељак, октобар 31

Acaricia minha nuca, e deixa a noite chegar. É bom nunca voltar pra casa, é bom nunca ter onde ir. Eu vivo? Eu só quero. Os confins do mundo são meus, e por isso fico aqui, inerte, esperando como vírus incubado, que alguma coisa me surpreenda. Poesia é coisa muita profunda, ressoa muita longa. Corta, rasga, desmancha, desconfigura. A poesia é um Universal que se odeia. Há quem se perde no emaranhado do próprio cotidiano. Não vou mais poder tocar, já não vejo. Já não sei mais nem se existe. Tenho que ir, não posso esperar. É preciso saber desatar os nós. Sou tão gutural... apenas.
O discernimento me traz todas as dores do mundo.
Então, embriago-me.
Vem?

субота, октобар 29

(Para Luciano Mattar...)


среда, октобар 26

Respeito muito minhas lágrimas, mas muito mais minha risada. Porque quando eu amo, eu odeio, eu adoro. E Diante disso, resta dançar um tango argentino.
O menino dorme des-sossegado: o mundo é grande!
Ele não perde por esperar.
Distribuirei entorpecentes ou semearei cartas suicidas?

Meus cansaços são ateus dos deuses da minha escolha...
Eu, também sou um homem traduzido, transportado, traído, traidor.Traduttore, traditore:
ambivalência, anfibolia, anfibologia, asteísmo, double entendre e equívoco.
Sous les espèces d'or d'un sein reconnaissant!

недеља, октобар 23

A Fábrica do Poema


SONHO O POEMA DE ARQUITETURA IDEAL
CUJA PRÓPRIA NATA DE CIMENTO
ENCAIXA PALAVRA POR PALAVRA, TORNEI-ME PERITO EM EXTRAIR
FAÍSCAS DAS BRITAS E LEITE DAS PEDRAS.
ACORDO;
E O POEMA TODO SE ESFARRAPA, FIAPO POR FIAPO.
ACORDO;
O PRÉDIO, PEDRA E CAL, ESVOAÇA
COMO UM LEVE PAPEL SOLTO À MERCÊ DO VENTO E EVOLA-SE,
CINZA DE UM CORPO ESVAÍDO DE QUALQUER SENTIDO
ACORDO, E O POEMA-MIRAGEM SE DESFAZ
DESCONSTRUÍDO COMO SE NUNCA HOUVERA SIDO.
ACORDO! OS OLHOS CHUMBADOS PELO MINGAU DAS ALMAS
E OS OUVIDOS MOUCOS,
ASSIM É QUE SAIO DOS SUCESSIVOS SONOS:
VÃO-SE OS ANÉIS DE FUMO DE ÓPIO
E FICAM-ME OS DEDOS ESTARRECIDOS.
METONÍMIAS, ALITERAÇÕES, METÁFORAS, OXÍMOROS
SUMIDOS NO SORVEDOURO.
NÃO DEVE ADIANTAR GRANDE COISA PERMANECER À ESPREITA
NO TOPO FANTASMA DA TORRE DE VIGIA
NEM A SIMULAÇÃO DE SE AFUNDAR NO SONO.
NEM DORMIR DEVERAS.
POIS A QUESTÃO-CHAVE É:
SOB QUE MÁSCARA RETORNARÁ O RECALCADO?

>> Adriana Calcanhoto

петак, октобар 21

четвртак, октобар 20

O filósofo Ludwig Wittgenstein (que comparece intraduzido em om / e. e. wittgenstein) dedicou toda sua obra à reflexão sobre os limites da linguagem. É famosa a asserção com que ele encerra o seu Tratactus Logico-Philosophicus: “O que não se pode falar, deve-se calar”.
No extremo mais extremo dessa (im)possibilidade, para onde a filosofia ou a fala de todo dia apenas apontam, sem alcançar, emerge a linguagem-coisa de Augusto de Campos.
Entre falar e calar, seus poemas parecem dizer o indizível, por não tentar dizê-lo, mas realizá-lo através da linguagem.
Dessa condição limítrofe surgem as marcas de negação que vêm caracterizando sua poesia há muitos anos — poetamenos, expoemas, despoesia, o afazer de afasia, o vácuo o vazio o branco, o oco, a canção sem voz, poesia sem placebo, semsaída, nãopoemas, não.
Tais sinais de menos adquirem positividade na medida em que os poemas se efetivam; minérios extraídos de recusas a todos os excessos e facilidades.
O que sobra depois de subtrair tanto? Que sumo essência medula “osso/sos”? Augusto não responde, mostra. Como em não, que dá título a este volume, poema feito do dizer o que não é poesia, numa sequência de pequenos quadrados brancos nas páginas negras, que vão pouco a pouco rarefazendo as colunas verticais do texto até o limite vertebral da única linha “oesia”.

Arnaldo Antunes
"Não", by Augusto de Campos, ed. Perspectiva: 24/10/2003
ORAÇÃO DOS ESTRESSADOS
Luís Fernando Veríssimo


Senhor, dê-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que não posso aceitar e sabedoria para esconder os corpos aquelas pessoas que eu tiver que matar por estarem me enchendo muito o saco.

Também, me ajude a ser cuidadoso com os calos em que piso hoje, pois eles podem estar diretamente conectados aos sacos que terei que puxar amanhã.

Ajude-me sempre, a dar 100% de mim no meu trabalho:

12% na segunda-feira,
23%, na terça-feira,
40% na quarta-feira,
20% na quinta-feira,
5% na sexta-feira.

E, ajude-me sempre a lembrar, quando estiver tendo um dia realmente ruim e todos parecerem estar me enlouquecendo, que são necessários 42 músculos para socar alguém, 17 para sorrir e apenas 4 para estender meu dedo médio e mandá-lo para "aquele lugar"...

понедељак, октобар 17

Nosferatu: Nós / Torquato



putresco

putresco

putresco

torquato: teus últimos dias de paupéria me

vermicegos enrolam a substância da treva
vampiros cefalâmpados
(disse)

mas agora put
resco
put
(horresco
referens)
resco
sco
sc
o



Haroldo de Campos

недеља, октобар 16

петак, октобар 14

O SILÊNCIO DA SEREIAS

Prova de que até meios insuficientes - infantis mesmo, podem servir à salvação:

Para se defender da sereias, Ulisses tapou o ouvidos com cera e se fez amarrar ao mastro. Naturalmente - e desde sempre - todos os viajantes poderiam ter feito coisa semelhante, exceto aqueles a quem as sereias já atraíam à distância; mas era sabido no mundo inteiro que isso não podia ajudar em nada. O canto das sereias penetrava tudo e a paixão dos seduzidos teria rebentado mais que cadeias e mastro. Ulisses porém não pensou nisso, embora talvez tivesse ouvido coisas a esse respeito. Confiou plenamente no punhado de cera e no molho de correntes e, com alegria inocente, foi ao encontro das sereias levando seus pequenos recursos.

As sereias entretanto têm uma arma ainda mais terrível que o canto: o seu silêncio. Apesar de não ter acontecido isso, é imaginável que alguém tenha escapado ao seu canto; mas do seu silêncio certamente não. Contra o sentimento de ter vencido com as próprias forças e contra a altivez daí resultante - que tudo arrasta consigo - não há na terra o que resista.

E de fato, quando Ulisses chegou, as poderosas cantoras não cantaram, seja porque julgavam que só o silêncio poderia conseguir alguma coisa desse adversário, seja porque o ar de felicidade no rosto de Ulisses - que não pensava em outra coisa a não ser em cera e correntes - as fez esquecer de todo e qualquer canto.

Ulisses no entanto - se é que se pode exprimir assim - não ouviu o seu silêncio, acreditou que elas cantavam e que só ele estava protegido contra o perigo de escutá-las. Por um instante, viu os movimentos dos pescoços, a respiração funda, os olhos cheios de lágrimas, as bocas semi-abertas, mas achou que tudo isso estava relacionado com as árias que soavam inaudíveis em torno dele. Logo, porém, tudo deslizou do seu olhar dirigido para a distância, as sereias literalmente desapareceram diante da sua determinação, e quando ele estava no ponto mais próximo delas, já não as levava em conta.

Mas elas - mais belas do que nunca - esticaram o corpo e se contorceram, deixaram o cabelo horripilante voar livre no vento e distenderam as garras sobre os rochedos. Já não queriam seduzir, desejavam apenas capturar, o mais longamente possível, o brilho do grande par de olhos de Ulisses.

Se as sereias tivessem consciência, teriam sido então aniquiladas. Mas permaneceram assim e só Ulisses escapou delas.

De resto, chegou até nós mais um apêndice. Diz-se que Ulisses era tão astucioso, uma raposa tão ladina, que mesmo a deusa do destino não conseguia devassar seu íntimo. Talvez ele tivesse realmente percebido - embora isso não possa ser captado pela razão humana - que as sereias haviam silenciado e se opôs a elas e aos deuses usando como escudo o jogo de aparências acima descrito.

Kafka/ Tradução de Modesto Carone

четвртак, октобар 13

Têm sido dias de estar à deriva, ao vento, ao léo.
Não sei bem o que isso significa. Às vezes há impressão de que tudo é um cansaço e uma falta de rumo. Peso-me, mas ao mesmo tempo, flutuo.
Nem estou tão cansada, nem me falta tanto rumo. E daí: não importa.
Mas, importa. Se não é o fundamental, é simplesmente o que existe.
Interpenetram-me tantas dores, tantas... E resulto assim, moído de eu viver, querendo fugir, mas extática ainda.Como um turbilhão quieto. Segundo congelado antes do caos.

понедељак, октобар 10

петак, октобар 7

Ando me divertindo horrores.
Nem sei bem porque.
Mas rio a toa.
Não é da angústia à delícia, ou a delícia da angústia.
Me despedi da bipolaridade. será? de verdade, nem importa.(Borrowed for that purpose). Nem sabe, sabe-se, ninguém sabe. Mas, se é pra dar têmpero ao tempo, porque não brincar de já ter descoberto? Fusão completa mas momentânea. Explosiva, mas inaudível. Não te conto, nao te conto. Estou muito cansada das narrativas do mundo moderno. Ah, nem falo das evoluções biológicas, mas juro que foi bom lembrar que as placas tectônicas estão à deriva...estamos boando, por mais que me desmintam os ingênuos corações acostumados a esperar o reino dos ceús, seja ele vermelho ou não.
Então, ato de autonomia jocosa, permito a todos que des-cuidem dos prazeres e vicissitudes da vida.

Em pauta (questão de ordem):
"A lei malthus da sensibilidade: Os estímulos da sensibilidade aumentam em progressão geométrica; a própria sensibilidade em progressão aritmética"
discorda?

четвртак, октобар 6

As disputas medíocres, acadêmicas, quase ainda não me esforçam a palavra.
Meu desafio é cada vez mais solitário e diletante e intransigente; não mais perigoso que o juízo alheio, mas tão mais perigoso quanto mais se escora em mim. Eu sou o meu próprio perigo: inimigo de mim mesmo, indecidível.

уторак, октобар 4

Em mim tudo recomeça, nada , nunca, está feito. Eu me destruo na infinita possibilidade dos meus semelhantes:ela aniquila o sentido deste Eu. Se atinjo, por um instante, o extremo do possível, pouco depois eu fugiria, já estaria alhures, como um rebanho enxotado por um pastor infinito, a carneirada balindo que somos fugiria infinitamente do horror de uma redução do ser à totalidade.
O essencial é o extremo do possível, onde o próprio deus não sabe mais, desespera e mata.

Bataille

понедељак, октобар 3

A SCHOPENHAUER

Um passo atrás
no escuro:
o mundo não me quer
sem muros.

Logo
não quero
nada do mundo.

A massa
do muro
me fortalece.

Amassa
a dor
dos murros.

Que prazer
libertário
não esperar
não querer
não precisar
não temer
não me angustiar...

O resto é nada.

Embainho a espada.

Respiro.

Basta.

F. Rocha

субота, октобар 1

Ando muito eufórica pra pensar, pra escrever, pra sentir. Rio divinamente, detesto o mobral, todos os homens e macacos, e acho a evolução o fim da picada.
Outorgo todos os poderes a mim mesma.
E vou desbravar os rincões do universo cintilante.
E viva!