четвртак, март 30

Areia, lodo, sal e terra
Do patético espetáculo à bravura vivida
O inavegável
imprevisto,
cansado,
morto.



Levanta. Disforme e díspare.incompleto, inconcluso, impotente.Ressurge. Anda de ressaca do mundo pela vida e da vida pelo mundo. Onde é que faz sentido?

Este atordoamento vazio pululante.Entope. Entorpe. Resseca. Como os cigarros ao corpo em uma ação contínua, independente do ato voluntário, muma autonomia cancerosa, ensadecida.O ultimo cigarro e a ultima cerveja e o unico beijo se foram a várias horas. Mas o cigarro resseca-me e a cerveja ressaca-me.
Somente beijos se perdem em sua efemeridade.

Acho que peguei carona para o lado oposto da vida.

среда, март 29

sinto que estou caindo em um buraco fundo fundo fundo
esse buraco é apertado, meu corpo está esprimido
comprimido na minha queda.
esse buraco não tem luz mas também não é escuro
não vejo nada nele, não sei se ele é, ou será, ou já foi?, vazio
ainda estou em queda, não sei do meu destino
não vejo O Buraco, apenas sinto a vertigem que vem dele que vem de mim que fica em mim que não sai de mim que não sai de mim que nao...
não sei por quê tombei, nem sei se foi um tombo
não sei se estou a cair, não sei qual o meu movimento
se realmente existo, além desse buraco inquieto
que cai fundo invisível
O Redemoinho.

недеља, март 26

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inútil dizer-me que as ações têm conseqüências.
É inútil eu saber que as ações usam conseqüências.
É inútil tudo, é inútil tudo, é inútil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.

Não vem com a tarde oportunidade nenhuma.

A.C

среда, март 22

Qual a diferença real entre suicídio e homicídio?

Não tenho nome. Ele não tem nome. Não é possível a ninguém o nome. Não. Também não vemos ninguém neste lugar. Não há nada para se ver aqui não. Triturado, o cigarro acesso era uma luz. Não tem luz. O cigarro acesso era chama e fumaça. Em você era desejo, alívio, vício, mal, costume.

Dois. Não. Único. Tudo. Exceção.

Na janela, a espreitar o corpo, o desejo, o vício, o mal, o costume e a doença, estava não. Não estava ninguém também naquela mesma noite ainda na janela. Ainda não. Foi somente por um acaso que o corpo pediu o escuro do cigarro que não é luz que não quer iluminar. Não foi acaso. Não? Do outro lado o desejo do cigarro não era o mesmo desejo do olhar, da luz, e da sua falta. Não havia cigarro lá. Nem luz. Não havia nada, até então. De um lado cigarro do outro não, eles se olhavam, mas se recusavam a ser vistos.

Essa cena se repetiu uma duas três quatro cinco seis vezes: janela noite luz sua falta cigarro boca fumaça desejo.

Ele te conhece. Não: ele conhece ele você.
Você o quer? Não. Ele te quer? Não: ele quer ele você.
Ele pode? Não. Mas ele não espera, não aguarda; ele avança sobre você, ele olha para você. Ele só sabe ele você. E você? Não.

Uma noite sem você. Sem ele você. Sem dúvida, você já não é você, nem ele, nem ele você. Não. Você ele. Você aparece. Seu corpo já traga o cigarro, já sente o desejo que queima a garganta. Aquele é ele. Não. Aquele é você ele. A janela é desejo, o cigarro é escuridão, a fumaça é noite, a boca é luz.

Dia após dia. Não. Seu encontro é noturno, às escuras, com o cigarro (ora, não seja covarde! com quem?). Noite após noite seu encontro era com ele. Não era. De fato, seu encontro era com você ele. E o dele? Não: com ele você. Com quem afinal? Quando vocês, os dois e seus múltiplos, permitiriam, finalmente, um encontro de todos com ninguém? Não? Essa era a sua pergunta. Não, era a sua angústia. Seria a dele? Não.

Na décima quarta noite, após o primeiro olhar, ele você não suportou mais tanto esperar. Queria seguir, avançar, como ele sempre avançara, sempre. Não: você também deve confessar que passou a ir ao encontro dele. Foi chamado para olhar o corpo, a janela, ele. Mas ele não suportava mais tanta vontade, tanto guardar, não resistia mais a ele você. E mesmo que sentimento semelhante não rondasse sua cabeça, ainda que você quissesse ser somente não, você e você ele, talvez, por quê não?, ainda que seu corpo fosse feito de vício e de olhar, matéria desejo e desgaste, ainda assim, você nada poderia ter feito naquela noite, naquela sua décima quarta e última noite. Sua? Não. Dele? Não.

O vidro estilhaça: agora cacos no chão você irremediável. O disparo acertou seu peito em cheio manchando de sangue o corpo viciado caindo caído não sei aonde segura, não... Você rosna, somos dois animais tão inimigos, sou eu sozinho tudo o que ninguém jamais poderá transpor o corpo profanado pela própria merda puído pela vontade de quem vem e passa antes de chegar em algum lugar morrer morrer morrer é a minha vontade desde que olhei você, ao fim você ele, não ele você, não não não agora ele apenas você miseravelmente morto, não ainda vivo, você não se liga a ele e na sua apocalíptica hora de dor e morte você se despede de tudo quanto é possível oferecendo a sua morte a ele com o brinde de quem bebe o próprio sangue em luto e na ressurreição. Ele morreu. Não. Você. Não. Quem morreu?

"É triste já ter traçado diante dos olhos a daninha esperança de coisa nenhuma", você lia, ou será que lamentava, antecipadamente, sobre o futuro dele?

уторак, март 21

Quero saber

Quero saber se você vem comigo
a não andar e não falar,
quero saber se ao fim alcançaremos
a incomunicação; por fim
ir com alguém a ver o ar puro,
a luz listrada do mar de cada dia
ou um objeto terrestre
e não ter nada que trocar
por fim, não introduzir mercadorias
como o faziam os colonizadores
trocando baralhinhos por silêncio.
Pago eu aqui por teu silêncio.
De acordo, eu te dou o meu
com u te dou o meu
com uma condição: não nos compreender

Pablo Neruda (Últimos Poemas)

недеља, март 19

eu circeando,
ele leviano levando suas frivolidades na bolsa.
o outro não compreendendo porque está de pé.
ela escondendo do nada que é si mesma.
A presença esquiva dança perante a indiferença subjetiva do universo emaranhado,
estruturalmente vazio, conjunturalmente escroto, essencialmente fútil...
posso tecer teorias sobre todos os destinos e,
ainda assim,
ainda é assim
a ânsia humana não passa de um sonho histérico.

четвртак, март 16

Quanto Mais Vela Mais Acesa



Um dia quando eu não menstruar mais
vou ter saudade desse bicho sangrador mensal
que inda sou
que mata os homens de mistério
Vou ter saudade desse lindo aparente impropério
desse império de gerações absorvidas
Desse desperdício de vidas
que me escorre agora mês de maio.
Ensaio:
Nesse dia vou querer a vida
com pressa
menos intervalo entre uma frase e outra
menos res-piração entre um fato e outro
menos intervalos entre um impulso e outro
menos lacunas entre a ação e sua causa
e se Deus não entender, rezarei:
Menos pausa, meu Deus
menos pausa.


Elisa Lucinda
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недеља, март 12

субота, март 11

Não adianta me perguntar. Eu não sei.Os ritos são tão vazios mas fazem bem a alma. Um abraço desencontrado é melhor do que nenhum. Há arranhões por todo meus eus. Eu já não sei mais o que fazer com essa anarquia interior.Há hordas desordeiras que me habitam tornando tudo muito mais difícil e doloroso. Por que? não, não há o menor motivo, ou pelo menos nenhum que seja simples assim, causal e definitivo. Eu tento me jogar na linguagem pra ser alguma coisa, mas encontro silêncios por todos os lados. Jorra então essa angústia, de nada e pra lugar nenhum, de nenhum lugar. E eu fico aqui, assim, posto que não sei.
Perdi de vista ao longe, esta coisa que a gente chama de horizonte.Não consigo escrever com verdade. Me falaram que aquele que conta uma história é o único sobrevivente dela. Por isso não conto histórias, acho. Eu não vou chegar até o final. Estes rastros que deixam são as pistas pra algum dia, alguém contar que numa manhã de novembro nasceu uma menina, e que ela simplesmente não conseguiu entender o porque de tudo isso.

петак, март 10

Seria tão ingênuo pensar que finalmente foi suficiente. Que, ainda que fosse por um mísero segundo, foi o bastante.
Só por um momento.
Mas não.
"Vc não tem amor no coração."

Não importa, não pode escolher.
Não se adapta, não confere, não crê.

Meu apoio é uma prancha bamba num oceano que nunca existiu.


E a vida foram os olhos vermelhos que escondi de todos atrás de
um gracioso sorriso.

уторак, март 7

Pecado Original

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade.

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.

Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.

Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?

Quantos Césares fui!

Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!

Álvaro de Campos

недеља, март 5

Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante; pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa.

Virginia Woolf, in "Orlando".

петак, март 3

Tenho febre.
pontualmente me lembro de tudo.
Não me alcanço.
Meu corpo pesa toda essa realidade. Às 4 da manha... O espelho reflete o ardor dos meus olhos. Me espalho pela poltrona vermelha.
Ainda sinto a naúsea do último cigarro. A tv fala sozinha danças irrepreensíveis. A luz acesa, apagada, acesa, apagada... que diferença faz?
POr que que todo o tédio nunca termina bem?
Por que não fui buscar?
Por que c. buarque faz as vesgas ficarem lindas?
Hoje fui trabalhar e tomei muita chuva. Minha cabeça dói. Comprei livros e renovei o vermelho das unhas.
vi meu eu lírico discordar do eu poético, e o particular des-coincidir com o geral.Sei que não tenho forças, e transtornada, aceito mais um gole do meu próprio veneno.
Não, não é tristeza. Apenas febre e (...).

четвртак, март 2

Quem pisou? Quem passou? Quem riscou? Olhei. Sentei. Risquei. Quem? Alguém?

"... talvez eu também tivesse de escrever a minha história com giz na calçada e me sentar ao lado para ouvir o que as pessoas dizem. Ao menos nos olharíamos um pouco de frente. Mas talvez ninguém prestasse atenção e tudo se apagasse de tanto pisarem em cima."

(Vento Numa Cidade, Italo Calvino)