понедељак, јун 26

"Isso dá uma história?" Mesmo que a intenção da escrita seja clara de boa marca, das melhores, a razão de tudo aquilo era tão sombria traiçoeira perdida que a pergunta não era estranha para tamanha atração. Escrever o que fosse seria aventurar-me a riscar o cimento branco reto frio ao meu lado sob as minhas costas com a tinta negra do abecedário, meio por meio, meio por cima meio por baixo, sem voltar ao começo nem chegar ao fim. Seria voltar-me para ali, emparedado.

Por baixo aquilo foi um grande sono. Quando burlava a vigília minha cabeça sonâmbula andava por mundos nunca dantes vistos. Meu dedo desenhava sob a pele alvos-desejo aonde meus dentes fariam o trabalho bruto de aspirá-los. Meu corpo ainda soluçava ao toque tentado enquanto a mão, essa que pega fecha e segura, fraquejava ao insistir agarrar o ar quente brilhante que circulava do quarto da boca de mim. Primeiro bate bate. Tudo eu ganhava quando tudo eu perdia. Desatei a me rasgar naquela colcha de arames cortantes que corta fino e doloroso quando mais eu me batia e debato gritando ai ai ai mais corta cortantes cortes invisíveis pululantes de tão puros de pele quase sangram não confirmo se sangram sinto que escôo deságuo me liquido mas não sei se há um filete de sangue escorrendo e manchando esse lado da parede. Alguém sabe?

Por cima poderiam ser as estrelas. Cada marquinha letrinha palavra frase solta em verso aspas travessão na parede cortinavam-me constelações superiores cintilantes paralelas às minhas costas ao peito à palma da minha mão alheadas ao meu prazer e inspiradas em me vigiar prender enrolar-me e rasgar-me com essa colcha felpuda de arame farpado. A parede branca tinha já o seu reverso em um buraco negro. Quase-preso, sugado para aquele interior, arrisquei: "A perda seria o melhor preço".

"Qual é o preço para gastar isso?" perguntei, "Isso?? Isso é impagável..." a voz rouca respondeu-me, "Ok, quanto?" reafirmei meu desejo de desperdício, "Não tem preço, já lhe disse meu querido" retomou a resposta, "Filhodaputa não estou perguntando se você teria milhão para pagar isso eu lhe pergunto qual é o gasto disso?", "... ... ..."
Protestei furioso à ignorante pobreza do meu vendedor e tomei de assalto o precioso bem que só pedia o meu gasto maldito. Bandido, ainda temo a cadeia por esse meu ato. Subserviente, adotei a lógica do sistema. Sem saber, já caí na prisão.

Meio por meio aquilo era o outro ausente, fetiche. Assombro do que me escapa gasta e cobra do que me compra pede do que eu dou gasto rubro roubo pago cubro sopro vejo rio sozinho sinto que choro mas não choro daquilo que eu reclamo todavia eu não reclamo. Palavrinha por palavrinha meu redemoinho é aquela rachadura na parede cuja volta traz letrinhas cadentes para marcar por onde eu devo olhar. Ah, aquela parade, aquelas palavras, aquele astro no céu pêlos pele sem sangue sujos gozados amassados um sobre o outro, ah, aquelas palavras flutuando na parede... Mas o que era mesmo que estava escrito por lá? Não consigo recordar tudo direito para fazer essa história correta. Acho que li aquilo torto inclinado sobre o meu tronco. Meio por meio quase em silêncio antes de sonhar perguntei às palavras: "Isso dá uma história?". Não nunca deu. Sempre acaba e nunca para. (Quem me respondeu?)
Enquanto o Mundo gira, eu oscilo cambaleante.

субота, јун 24

todos pertos. E longe demais.
um me sussura pelas costas promessas de um mundo mágico. Onde vc quer chegar?
Nesse lugar não me reconheço. Seduze-me a estranheza;
Ali,
eu sou outra pessoa.
O outro sou eu.
Mais eu do que eu mesmo. Tão mais do eu mesmo que me faz desdobrar.
Ali, eu sou eu mesma, e mais tudo o que quiser.
Seduz-me porque potência.

Um não me conhece, mas pensa que sim.
outro me conhece plenamente, mas ainda não sabe.
-Eu não estou.
Não precisa escolher. Eu não quero cutucar o que eu sinto. Não se faz autópsia do que não nasceu. MAs, se eu não disser nada, como é que eu vou saber?

четвртак, јун 22

A solidão não se encontra, se faz. A solidão se faz sozinha. Eu
a fiz. Porque resolvi que ali eu deveria ficar só, para escrever
livros. Foi assim que aconteceu. Eu estava sozinha nesta casa.Eu me fechei – eu tive medo também, é claro. E depois eu
amei esta casa. Esta se tornou a casa da escrita.

DURAS, Marguerite

петак, јун 16

É como uma imagem que vêm de longe. São duas, lado a lado. Ao lado dela estou eu, eu nunca vi, mas me reconheço. Mas não me lembro de nada disso. Deve ter acontecido longe daqui, ou mais tarde.
Quero que se dane.
Se alguém entender o que eu disser, é porque me expressei mal.
- sim. Só acredito em histórias em que as testemunhas foram degoladas.

среда, јун 14

понедељак, јун 12

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar u~a hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís de Camões

четвртак, јун 8

O TIGRE BRANCO

Uma Clareira
sempre
se abre à
minha passagem.
Um grande ectoplasma.
Os meus estojos carrego comigo,
pra quando me pinto
de vermelho,
e tudo em torno
desfalece.


Sou feliz.



Nada (esqueçamos
o invejoso tempo) me devora.
Repertir-me é
o único elo
com a necessidade
da eloquência.
Mas rápido retorno à
minha solidão extática e inexpugnável.


O verdadeiro rei sou eu.


( Ronald Polito)

уторак, јун 6

aquela dor não é ferida que se mostra, que se cura, que se preocupe; nego a ela o desejo do seu espetáculo. escondo. faço isso. não não não.

não.

recuso a medicina que ansia sedativa tratá-la da mesma forma, sob a mesma ferida, onde a vejo, ali sangrada. dói. e dói, pelas mãos de quem não a fez. e dói. loucamente sangra.

mãos perdidas.

mãos? mãos? de onde as mãos? de quem as mãos?

não concluo minha dor. as maõs não me apresentam uma sentença para acalmá-la, curá-la. mãos?

mãos?!

sempre uma mão para tratá-la. mãos? e cicatriza?

que me é doido de uma dor que não se imagina, que foge ao toque. quem tem a cura? para quê? de quem são as mãos? me fazem a cura? me cura e cura?

e essa cura sobre o não-sangrado? o exame que busca o sangue: sangue? onde sangra? que mãos me sangram? por que me sangra?

olham o meu sangue!! sangue? isso é sangue? não... eu que me esvaio, me diluo, me sangro, mas aonde sangra? ainda sangra? mãos? quem tem a cura?

"sim...", diz-me lá, "o sangue é verdadeiro. é vermelho. é corrido. e eu curo."

digo (com poros já melados): " e esse comprometimento com o inverídico?"; quem me diz, sobre aquela história sobre o nunca visto? sangue? quem o quer? me apresente! o meu sangue vermelho que nunca coagulou, que resiste, que fecha, que sobe à cabeça e não passa, a despeito do meu corpo, do vermelho, que extravia a maldita cicatriz?! ah...! a cicatriz, ela prova, ela condena e me empurra o seu olho suas mãos. o seu sangue? para o sangue. da morte? do sangue?

não carrego marcas, quem me põe marcas? não suporto as dores que pesam. quem me dói? quem me pesa? quem me sangra? e quase sangra, e quase fere, e ainda escorre e machuca, e machuca, e pesa, quase mata, mas não mata, quase mata!, e sangra, já vermelho, quase sangra!; mas não-vermelho, sem a cor, fulminante incolor, facilmente limpo.

me pegam o papel, me passam o papel, me tampam com papel. quem traz o papel?

me escondem a ferida de algo que ainda se faria doer de corte, de sangrar, de acabar invisível, vermelho, morto, melado cerrado fechado selado calado final.

понедељак, јун 5

" e a luxúria única de já não ter esperanças?"
Assim. Viva o colapso da humanidade. Da cultura. Do tempo e do espaço.
O espaço da poesia é o do isolamento e do retraimento. Não o silêncio, mas a interferÊncia surda, que se não se liga pelo bem comum, mas pela crueza de ainda ser algo, cambaleante, inacabado, cafona, mas ainda vivo.
Talvez o único vivente, já sem razão de ser, sem eira nem beira. Porque hoje há que ser cínico, hipócrita ou ingênuo pra acreditar.Três caminhos possíveis, ambos cretinos. O mundo já não comporta mais nenhuma crença que não seja uma cretinice.
Engula o chôro.

Pois, posso ser triste. Mas pior pra os neo-tarzanistas, que são feios e burros e não morrem nunca.

недеља, јун 4