уторак, август 29

петак, август 25

Preciso escrever algo de eminentemente;
uma necessidade que me rasga pelo lado de lá. Não preciso contar-lhe nada. Preciso mesmo e antes inventar uma maneira de você me ouvir.
Ei, presta atenção em mim.
Eu, objeto digno de pesquisa arqueológica e erudita. Mais do que uma antiguidade quantitativa,mais do que um documento de arquivo. Não extraia meu valor do fato de eu ser inserido, mas do fato de representar algo a mais, algo de diverso. Ei,
Vou te contar: da minha cabeça desprende-se elipses negras, e no meu torso, algo tenta aferrar-me enquanto revira, sacode, atira, estripa-me. Jogando.
Já fui de você?
uma vez, agora já não mais.
na verdade tudo procedeu-se de maneira demoníaca. mas você não deve ficar surpreso. Não fica. eu não fico. o mesmo mar e dois sóis. O mesmo sol e muitos horizontes. esse lugar inventado, onde se compartilha apenas o exagero do desencontro, a hipérbole da dessincronia. uma dimensão rarefeita. O foco desta experiência não é mais o instante pontual e inaferrável em fuga ao longo do tempo linear, mas o átimo da decisão autêntica, em que se experimenta não apenas a própria finitude, mas que se projeta além de si no cuidado.Isto não significa que o prazer tenha seu lugar na eternidade.

четвртак, август 17

Os primeiros anos da minha vida suscitaram em mim o gosto pela aventura. Papai me dizia que desde pequeno, eu ainda lembro do que ele dizia, desde pequeno eu brincava de esconde esconde de uma maneira diferente das outras crianças. Meu jogo se particularizava, na atenção que papai me dedicava da janela a brincar, em conflitos invisíveis, inexistentes mesmo para os demais da brincadeira. Em algum lugar, em algum momento da peça de esconder, meu jogo mudava de sentido e ia em direção a uma aventura efusiva e solitária. Nesse fervor quase sempre eu diluia a imagem das outras crianças em nuvens árvores cenário chão deuses armas personagens combatentes de uma guerra carnal.

Papai me dizia isso, como eu ainda lembro escutá-lo me dizer isso, como, como, aquele ar folgado, com o olho direito meio cerrado sobre mim a descobrir me revirar, eu diminuto diante dele e lá, por cima, ele a me visar como quem olha algo pela lente de um microscópio e tenta relatar o que vê em minúcias verbais detalhes que encaixam as palavras para dar o sentido daquela luminosidade vista, papai me encarava assim, como quem estuda um ser minúsculo, em segredo, quase sincero. Penso que papai hoje gostaria de me colocar numa grande mesa com lupas gazes e bisturi ao lado e examinar parte por parte dessa fantasia que me tornei. Será papai?

"Então você saberá de tudo um dia", papai falou.

Será papai?
Um dia. Depois, outro dia.
Bom ser assim.
A felicidade é página em branco.Eu sei. Aliás, eu sei de várias coisas.
Bom ser assim também. Odeio falsa modéstia. Sou sim, assim, desse jeito. Fazer o quê?
Convivo com isso. Quase um fardo. Oh céus.
Doa a quem doer. E se doí em mim? Posso suportar.
Vivo assim tem muito tempo.
Já não posso pedir desculpas por existir. - meu amigo, traz uma cerveja. A dor é grande.
-vai passar?
- se não passa, passa. e se passa, não passa. Quem vai saber?
- quem escreve.
-quem escreve?
Quando a casa está em chamas é inútil querer salvar os movéis.
-como foi de viagem?

уторак, август 15

Um dos problemas do agir é a irreversibilidade. Outro, é o desdobramento da ação. No encontro desses dois nós reside nossa falibilidade: o erro. Como lidar com o próprio erro? Com o dos outros?
Olhar no espelho é muito difícil nestes dias.

понедељак, август 7

O som, a tv, o pc. Na mesa um livro cheio de margens. O caderno amarelo. A gaia ciência. Reflexões sobre a destruição da experiência e a origem da história. Uma mensagem que nunca chega. Bossa nova. Um cigarro aceso. Clarice lispector. marcadores coloridos. Exercício de francês.a paráfrase: o ponto,linha e superfície. A negação da negação. Agora jazz. Na cabeça deveria estar Kant, Aristóteles, Heidegger, Hegel. Mas o pensamento escorrega.Sempre detestei domingos. Estou com raiva, constato; meus olhos deslizam. Se foque, Aline. Se foque. Mas a poesia me surge como oração, de-cór, intensa, plena, lúcida. Vêm de rompante, a dizer que mereço tomar uma cerveja, preciso beber alguma coisa rapidamente. Suas linhas ainda não corpóreas. Elas surgem e as leio no ainda não escrito:" Estou cansado, é claro,/Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. / De que estou cansado, não sei: / De nada me serviria sabê-lo,/ Pois o cansaço fica na mesma. / A ferida dói como dói / E não em função da causa que a produziu. / Sim, estou cansado, / E um pouco sorridente / De o cansaço ser só isto — / Uma vontade de sono no corpo, / Um desejo de não pensar na alma, /E por cima de tudo uma transparência lúcida /Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo. / Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, / E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá, / Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa." Ainda toca jazz. Anda, tenho que estudar. ainda há um bar aberto? há de ter. há de ter.

петак, август 4

Ao longo de vários dias
reparou na flor matizada nascida na areia que escorreu entre seus dedos.
Não podia desviar-se.
-Oh se me lembro e quanto. E se não me lembrasse?
Aquela tristeza metafísica era fruto de uma falha de caráter. Era fácil olhar e estar certo. fácil olhar e prever. De resto, cabia apenas a resignação de quem olha as montanhas e sabe que nunca verá o mar.
- poucas vezes é tão doloroso dizer "eu já sabia".
- eu vivi uma história não documental. Sou devedor do meu passado.
- o mais difícil é saber que não tem fim. ou ainda por fim. é muito difícil ter misericórdia.
- não posso te contar porque qualquer redução seria insuportável. senão...
- se não?
- o que?
- a vida toda espero despreender um minuto.
São guerras mudas, filhas de uma indiferença armada. Qualquer coisa tão presente e íntima que ameaça triturar
uma flor, que resiste.
- E assim vivemos, se ao confronto se chama viver,
unidos pela impossibilidade de desligamento,
acomodados, adversos,
roídos de infernal
curiosidade.