среда, април 27

"A pior das loucuras é, sem dúvida,
pretender ser sensato num mundo de doidos."
Erasmo de Roterdão.

понедељак, април 25

Eu expando, logo sou.
Mas nunca existi, a não ser em alguma história que eu mesmo inventei pra distrair do tédio que me causa a concretude, tão grosseira e cansativa.
Por que é tão provisório este ser de parte alguma, este não-lugar, esta estrada...
Não tenho casa e me lanço.Enlaço.
Eterna fixação nas possibilidades infinitas que se abrem a um horizonte vazio e azul.
Sem amargura.
Sei que ser partido é ter que partir sempre rumo a vastidão inalcançável.
Este mundo entremundos...sem limites, sem finalidade.
Esta margem do meio...
Esta ânsia que é azia e gozo.
Este maremoto que causo todos os dias em um copo d’água.
Este teu sorriso quase velado, teu silêncio, teus olhos e suas mãos...Não, não é paixão. È mais um repousar ardente, efêmero, no inefável.
_ não faz sentido. Eu sei.

уторак, април 19

Dois caminhos eternamente paralelos. Reconhecimento e desconhecimento. clareza e obscuridade. cebtro e margem. legitimo e bastardo. Em casa e expatriado. trajeto interminável, intraduzível. Vontade de não estar em nenhum lugar. Furiosa amolação isso de ver a vida com essa pertubadora nitidez. Ha quem importa...Nos transformamos em alguem imprevisto, e tudo fica para trás. Por fim, ha sempre um novo povo, um outro corpo, outro outro qualquer, sedento de prazeres, pura e simplesmente bárbaro, disposto a desfrutar dos despojos dos vencidos, a rir-se, a rir de si.
Desnecessária catastrofe indecídivel. A vida toda cheia do que não existe. Muito mais importante do que o que existe, o que existe nao importa, eu ja tenho. Mistura indestrinçável, onde reúno e fundo, eu e minhas voliçoes confusas, ambuiguas. tudo é instavel e suspenso.
Até entao, pelo menos.
Diante de,
Vou ao Rio. Vou ao Rio.

петак, април 15

Oriente

Se oriente, rapaz
Pela constelação do Cruzeiro do Sul
Se oriente, rapaz
Pela constatação de que a aranha
Vive do que tece
Vê se não se esquece
Pela simples razão de que tudo merece
Consideração
Considere, rapaz
A possibilidade de ir pro Japão
Num cargueiro do Lloyd,
lavando o porão
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação
Determine, rapaz
Onde vai ser seu curso de pós-graduação
Se oriente, rapaz
Pela rotação da Terra em torno do sol
Sorridente, rapaz
Pela continuidade do sonho de Adão.

(Gilberto Gil)

уторак, април 12

Confissão
Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olho
sembaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro – vinha azul e doido –
que se esfacelou na asa do avião.

CDA

недеља, април 10

Qualquer pessoa com alguma inteligencia sabe que está a levar uma estúpida, qualquer que seja ela. Nada há de especial nisso. Simplesmente não há outra forma de vida, se se tem consciência dela.
Submerso na inconsciência, bestialmente, talvez fosse possível sorver o vivido. O resto, excremento intelectual, não é mais do que uma superficialidade, essa claridade esverdeada, precipício transparente.Nisso, vivemos.

субота, април 9

“No merídio da linguagem, o espírito apaixonado estava preso na metáfora: poeta sem relação com o mundo a não ser pelo estilo de impropriedade.”
Jacques Derrida

четвртак, април 7

Boas Novas
Poetas e loucos aos poucos
Cantores do confins
E mágicos das frases
Endiabradas sem mel
Trago boas novas
Bobagens num papel
Balões incendiados
Coisas que caem do céu
Sem mais nem por que
Queria um dia no mundo
Poder te mostrar o meu
Talento pra loucura
Procurar dores no peito
Eu sei que sou perfeito
Pra fazer discursos longos
Fazer discursos longos
Sobre o que não fazer
Que é que eu vou fazer?
Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Criei milhares de metáforas
E nada lhe falei
Das tripas coração
Do medo
Minha oração
Agarrei com Deus a cada hora da partida
Na hora da partida
Tiros de vamos pra vida
Então vamos pra vida
Senhoras e senhores
Trago boas novas
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
Eu vi a cara da morte
E ela estava viva
(Cazuza)

среда, април 6

Espalhava mar em mãos, em pés e em olhos. Vislumbrava persistentemente a ilha. Mesmo exausto vislumbrava-a. Afogaria-se ao sonho da ilha ou a alcançaria? Não importava mais, pois nem mesmo ilha tinha certeza ser a ilha. Ilusão naufraga, utopia, paraíso ou só mais uma ilha, pouco lhe importava o que a ilha realmente seja. Sua sobrevivência depende da ilha, da busca pela ilha. Sem esta busca não seria mais naufrago, não mais um sobrevivente, perderia sua identidade, acabaria-se. Uma vez chegando a ilha, nunca mais o naufrago retornaria ao mar. Não haveriam mais barcos a o ajudar em sua travessia, nem barcos a salvá-lo, nem mesmo os barcos que ao seu lado navegavam atentos. E caso cedessem os braços as correntezas e a maré seria ele aportado a ilha? Poderia então esta ser deserta? Poderiam habitar pessoas hostis? Não saberia dizer, a ilha é sempre distante. Incerta. Mas nem ao menos sabemos se a ilha existe. E se existir seria uma acolhida ou uma expulsão? São tantas as possibilidades que o naufrago nunca esteve sozinho. Por fim cansou-se sem estafa deixando-se levar ao fundo do mar. Então calmamente levantou-se e caminhou sobre as águas. Não havia ele imaginado que as águas poderiam ser rasas.

уторак, април 5

Entre perdas e esquecimentos, contabilizo:
_ 3 queridos
_ meu caderno
_ pasta
_carteira
_talao de cheque/cartão de banco
_ uns 60$
_chave de casa
_ porta níquel
_sombrinha
... em casa, som, livros, cigarrro,TV, leve embriaguês, alguma angústia, alguma insônia...clichês:
Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não mora mais em mim
Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será que você está
Agora?

недеља, април 3


Lépida e leve
Gilka Machado


Lépida e leve

em teu labor que, de expressões à míngua,
O verso não descreve...
Lépida e leve,
guardas, ó língua, em seu labor,
gostos de afagos de sabor.

És tão mansa e macia,
que teu nome a ti mesmo acaricia,
que teu nome por ti roça,
flexuosamente,como rítmica serpente,
e se faz menos rudo,
o vocábulo, ao teu contacto de veludo.

Dominadora do desejo humano,
estatuária da palavra,
ódio, paixão, mentira, desengano,
por ti que incêndio no Universo lavra!...
És o réptil que voa,
o divino pecado
que as asas musicais, às vezes, solta, à toa,
e que a Terra povoa e despovoa
,quando é de seu agrado.

Sol dos ouvidos, sabiá do tato,
ó língua-idéia, ó língua-sensação,
em que olvido insensato,
em que tolo recato,
te hão deixado o louvor, a exaltação!

— Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!
— Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!
Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de alucinação,
és o elástico da alma... Ó minha loucalíngua,
do meu Amor penetra a boca,
passa-lhe em todo senso tua mão,
enche-o de mim, deixa-me oca...
— Tenho certeza, minha louca,
de lhe dar a morder em ti meu coração!

...Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me veste quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
Língua que me cativas, que me enleiasos surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...

Língua-lâmina, língua-labareda,
língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...
Força inféria e divina
faz com que o bem e o mal resumas,
língua-cáustica, língua-cocaína,
língua de mel, língua de plumas?

...Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à idéia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...