среда, октобар 20

poucos são os dias de prazer e trabalhos. mas hoje fui obrigado a fazer um conto para a fae... (me senti melhor do que fosse ator de filme pornô)



Sua mãe o havia recomendado manter distância dos outros, pois os outros são imprevisíveis, podem nos fazer perder o rumo ou o prumo quando nos encontramos estáticos. Por aqueles dias, portanto, esperava não precisar fazer amigos, preferindo a companhia das recém plantadas palmeiras (reais?). As árvores são realmente mais necessárias aos homens que eles próprios, pensava. Elas nos permitem reflexão acritica, ao menos, até aquele instante, nenhuma árvore que ele havia conhecido o fizera mudar de opinião ou refletir para além de suas raízes.
O ambiente asséptico de longos corredores brancos, as janelas acima da linha da visão, o aquário onde via os outros lancharem, tudo perfeitamente planejado para se concentrar nas aulas e somente nelas, seu objetivo. Já no primeiro dia havia entendido a genialidade dos projetistas, a gloria da educação, a grandeza dos anos da humanidade. Realmente convenceu-se que não era inútil a história, a tradição ou as futuras leituras sobre o que é ser educador e educado. Toda aquela soberba só poderia ser fruto de grandes mentes, atentas ao conhecimento, fixas no iluminar os pobres sem-luz (a-lunos). Estava realmente satisfeito em seu ensimesmamento.
Não fossem seus hormônios continuaria sua fantástica catarse rumo a alma do conhecimento, mas, eis que inquietantemente surge ela. Não mais havia graça em observar as pessoas comendo no aquário, não mais se detinha em sonhar com o dia que as catracas só abririam depois de se passar um cartão onde não haveriam nomes, só números. Deu-se conta que era ele provido de um corpo e como tal não podia se isentar das paixões (ou tesões). Revolucionário dia em que lhe apareceu ela.
Prudentemente observou sua musa, dissecando seu corpo, acompanhando suas mãos, sugando-lhe o cheiro e principalmente estava atento a seu intelecto. Certo dia em meio acalorada discussão ouviu proferido pelos mais carnudos lábios possíveis (os dela) o nome Piaget. Bastou-lhe para ler qualquer pé de página que pudesse conter o mesmo nome. Livros, mais livros, mais livros. Conquistaria-a pelo conhecimento.
Ao fim parecia pronto para confrontá-la e declarar com toda altivez seu amor. Todo problema estava em como abordá-la, pessoas de sua estirpe estavam acostumadas a relacionar-se com árvores, que ao máximo aceitam, mudas, o que lhes é imposto. Decidiu por esperar o momento propicio em meio às aulas, o que não tardou a acontecer. Novamente Piaget foi proferido, mas, desta vez, pela boca da mestra, o que lhe dava no mesmo, pois o que desejava era se mostrar. E se mostrou... Dominava cada virgula já escrita sobre Piaget, cada virgula escrita por Piaget... Assim pensava. Ao término de sua exposição vertiginosa escutou: - Meio confuso, não? Pareciam ter-lhe arrancado o rosto, deixado-o nu.
Mas, eis que no eterno momento entre a fracasso e o choro, surge outra “ela”, diria que nunca vista por ele até o momento, defendendo-o, explicando por A + B que era plausível seu discurso. E ela, sua defensora, parecia ter razão. Parecia tanto que misteriosamente ele conseguiu forças para juntar-se a ela e convencer mais um ou dois de sua turma, incluindo a educadora. Era a glória. O ápice. Sentia que ambos, juntos, era imbatíveis. Melhor que isto, sentia que a “outra ela” multiplicava-o.
Ao saírem da sala ainda salientavam acalorados sobre Piaget, que a esta altura já se havia transformado no mundo. Conversaram muito, até os pés doerem. Como não havia sequer um banco, nem caixote, nem pedra, nem nada do gênero em todo o complexo, exceto no aquário. Foi para lá que a “outra ela” o convidou. Por capricho do destino ele não tinha um tostão furado, por vergonha recusou sorrindo.
A primeira ela não foi mais lembrada e a segunda só com os olhos foi tocada. E Piaget? Bem... Piaget foi só conversa fiada.

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