субота, октобар 30

Mundo grande


Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)


Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma, não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos – voltarão?



CDA


Ainda que mal

Ainda que mal pergunte,
ainda que mal respondas;
ainda que mal te entendas,
ainda que mal repitas;
ainda que mal insista,
ainda que mal desculpes;
ainda que mal me exprima,
ainda que mal me julgues;
ainda que mal me mostre,
ainda que mal me vejas;
ainda que mal te encare,
ainda que mal te furtes;
ainda que mal te siga,
ainda que mal te voltes;
ainda que mal te ame,
ainda que mal o saibas;
ainda que mal te agarre,
ainda que mal te mates;
ainda, assim, pergunto:
me amas?
E me queimando em teu seio,
me salvo e me dano...
... de amor.

CDA
Em uma quinta feira, lutando num bar, resignada, contra o desencanto e o alcoolismo, percebo, nuvem nos olhos, a frieza e a doçura do outro. Fui torpe, magoei e fiz sofrer. E no entanto, apenas vivi. Paralisada, no escuro, apenas escuto o tricotar de fios que me enrolam até o quase-sufocar. Já não faz mais diferença escolher. A festa acabou.
Parece que perdi a cena em que poderia ter feito tudo ser nada. Atendo caprichos. Tenho preguiça.
Só quero voltar a dormir.
de surpresa, hoje não trabalhas. talvez uma caipirinha. e talvez teatro.

talvez camões, já que é portugal. já que é camões. lusíadas, talvez, representado. não, melhor, reinventado. mágica, sim, e então agora somos camelos. e mulheres. e árabes. e deuses. e luz, navio, pronto, terra. e letra. tudo é mar.

talvez camões vai amanhã para o brasil, digo, a mulher, brasília.

tanto mar, amar.

четвртак, октобар 28

e então, caros brasileiros! (diz da portuguesa ao lado, vos apresento, emília)

vamos por enumeração:

.ora pois, fim de aula, divagações do moço que, como diz o outro, jogou a verdade para fora da caverna. no final, cigarro e café e a constatação de que a vida pode, por tempo indeterminado, se concentrar em viagem.

.e a rapariga me lembra do esteves sem metafísica. convite aos chocolates.

.planos: dormir. quero dizer, sonhar.

.dança é música dos corpos.

.um brinde.

.penso no encontro de poesia no bar dos pescadores. cerveja, skol, faz favor. - rapariga ao lado não compreende mas sei que gostaria. e uma rodinha de samba no fundo (letra de emília mostrando que entendeu tudo.)

.hum. pra já e tudo.

.me despeço com um cigarro apagado nos lábios. - (tabacaria?)

понедељак, октобар 25

Irrita-me a felicidade de todos estes homens que não sabem que são infelizes. A sua vida humana é cheia de tudo quanto constituiria uma série de angústias para uma sensibilidad verdadeira. Mas, como a sua verdadeira vida é vegetativa, o que sofrem passa por eles sem lhes tocar na alma, e vivem uma vida que se pode comparar somente a de um homem com dor de dentes que houvesse recebido uma fortuna - a forma autêntica de estar vivendo sem dar por isso, o maior dom que os deuses concedem , por que é o dom de lhes ser semelhante, superior como eles (ainda que de outro modo) à alegria e à dor.

Por isso, contudo, os amo a todos. Meus queridos vegetais!
Domingos e suas estranhesas. Comprar cigarros e jornal. Ver a cidade. As pessoas. Monumentos.Indiferença. Desejo. Dor. Sadismos mil. Observo as supostas belezas da vida. Percebo, amiúde, que tudo o que chamam belo não é senão uma insensibilidade, ou um orgulho, ou um desespero, ou um parricídio.

недеља, октобар 24

Down em Mim



Eu não sei o que meu corpo abriga
Nessas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, vou te gritar
Te rebocar do bar
E as paredes do meu quarto
Vão assistir comigo a versão nova de uma velha história
E quando o sol vier tocar a minha cara
Com certeza você já foi embora
Eu ando tão down
Eu ando tão down

Outra vez vou me esquecer
Pois nessas horas pega mal sofrer
Eu não sei o que meu corpo abriga

Nessas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down
Outra vez vou te cantar, te gritar
Te rebocar do bar
Da privada eu vou dar com a minha cara
De panaca pintada no espelho
E me lembrar sorrindo que o banheiro
É a igreja de todos os bêbados
Down, eu ando tão down
Down, down, down
Down, down, down

(Cazuza)

субота, октобар 23

"De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando;
...A certeza de que é preciso continuar;
...E a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte,
da procura um encontro!"

Fernando Sabino
"O Encontro Marcado - 1956"

петак, октобар 22

Carol:
uma saudade, urgente, me assalta!
Preciso ver-te ver...
Quero te encontrar on line, e entendo a beleza do inesperado, mas há também muita beleza nos artifícios...
Beijos muitos.
Aline.

четвртак, октобар 21

Disse-me exaltado:
- O bar é a única república possível.
Claro, pensei com desprezo. Mais um idiota que não entende absolutamente nada do que se possa conceituar como república.
- A palavra que vale não necessariamente é a mais convincente.
Continuou o estorvo.
- Mais vale um papo furado entre o tom normal e o exaltado.
Só faltava rimar mesmo.
- E o carisma também é essencial.
Nunca vi mais cara de pau.
- Mas, principalmente o que vale é o conchavo. Um agradinho aqui, um ceder de palco ali, um apoio pra já.
E cadê a república meus Deus?
- Brahma, por favor!
Um breve debate. Dois contra, um a favor, uma abstenção.
Bebemos Skol.


среда, октобар 20

Tudo no tempo, todo o tempo: largatas e borboletas...
Ainda nas esquinas extremamente ásperas, há um sorriso sem
dentes à espera do significado da palavra amor.
da greve

como na maioria dos países ocidentais, o governo corta gastos na educação, afirmando, em contradição absoluta, que é preciso investir em programas sociais. aqui em portugal uma greve estudantil começou em coimbra, escorreu ao porto e se propôs agora em lisboa. como no brasil, dia de manifesto, muitos estudantes entre cartazes na porta, tantos panfletos, outros microfones. cheguei na faculdade e descobri que a única sala do prédio que tinha aula era justamente a que eu deveria estar. resolvi ir para dizer que não iria. e lá cheguei. para minha surpresa alegre, etelvina, nossa professora, tentava com rosto corado e suor nas mãos, explicar aos alunos que eles não deveriam estar ali. Greve, ora, é greve. éramos três ou quatro que distribuíamos argumentos políticos atravessados por pura vontade de nada menos que um mundo mais justo e outros dez ou doze que diziam da ilusão de tudo isso. acabou-se o tempo da aula, uns foram embora porque o ônibus passava naquele horário, outros saíram convencidos de que greve é luxo de uma esquerda burguesa, e outros foram se juntar à maioria grevista. “cada um que tome seu rumo, mas que pensem, absolutamente, qual será o vosso”.

Feito pra mim.
Bom pra você!
Deixa mudar e confundir.
Deixa de lado o que se diz.
Tem no mercado,
é só pedir!
Me faz chorar e é feito pra rir.
poucos são os dias de prazer e trabalhos. mas hoje fui obrigado a fazer um conto para a fae... (me senti melhor do que fosse ator de filme pornô)



Sua mãe o havia recomendado manter distância dos outros, pois os outros são imprevisíveis, podem nos fazer perder o rumo ou o prumo quando nos encontramos estáticos. Por aqueles dias, portanto, esperava não precisar fazer amigos, preferindo a companhia das recém plantadas palmeiras (reais?). As árvores são realmente mais necessárias aos homens que eles próprios, pensava. Elas nos permitem reflexão acritica, ao menos, até aquele instante, nenhuma árvore que ele havia conhecido o fizera mudar de opinião ou refletir para além de suas raízes.
O ambiente asséptico de longos corredores brancos, as janelas acima da linha da visão, o aquário onde via os outros lancharem, tudo perfeitamente planejado para se concentrar nas aulas e somente nelas, seu objetivo. Já no primeiro dia havia entendido a genialidade dos projetistas, a gloria da educação, a grandeza dos anos da humanidade. Realmente convenceu-se que não era inútil a história, a tradição ou as futuras leituras sobre o que é ser educador e educado. Toda aquela soberba só poderia ser fruto de grandes mentes, atentas ao conhecimento, fixas no iluminar os pobres sem-luz (a-lunos). Estava realmente satisfeito em seu ensimesmamento.
Não fossem seus hormônios continuaria sua fantástica catarse rumo a alma do conhecimento, mas, eis que inquietantemente surge ela. Não mais havia graça em observar as pessoas comendo no aquário, não mais se detinha em sonhar com o dia que as catracas só abririam depois de se passar um cartão onde não haveriam nomes, só números. Deu-se conta que era ele provido de um corpo e como tal não podia se isentar das paixões (ou tesões). Revolucionário dia em que lhe apareceu ela.
Prudentemente observou sua musa, dissecando seu corpo, acompanhando suas mãos, sugando-lhe o cheiro e principalmente estava atento a seu intelecto. Certo dia em meio acalorada discussão ouviu proferido pelos mais carnudos lábios possíveis (os dela) o nome Piaget. Bastou-lhe para ler qualquer pé de página que pudesse conter o mesmo nome. Livros, mais livros, mais livros. Conquistaria-a pelo conhecimento.
Ao fim parecia pronto para confrontá-la e declarar com toda altivez seu amor. Todo problema estava em como abordá-la, pessoas de sua estirpe estavam acostumadas a relacionar-se com árvores, que ao máximo aceitam, mudas, o que lhes é imposto. Decidiu por esperar o momento propicio em meio às aulas, o que não tardou a acontecer. Novamente Piaget foi proferido, mas, desta vez, pela boca da mestra, o que lhe dava no mesmo, pois o que desejava era se mostrar. E se mostrou... Dominava cada virgula já escrita sobre Piaget, cada virgula escrita por Piaget... Assim pensava. Ao término de sua exposição vertiginosa escutou: - Meio confuso, não? Pareciam ter-lhe arrancado o rosto, deixado-o nu.
Mas, eis que no eterno momento entre a fracasso e o choro, surge outra “ela”, diria que nunca vista por ele até o momento, defendendo-o, explicando por A + B que era plausível seu discurso. E ela, sua defensora, parecia ter razão. Parecia tanto que misteriosamente ele conseguiu forças para juntar-se a ela e convencer mais um ou dois de sua turma, incluindo a educadora. Era a glória. O ápice. Sentia que ambos, juntos, era imbatíveis. Melhor que isto, sentia que a “outra ela” multiplicava-o.
Ao saírem da sala ainda salientavam acalorados sobre Piaget, que a esta altura já se havia transformado no mundo. Conversaram muito, até os pés doerem. Como não havia sequer um banco, nem caixote, nem pedra, nem nada do gênero em todo o complexo, exceto no aquário. Foi para lá que a “outra ela” o convidou. Por capricho do destino ele não tinha um tostão furado, por vergonha recusou sorrindo.
A primeira ela não foi mais lembrada e a segunda só com os olhos foi tocada. E Piaget? Bem... Piaget foi só conversa fiada.

уторак, октобар 19

Pouco me importa.
Pouco me importa o que? Não sei: pouco me importa.

A. Caeiro
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a ação humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias.

Alberto Caeiro

недеља, октобар 17

Domingo de manha. Verifica-se alguns pontos, cartesianamente.
Por suposto:
- todas as coisas que vejo são falsas.
- não há nenhum sentido.
-Creio que o corpo, a figura, a extensão, o movimento, e o lugar são apenas fixões do meu espírito.
- O que poderá ser considerado verdadeiro...
talvez nenhuma outra coisa a não ser que nada há no mundo de certo.
O artista é o criador de coisas maravilhosas.
Revelar a arte, esconder o artista é a meta da arte.
O crítico é aquele capaz de traduzir para uma outra maneira, ou para um novo material, sua impressão das coisas maravilhosas.
Tanto a forma mais elevada como a forma mais baixa de crítica é um modo de autobiografia.
Os que descobrem significados feios nas coisas maravilhosas são corruptos deselegantes. Isto é um erro.
Os que descobrem significados maravilhosos em coisas maravilhosas são os ilustrados. Para estes, há esperança.
São os eleitos, para quem as coisas maravilhosas significam apenas beleza.
Não existe isto de livros morais ou imorais. Livros são coisas bem escritas ou mal escritas. É só.
A antipatia do século dezenove pelo realismo é a fúria de Caliban vendo seu rosto no espelho.
A antipatia do século dezenove pelo romantismo é a fúria de Caliban não vendo seu rosto no espelho.
A vida moral do homem faz parte do tema do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito.
Nenhum artista deseja provar coisa alguma. Até mesmo as coisas verdadeiras podem ser provadas.
Nenhum artista possui simpatias éticas. Num artista, a simpatia é um maneirismo de estilo, imperdoável.
Não há artista mórbido. O artista pode expressar qualquer coisa.
O pensamento e a língua são, para o artista, instrumentos de uma arte.
O vício e a virtude são, para o artista, matéria de uma arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é a arte do músico. Sob o ponto de vista da sensação, o ofício de ator é o tipo.
Toda arte é, ao mesmo tempo, superfície e símbolo.
Os que descem além da superfície, fazem-no a seu próprio risco.
Os que lêem o símbolo, fazem-no a seu próprio risco.
É o espectador, e não a vida, que a arte, na verdade, espelha.
A diversidade de opinião, a respeito de uma obra, mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos discordam, o artista está em acordo consigo mesmo.
Podemos perdoar um homem por fazer uma coisa útil, desde que ele não a admire. A única desculpa para se fazer uma coisa inútil é que a admiremos com intensidade.
Toda arte é demasiado inútil.

петак, октобар 15

inimigo prolixo
que azar o meu
vois sois tantos
e eu sou só eu!

уторак, октобар 12

Busco-me e não me encontro. Às vezes sou diferente e tenho lágrimas. Não entendo exatamente por que isso me acontece.Os traçados percorridos, bêbados, inutéis, complexos, belos, assombrosos e ousados, entorpecentes;
Tragos aliviam a angústia de existir.
Por que tudo me suga: impressões, sensações, visões...nada parece escapar, ou me deixar transbordar. Contudo, Com absurdamente tudo, são dores; cambaleantes. Sou um misto de boêmio com canalha.
Nas margens de um sorriso duvidoso, o poente belo anuncia, sensibildiade desperta, a impossibilidade breve de um dia de céu azul.

недеља, октобар 10

Sexta-feira à noite
por: Marina Colasanti

Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.


Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.


Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.

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субота, октобар 9

Aparece-se sonhos...
Apetece-me pequenos sons e movimentos inquietos, destacados emigrantes profundos. Há quem tenha sonhos triangulares, outros em mosaico. Há ainda sonhos desmaios, desses que a gente incorpora como um lapso entre o sonhando-acordado e o sonhando-dormindo.Há o sonho tombo que nos levam de uma vida a outra, na diferença do mesmo. Há os circulares, que nos levam a pensar, por um momento, que tudo faz sentido(...) Há Sonhar,e o não sonhar também. Por que sempre haverão aqueles que preferem um dia cinza à um azul úmido colorindo o céu.O sonhar não é dado a todos, e exige um esforço de alma quase doloroso, uma falta de ar, princípio de afogamento, um desassossego qualquer.
Fio externo de afetos,
Eco e abismo, estado íntimo e postiço, prolixo e indefinido. Alado.
(...)
Gozo impressões que não me pertencem.
Preciso de violências súbitas, obscuras, estonteantes, explosivas. É preciso que nada permaneça. A mesmice impregna tudo ...A monotonia do mundo é uma monotonia de mim... o cotidiano tantas vezes me sufoca! A realidade e sua fábrica de verdades achata-me, impunemente.
Faço feitiços todos os dias. PEquenas bolhas de sabão, fractais, tão frágeis, tão poderosas,. Armo-me todos os dias, lápis de cor e acessos de ira, para enfrentar a grande tristeza feita de tédio que mora em mim. Duelo travado ao som do silêncio da minha rotina.
A imaginação contorce-se entre o fingimento e a ingenuidade.

петак, октобар 8

porque hoje o inverno começou a tirar o cheiro de armário dos casacos, porque a chuva começou fininha e se encorpou, porque o vento desesperava tudo, porque o céu de lisboa parece entristecer, acordei miúda e toquei um chorinho.

cartas de amor e encontros inesperados e incrivelmente desejados inspiraram uma primavera oscilante.

um beijinho, bia, obrigada pelo carinho.
outros para você, meu amor, tantos.

четвртак, октобар 7

De "V Internacional" - Vladimir Maiakovsky

( Tradução: Augusto de Campos)

Eu
À poesia
Só permito uma forma:
Concisão
Precisão das fórmulas
Matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
Eu ainda falo versos e não fatos.
Porém,
Se eu falo "A"
Este "A"
E uma trombeta-alarma para a Humanidade
Se eu falo "B"
É uma nova bomba na batalha
Do homem.

недеља, октобар 3

Coração Vagabundo

Meu coração não se cansa
De ter esperança
De um dia ser tudo o que quer
Meu coração de criança
Não é só a lembrança
De um vulto feliz de mulher
Que passou por meu sonho
Sem dizer adeus
E fez dos olhos meus
Um chorar mais sem fim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim
Meu coração vagabundo
Quer guardar o mundo
Em mim

Caetano Veloso

петак, октобар 1

Bem... muito antes de entrar na rede de pegar peixinhos, Serafim, como todo peixinho de sua idade apaixonou-se por uma bela peixinha dourada laranja. Laranja não, aliás, laranja e azul. Aquela combinação de cores parecia hipnotizar Serafim mais do que a alga verde musgo sem gosto. Ele nunca havia visto cores tão diferentes no mesmo peixe, nenhum peixe ou peixinho dali havia visto, ou se lembrava ter visto um peixe com aquelas belas cores. Na verdade os outros peixes e peixinhos pareciam não gostar muito das cores da peixinha, pois cada vez que a viam se moviam para outro canto do aquário. Mas, ao contrário dos demais, não se passaram cinco segundos sequer que Serafim não estivesse a seu lado.
Infelizmente para nosso peixinho ela nem parecia se importar com ele. Só parecia que não se importava, pois tudo se mostrou um grande engano de memórias. A memória da peixinha dava cinco segundos logo quando Serafim chegava a seu lado, então, sem se lembrar que ele estava ali, saía nadando para perto dos demais peixinhos, para no fim ser desprezada novamente. Serafim então, que tinha a memória dois segundos mais atrasada que a da peixinha laranja-azul sempre ficava lá abandonado e apaixonado.
Serafim não se lembrava porque, mas sentia-se deprimido por aquela época. Então, num dia qualquer, depois de ser mais uma vez desprezado pela peixinha laranja-azulado, quis nadar o mais rápido possível. Nadou, nadou e nadou muito rápido, nadou para cima! Ai... Serafim voou... Por pouco tempo é claro,mas voou. Caiu no chão e ficou ali. Pulando de um lado para o outro sem sair muito do lugar. Nadadeiras não são boas no tapete. Sorte dele que eu estava ali do lado olhando e berrei até vir o gigante e ajuda-lo. E se alguém tem alguma dúvida sobre a memória curta dos peixes não precisa ter mais. Cinco segundos depois de ser colocado no aquário, lá estava ele voando para fora da água em direção ao tapete.
Mas isto foi só por um tempo, parecia que Serafim havia esquecido da idéia de voar tão repentinamente quanto a teve. Mesmo assim só andava cabisbaixo, no fundo do aquário, perto das pedras redondinhas. Nem via o mergulhador, nem se interessava nas bolhas, não achava novidade os irmãos, nem brincava de siga o mestre. Se peixe chorasse Serafim choraria, tamanha sua tristeza por ser menosprezado pela peixinha. Mas como peixe não chora, Serafim saiu por todo aquário beijando a água. Beijou tanto que um dia, distraído, beijou uma linda peixinha azul-alaranjada bem na boca. O melhor é que ela também andava distraída beijando a água por aí, triste, triste, por ser desprezada pelos outros peixinhos. Então quando as duas bocas beijoqueiras e tristes se tocaram o cronômetro da memória resetou totalmente. Só se lembravam do beijinho molhado e da cara um do outro. Ficaram assim o dia todo, um olhando para o outro. Não se distraíram nem por cinco segundos.