петак, септембар 16

Ressaca




Venham todas as vozes, todos os ruídos e todos os gritos

venham os silêncios compadecidos e também os silêncios satisfeitos;

venham todas as coisas que não consigo ver na superfície da sociedade dos homens;

venham todas as areias, lodos, fragmentos de rocha

que a sonda recolhe nos oceanos navegáveis;

venham os sermões daqueles que não têm medo do destino das suas palavras

venha a resposta captada por aqueles que dispõem de aparelhos detetores apropriados;

volte tudo ao ponto de partida,

e venham as odes dos poetas,

casem-se os poetas com a respiração do mundo;

venham todos de braço dado na ronda dos pecadores,

que as criaturas se façam criadores

venha tudo o que sinto que é verdade

além do círculo embaciado da vidraça...

Eu estarei de mãos postas, à espera do tesouro que me vem na onda do mar...

A minha principal certeza é o chão em que se amachucam os meus joelhos doloridos,

mas todos os que vierem me encontrarão agitando a minha lanterna de todas as cores

na linha de todas as batalhas.

Osvaldo Alcântara

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